Ao observar a pessoa dentro de seu ambiente natural de vida, no movimento de sua vivência, pode-se perceber muitos mecanismos inconscientes construídos desde momentos muito tenros e que têm motivações e objetivos funcionais dentro deste contexto. Neste artigo, há um olhar mais detalhado no que o Eneagrama chama de “pecado” (neste contexto, a palavra “pecado” é utilizada na forma romana, ou seja, quando se tem a intenção de acertar, mas erra o alvo; em latim, o termo é vertido por peccátu), o vício emocional do Orgulho, do traço do tipo 2. Propondo um diálogo entre a Vegetoterapia de Wilhelm Reich e o Eneagrama.
Contextualizando, o Eneagrama é um conhecimento antigo na humanidade, que propõe o conhecimento das ações, reações e motivações humanas. Além disso, é o que chamamos cotidianamente um mapa psico-espiritual de crescimento pessoal e comunitário. O Eneagrama propõe 9 fixações ou personalidades, que em última análise são formas de defesa para proteger a Essência de sua degradação nas relações humanas. Se desejar saber mais sobre o Eneagrama, siga este link.
Por outro lado, a Vegetoterapia Caracteroanalítica de Wilhelm Reich é uma abordagem da psicologia que vê a pessoa de uma forma holística e funcional, ou seja, não divide, não separa e quer enxergar os congelamentos infantis de forma dinâmica e dentro das relações interpessoais, sempre olhando para o corpo, a psiquê como forma de manifestação da energia fundamental de cada pessoal. Se quiser saber mais sobre Wilhelm Reich e a Psicologia corporal, clique aqui.
As pessoas que possuem o traço do tipo 2 no Eneagrama tem uma tendência a se importar muito mais com os outros e se colocar numa atividade onde busca sempre compensar o esquecimento de si com a ação externa, como mecanismos de cisão ou desconexão. De forma geral, são pessoas que embora tenham uma carga muito grande emocional e passe a viver a vida em função disso, tem dificuldades em entrar em contato com as próprias emoções, dar-lhe nomes e entender o mecanismo do seu funcionamento. Per si já aparece uma ambiguidade na forma em lidar com a vida. Por um lado, uma enorme carga energética no tórax, por outro, uma baixa carga no primeiro segmento, ocular no sentido da autopercepção.
Observando do ponto de vista energético tem-se usualmente uma carga elevada no segmento toráxico tornando-as pessoas com uma ação externa como forma de descarga energética. Então, todo o seu esforço de ação para outras pessoas tão somente é uma tentativa de descarga energética. Conforme veremos à frente esse excesso energético no tórax juntamente com uma certa tensão diafragmática podem produzir episódios de ansiedade, pânico. Que neste caso, tem a ver com a hiperorgonia ou excesso energético concentrado no segmento toráxico.
Acontece que entre o primeiro segmento (ocular) e o quarto segmento (toráxico) tem-se dois segmentos com muitos problemas nas pessoas com as características do tipo 2 do Eneagrama: o segmento Oral e o segmento toráxico. Pode-se afirmar, sem sombras de dúvidas que o segmento cervical tem uma função importante, que ligamos ao sentimento de Orgulho, que neste caso não é uma autoestima insuflada, mas uma resistência à livre circulação energética.
O Orgulho pode ter duas conotações e que muitas vezes podem estar presentes nas pessoas com esse traço de personalidade: Por um lado, autêntico, aquele no qual o sucesso é explicado com base no esforço despendido para determinada conquista, por outro, arrogante envolve explicar o sucesso com base em suas próprias habilidades. Nas coleções das ambiguidades do traço 2 está a sensação de se achar autossuficiente e ao mesmo tempo, sentir-se vazio.
O tórax inflado das pessoas com traço 2 tem a ver com um excesso de inspiração e uma baixa expiração respiratória, como uma dificuldade em alcançar a humildade, que é entrar em contato com a própria realidade, que é olhar a si ao invés de manter os olhos nos outros.
O trabalho da vida de uma pessoa com essas características é flexibilizar e energizar o primeiro segmento, a fim de perceber que lhe falta algo, que não está no outro. Este movimento ocular, que se denomina convergência, quando se olha para o próprio nariz e depois para o ponto a sua frente, produz o efeito psíquico da separação, de sair da simbiose de forma a poder olhar para os próprios desafios. Acontece que este movimento vai provocar um excesso de energização no primeiro segmento uma vez que para essas pessoas é mais difícil permitir o fluxo de energia através da cervical ou do pescoço. Então, é comum aparecer sensações de névoa ocular ou auditiva e seu correspondente psíquico que é a confusão ou dificuldade de saber os próximos passos em relação a si.
Concomitantemente, o trabalho de flexibilização da cervical precisa ser constante para permitir que o fluxo de energia desça. O trabalho no pescoço ou no segmento cervical é um dos mais complexos dentro da vegetoterapia, porque ele possui uma série intrincada de musculaturas estriadas e resistentes. Não foi fácil certamente para essa pessoa manter a cabeça sobre os ombros em sua infância ou liberar os conteúdos orais, como a raiva, a inveja, a injustiça. O grande medo de não ser vista ou amada pode ter contribuído para aumentar a couraça cervical. Este é um segmento em que sempre deve-se voltar no trabalho individual na Vegetoterapia Caracteroanalítica com as pessoas do traço 2 do Eneagrama.
Ao atingir um ponto onde começa a ceder a defesa do Orgulho no segmento cervical, o diafragma pode dar sinais do medo mais profundo. O medo de não existir amor ou o medo de não poder amar e ser amado. Então, o trabalho com essas pessoas acaba tomando um movimento de gangorra, libera-se nos segmentos superiores, depois nos inferiores, depois volta aos superiores e assim por diante.
No trabalho de análise verbal sempre voltando para falar sobre o esquecer de si, o excesso emocional projetado e cheio de expectativas nas relações interpessoais até atingir o medo do amor.
Ao promover o diálogo entre o Eneagrama e a Vegetoterapia Caracteroanalítica não se pretende esgotar ou ter uma solução simplista para o assunto complexo, mas ter uma visão tangencial para auxiliar os processos individuais.