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O Gato e o Português – uma parábola da personalidade
25 de fevereiro de 2018
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O português queria se livrar do gato, que bagunçava a casa toda e dava um trabalho danado. Sábado de tarde, ele levou o gato para passear de carro e soltou o bicho. Um lugar bem distante. Quando chegou em casa, o gato já lá estava, tranquilamente deitado no sofá da sala.

Aumentou a raiva do português. No final de semana seguinte, caprichou na operação: colocou o gato dentro de um saco, colocou na mala do carro e levou-o para um lugar bem mais distante.  Voltou para casa satisfeito sentindo-se vingado das estripulias do gato. Mas… eis que, chegando em casa, lá estava o gato espreguiçado na cozinha. A raiva foi maior ainda e o português passou a semana estudando um esquema infalível para se livrar do gato. Agora, não podia falhar.

No sábado seguinte, colocou novamente o gato dentro de um saco, com as patas amarradas. E viajou para bem longe. Andou pela periferia da cidade, entrou numa favela e rodou pelos becos, entrou em esquinas sem saída e depois de muito rodar, já noite feita, parou o carro e deixou o gato, amarrado e dentro do saco.

Finalmente e definitivamente livre do gato, ele começou a viagem de volta para casa, saboreando um sentimento de vingança executada. Mas perdeu-se nas encruzilhadas da periferia e não encontrava saída para voltar para casa. Rodou feio, noite adentro, até que, horas depois, já no desespero, ligou para a esposa e perguntou: Maria, o gato já chegou em casa?! E ela respondeu: Faz é tempo que ele chegou e está aqui deitado no sofá! E foi então que o português da piada falou: Pois bota esse safado aí no telefone pra ele me ensinar o caminho de volta para casa porque eu estou perdido!

A Personalidade é a gato do português. Ela dá trabalho e bagunça a nossa vida e tantas vezes queremos livrar-nos dela. Mas antes disso, como todo o gato, também a nossa Personalidade foi um animalzinho de estimação. Durante muito tempo cuidamos bem dela e a acostumamos mal deixando que se tornasse a rainha da casa. Ela ficou espaçosa e dominou a nossa vida. Um dia porém, caiu a ficha e começamos a contabilizar o estrago e fizemos contas ao preço que pagamos por causa dela. E aí ficamos com raiva. Quisemos nos livrar da Personalidade e lutamos contra ela. Armamos esquemas para descartar o nosso gato incômodo.

Mas não adianta. O gato sempre chega em casa antes de nós mesmos. Ele é fiel à casa e ao dono e por mais longe que o deixemos, ele sempre volta e volta rápido. Pense num GPS infalível que esse gato tem.

E um dia, finalmente, nos renderemos ao nosso gato, pedindo para que ele nos ensine o caminho de volta para casa, quando nos perdemos nos becos sem saída das periferias do nosso ser.

A Personalidade é o GPS que sabe o caminho de volta para casa. Foi a Personalidade que nos fez sair de casa e nos ensinou a viver na ruas de nossas periferias. Mas também é a Personalidade que pode nos ensinar o caminho de volta para a Pátria Mãe da nossa Essência.

Não se desfaça dela. Não gaste energia lutando contra ela. Cuide bem dela. Você precisa dela!

Um dia você pode ajoelhar e num gesto de gratidão, homenagear a sua Personalidade por serviços prestamos como guarda costas de sua Essência. Ela protegeu você e lhe ensinou habilidades únicas para você sobreviver e dar conta de ser o que é hoje. Faça com ela uma aliança de paz, como aquele rei da parábola do Evangelho que tendo dez mil homens e indo guerrear com outro que vinha contra ele com vinte mil, enviou um mensageiro para fazer um acordo… e passou a ter trinta mil homens a seu favor.

Faça as pazes com o seu gato e descubra uma missão para ele. Acolha a sua Personalidade e integre-a a serviço da sua missão de vida!

A Personalidade nos ensinou habilidades importantes para podermos expressar a nossa Essência, nesta realidade concreta da nossa existência. A nossa Missão vem da Essência, mas é a Personalidade que nos permite vivenciá-la neste chão. E assim, Essência e Personalidade, numa dança harmoniosa, nos permitem encontrar o Sentido da Vida.

A Personalidade é a loucura que inventamos para sobreviver

Não somos a nossa Personalidade. Somos Essência e temos uma Personalidade. Mas esse recurso que temos é importante e faz falta também. Se porventura conseguíssemos eliminar a Personalidade, seríamos pessoas sem paixão, sem vida, indefesos e inadequados para andar sobre este chão. Claudio Naranjo lembra que a Personalidade é a loucura que inventamos para sobreviver. É loucura, sabemos agora, mas uma loucura que foi necessária. A Personalidade é a habilidade que a lei da sobrevivência nos ensinou e que nós treinamos desde a infância até à exaustão… e nisso nos tornamos especialistas.

O Tipo Oito se tornou especialistas em força, em missões difíceis, abrindo caminhos e ousando, porque às vezes, por falta de um grito se perde a boiada.

O Tipo Nove é especialista em diplomacia, conciliação, harmonização, paciência e paz. Sabe viver e deixa viver.

O Tipo Um é especialista em aperfeiçoamento. Olho clínico para perceber o que falta e o que está errado, sabe como melhorar e corrigir.

O Tipo Dois é especialista em catar as necessidades dos outros, termómetro de clima emocional externo, radar sensível e cuidador atento e generoso.

O Tipo Três é especialista em eficiência e estratégia, metas e resultados, imagem e impacto, com visão de futuro e senso de oportunidade.

O Tipo Quatro tornou-se especialista em sensibilidade, inovação e criatividade, capacidade de fazer a diferença e colocar a marca própria em tudo o que faz.

O Tipo Cinco é especialista em observação, compreensão e visão de conjunto, profundidade e neutralidade, objetividade e afastamento emocional.

O Tipo Seis tornou-se especialista em perceber perigos e ameaças, construir cenários e imaginar o que pode acontecer. Tornou-se ícone da prudência e do bom senso, precavido e antenado.

O Tipo Sete acabou se tornando especialista em criatividade rápida, sobretudo nas situações difíceis. Sonho, fantasia, alegria e capacidade de ver e viver o lado bom da vida.

Alguém toparia negociar… perdendo estas habilidades?! Este gato é valioso para cada pessoa. E pode ser muito útil, se for domesticado e colocado a serviço da missão.

Autor: Pe Domingos Cunha, CSH

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