A OMS (Organização Mundial da Saúde) tem emitido alertas sobre dois assuntos muito importantes nos dias atuais: a depressão e o transtorno da ansiedade, como problemas dentro da saúde mental que atingem a população global. Isso é fácil de notar pelo número de pessoas nos consultórios psiquiátricos e psicológicos com problemas para lidar com estes assuntos em seu dia a dia.
O Transtorno da ansiedade é um Fenômeno Social
Começar do topo, porque o transtorno da ansiedade não é um fenômeno individual, é um problema de saúde pública no mundo todo e principalmente no Brasil. Novos dados divulgados por uma pesquisa da Universidade Federal de Pelotas nos apontam que: 26,8% dos brasileiros receberam diagnóstico médico de ansiedade.
Isto significa que numa população de 203.000.000 de pessoas, conforme o censo de 2021, atualmente 56.000.000 receberam um diagnóstico médico de um tipo de transtorno. Considerando que muita gente nem vai ao médico, poderíamos supor que este número chegue com facilidade próximo de 50% da população brasileira na manifestação de transtorno de ansiedade.
Podemos imaginar que isso deveria ser um problema de adultos, preocupados com os boletos do dia a dia ou com filhos, casamentos, trabalho, mas esta mesma pesquisa aponta que um terço (31,6% – 10.000) da população mais jovem, de 18 a 24 anos, é ansiosa principalmente entre as mulheres (34,2%).
Estes dados apontam que precisamos mudar a forma como nossa sociedade está se estruturando, diminuir a pressão e aumentar o prazer e o relaxamento.
Quando falamos sobre ansiedade a nível individual, pessoal, temos que fazer um contraponto e tentar perceber o que é transtorno, adoecimento e o que é a vida normal e comum?
Ansiedade x transtorno da ansiedade
A ansiedade (energia do fazer, atuar, realizar) enquanto energia é importante e necessária na vida. Sem ela, ficaríamos pensando e pensando e nada colocaríamos em prática. Isso me lembra o sujeito que estava deitado na rede e grita para a mãe: A gente tem remédio para veneno de cobra? E a mãe responde: “Não. Você foi picado?” E o sujeito interpela: “Está vindo uma lá no jardim.” Ou seja, nossa capacidade de ação, da ação certa.
Eu considero o transtorno da ansiedade como um alarme de incêndio ou um detector de fumaça. O sofrimento está na camada externa, no topo da sensação. E o motivo não está fora. Ele está dentro de cada um. O problema não é o externo, mas como eu entendo, sinto e ajo dentro de mim.
Se o detector de fumaça ou alarme de incêndio dispara o que devemos fazer? Desligar o alarme ou procurar a origem da fumaça ou do incêndio? É mais fácil, cômodo, desligar o alarme, tirar as suas pilhas, desliga-lo da tomada de energia do que entrar para os porões esquecidos do inconsciente em busca dos motivos individuais que estão fazendo disparar o alarme.
O elástico tem uma função e uma capacidade de elasticidade. Você estica e ele volta ao seu estado natural, agora, o que acontece se eu o esticar e manter esticado por muito tempo? Ou se eu o colocar em um local muito mais frio? Vai alterar suas propriedade e capacidade de funcionamento.
A ideia de que somos capazes de tudo, de que podemos tudo é uma distorção de nossa época. Cada um de nós funciona de uma forma especifica, segundo a sua história pessoal, segundo o funcionamento da sua família original. Quando nos sentimos forçados a funcionar ou a agir de um jeito muito diferente do que somos, acontece aqui um Stress, ou melhor dizendo, um distress. E temos uma capacidade interior, individual de suportar isso. Se passo a funcionar muito além de minha capacidade por um longo período de tempo, começa o transtorno, que pode ir piorando numa escala até o adoecimento severo, crônico.
O transtorno da ansiedade pode começar apenas com pensamentos redundantes sobre um assunto; pode começar com um sentimento de medo ou de fuga; pode começar com sensações físicas nas mais diversas formas. À medida que o medo aumenta e se foge do problema, conflito ou situação, os sintomas tendem a se agravar, como no exemplo do alarme de incêndio, gritando mais alto dentro do organismo e da psiquê.
