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Corporal
Diálogos: Reich e Gurdjieff
15 de outubro de 2018
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Tanto Gurdjieff quanto Reich concluíram que algo bloqueia o livre movimento e a expressão de energia no organismo. Gurdjieff chama a estes bloqueios de amortecedores e diz, por exemplo, que antes de podermos prosseguir com segurança para as formas mais elevadas de desencadeamento da Segunda Onda Consciente, a transmutação de emoções negativas e a formação de corpos de seres superiores – precisamos, como ele diz, “Destruir a crosta de vícios há muito acumulados” e “corrigir pecados antigos”, o que significa, para ele, a destruição dos amortecedores.

No início de sua carreira, Reich acreditava que a couraça muscular e a neurose tinham sua fonte em uma estase de energia. Mais tarde, determinou que os bloqueios psicológicos ou os mecanismos de defesa estão enraizados biofisicamente em contrações musculares crônicas. Mesclando os conceitos de Reich e Gurdjieff, formamos a seguinte perspectiva: amortecedores são manifestações da couraça muscular crônica. Para destruí-los, como Gurdjieff, e, nos termos de Reich, temos que derreter ou dissolver a couraça muscular.

Gurdjieff diz que a essência é nossa por direito de nascença, mas essa falsa personalidade não é. Reich concluiu que os impulsos e emoções centrais são nossos por direito de nascimento, enquanto a couraça de caráter é “dada” a nós por um mundo que odeia e teme o núcleo (o ser genital). Gurdjieff diz que as emoções negativas e destrutivas não têm centro, não são uma função da essência. Reich aprendeu que tais emoções são uma função da couraça, não do núcleo. Gurdjieff ensina que a falsa personalidade opera com total mecanicidade, que somos inconscientes de sua existência, sua motivação e sua fonte. Reich mostrou, no que diz respeito à couraça, como é formado na infância quando não temos controle ou compreensão do que está acontecendo conosco. No momento em que nos tornamos adultos, a falsa personalidade, a couraça, é completamente habitual ou automática.

Gurdjieff ressalta que o maior obstáculo para começar a trabalhar em si mesmo é nossa incapacidade de perceber como somos mecânicos, uma função para ele dos amortecedores. Reich mostrou por que nos apegamos tenazmente à couraça – ou por que se apega tenazmente a nós – como estamos aterrorizados de perdê-la por causa do medo de liberar a camada secundária da destrutividade, expressando as emoções primárias e experimentando uma rendição completa no orgasmo. Nós, como zumbis, podemos ser tolos ignorantes ou “lesmas” por manter nossos rostos falsos (como diz o neto de Belzebu), mas nossos rostos falsos nos protegem de impulsos poderosos e destrutivos que são assustadores para nós mesmos e para os outros (não podemos esperar que as crianças como o neto entendam a dor, podemos? Essa é a base racional para nosso medo de perder os amortecedores.

Gurdjieff ressalta que, se tentarmos um trabalho superior antes de destruir os amortecedores, evoluiremos, se for algo que não seja uma vida de fantasia, no que ele chama de fundamento errado. O que cristaliza é a crosta – a falsa personalidade – e isso pode levar à cristalização do que ele chama de “Hasnamuss”, caracterizado como uma pessoa que perdeu o contato com sua consciência (isso se compara bem ao que Reich define como “Caráter da Peste Emocional”). Se quisermos evoluir, no sentido de Gurdjieff, parece-me que devemos passar pelo processo de, nos termos de Reich, dissolver a couraça do caráter.