A Personalidade atuando
Cada pessoa funciona de uma forma diferente das outras, mesmo gêmeos univitelinos vão apresentar sensação, emoção e comportamento distintos. A forma como percebemos a vida desde o ventre de nossa mãe nos molda para o que acontece no dia a dia. Então, no caso da ansiedade também será assim. Pode-se ser mais energético com a vida, tentando resolver os conflitos e as situações sem deixar acumular, mas pode-se ser mais mental e afastando a atitude e a ação e funcionando no planejamento e pensamento. Isto certamente vai afetar como o transtorno da ansiedade pode atingir e a sensação em relação aos acontecimentos. Quanto mais se distancia da ação e da resolução e se aproxima do medo, mais congelamento e mais a ansiedade vai funcionar como um automóvel, onde engata a marcha, acelera e ao mesmo tempo puxa o freio de mão, fazendo com que os pneus girem, mas o carro não saia do lugar. Esta é a imagem do transtorno: uma quantidade enorme de energia produzida e sem destinação.
OLHAR, SENTIR, AGIR
Para sair deste lugar precisa querer olhar para as camadas inferiores da ansiedade e perceber do que temos medo. O que freia a nossa ação? Por que não faço o que desejo?
Olhar
A primeira etapa é olhar para o que estou sentindo e para isto, vamos realizar em dois movimentos oculares:
Ponto fixo
Para realizar este movimento, siga os seguintes passos:
- Sente-se em uma cadeira, poltrona ou qualquer lugar onde os seus pés alcancem o chão.
- Descruze as pernas e coloque os dois pés firmes no solo
- Usando uma caneta, lápis ou o próprio dedão da mão (que pode ser esquerda ou direita), extenda o braço a uma distância de aproximadamente 30 cm do rosto.
- Posicione o objeto entre os dois olhos e mantenha ele firme
- Olhe para o objeto e mantenha o olhar fixo, lembrando de respirar
- Fique nesta posição por aproximadamente 2 minutos.
- Enquanto olha para o objeto, pense sobre o que te aflige.
- Depois de terminar, anote suas sensações, pensamentos e emoções
Lateralização dos olhos
Para realizar este movimento, siga os seguintes passos:
- Sente-se em uma cadeira, poltrona ou qualquer lugar onde os seus pés alcancem o chão.
- Descruze as pernas e coloque os dois pés firmes no solo
- Usando uma caneta, lápis ou o próprio dedão da mão (que pode ser esquerda ou direita), estenda o braço a uma distância de aproximadamente 30 cm do rosto.
- Movimente o objeto para as laterais direita e esquerda da cabeça
- Acompanhe o objeto com os olhos, sem mexer a cabeça, apenas com o movimento ocular, lembrando de respirar
- Continue o movimento por aproximadamente 2 minutos.
- Enquanto olha para o objeto, pense sobre o que tem medo.
- Depois de terminar, anote suas sensações, pensamentos e emoções
SENTIR
Respiração
Com o auxilio de uma bexiga de aniversário vazia siga os seguintes passos:
- Sente-se em uma cadeira, poltrona ou qualquer lugar onde os seus pés alcancem o chão.
- Descruze as pernas e coloque os dois pés firmes no solo
- Encha o seu abdômen (barriga) de ar.
- Sopre a bexiga sem tomar fôlego, até esvaziar bem os pulmões.
- Repita este movimento por aproximadamente 2 minutos.
- Enquanto enche a bexiga, pense sobre o que te aflige.
- Depois de terminar, anote suas sensações, pensamentos e emoções
AGIR
O que pode acontecer enquanto pratica estes movimentos?
Pode não acontecer nada, apenas respirar e movimentar os olhos e isso já é muito, porque vai estar pensando e elaborando as situações. Também, podem emergir sensações, sentimentos, emoções ou pensamentos. Tudo isso pertence a você.
O que fazer com o que emerge?
- permitir a existência da sensação, emoção, sentimento
- expressar o que senso, sinto
- elaborar seja individualmente pensando, conversando com alguém ou num processo de terapia.
REFERÊNCIAS
Navarro, Frederico – Caracteriologia Pós-Reichiana – Summus, 1995