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Encarar o mundo, e, despido e indefeso encarar a terrível insegurança da existência humana é uma situação esmagadora para qualquer um estar. Cada um dos tipos de personalidade tenta esconder de si mesmo a percepção completa da insegurança de sua existência de uma maneira diferente. Cada tipo adota diferentes estratégias para inflar seu ego como uma defesa contra essa solidão e insegurança.

O paradoxo é que não podemos fazer nada além de nos defender da total consciência de nossa existência. Os seres humanos estão ameaçados pelo mistério de sua existência quer afirmem-se com esperança ou recolham-se em desespero. O mais triste é que se cada tipo de personalidade inflar seu ego e forçar suas defesas ao extremo, trará destruição para si mesmo. Muita abertura para a vida pode nos “queimar”, pouca nos destruirá de dentro para fora. Excesso de liberdade é tão assustador como falta total de liberdade.

De qualquer maneira, ansiedade existencial parece ser a resposta apropriada para seres que estão conscientes de sua própria mortalidade. Nós trememos aterrorizados quando percebemos que estamos na verdade parados na beirada do abismo de ser.

Parece só haver uma saída: ter esperança de encontrar um significado para nossas vidas, um significado que nos conecte com algo real além de nós mesmos.

Entretanto, estamos na impossível posição de tentar encontrar um significado para nossas vidas sem sermos capazes de conhecer nossa vida como um todo. Não há maneira de saber com certeza qual é esse significado, sem ser capaz de sair fora desta vida para encontrar seu contexto final.

Porém, sair fora desta vida só pode ocorrer no momento da morte, quando esta vida terá chegado a um fim. Neste momento, nós seremos aniquilados ou descobriremos que ainda existimos. Caso ainda existamos, saberemos se nossa vida teve algum propósito e qual foi ele. Muito do mistério e da tragédia de nossa existência vem devido a não podermos saber com certeza o significado de nossa vida antes desse momento decisivo.

Apesar da razão final de nossa vida ser misteriosa, ela afeta cada momento que vivemos. O que nós acreditamos como sendo o significado da vida influencia nossos valores e cada escolha que fazemos. Considerando essas realidades, nos movemos do psicológico para o metafísico onde o contexto humano terá ou não terá significado.

Pode ser que a existência humana seja “absurda” porque não há um contexto pessoal final, somente uma reciclagem sem fim de matéria e energia em um universo impessoal. Ou pode ser que o contexto final da vida humana seja pessoal, que existe um “Deus” cuja existência é a própria razão para a nossa. Isto é, ou não é, não havendo maneira de sabermos qual é verdadeiro enquanto ainda estamos vivos. Esta é a razão pela qual o significado da vida sempre envolve o conceito de “fé”, quer chamemos assim ou não.

Não podemos viver sem algum tipo de crença. Se não temos fé em “Deus”, precisamos ter fé em alguma outra coisa. Porque não podemos viver sem um significado, sem referência com algo fora de nós mesmos, nós inevitavelmente criamos “ídolos” como substitutos para a fé na transcendência e no significado que ela nos dá.

Claro que o ídolo universal supremo é o orgulho, o ego inflando-se e tentando ser a causa de sua própria existência, tentando achar seu significado com os seus próprios recursos. Cada uma das personalidades descritas no Eneagrama é tentada a usar compulsivamente um tipo particular de orgulho como uma maneira de defender-se das ansiedades envolvidas na sua existência.

  • A tentação do Nove é acreditar que a tranqüilidade é um valor maior;
  • a do Oito é acreditar no seu próprio poder;
  • a do Sete é acreditar que possessões materiais o realizarão;
  • a do Seis é acreditar na segurança proporcionada pelas outras pessoas;
  • a do Cinco é acreditar que o conhecimento é um fim em si mesmo;
  • a do Quatro é acreditar na sua liberdade para fazer o que quiser;
  • a do Três é acreditar na sua própria excelência;
  • a do Dois é acreditar na sua própria importância e,
  • a tentação do Um é acreditar na sua própria retidão.

Apesar de serem tentações características de cada um dos tipos de personalidade, elas são nossas próprias tentações também. Se existe algo para aprender estudando os tipos de personalidade é que, apesar de legitimamente procurarmos pela felicidade através da realização pessoal, nós normalmente procuramos erradamente.

Cada tipo de personalidade cria uma espécie de profecia auto-realizável, trazendo para si aquilo que ele mais teme e, por outro lado, perdendo o que mais quer, na sua busca pela felicidade. Se, quando buscamos a felicidade, nós inflamos nosso ego as custas de valores mais profundos, podemos estar certos de falhar em nossa busca.

Alimentar o ego as custas do que é genuinamente bom é tolice, levando-nos para um emaranhado de bens, falsos bens e ídolos. Cada tipo de personalidade contém em si mesmo a fonte de sua própria decepção a qual, se enfatizada, nos tira invariavelmente da direção da nossa real realização e mais profunda felicidade. Esta é uma lei irrevogável da psicologia humana, da qual nós precisamos nos convencer se quisermos ter coragem para procurar pela felicidade no lugar certo e da maneira certa.

Observando cada um dos tipos de personalidade como um todo, aprendemos o que podemos esperar caso inflemos o ego as custas de outros valores:

  • Forçando os outros a amá-los, os Dois terminam sendo odiados.
  • Engrandecendo-se, os Três acabam sendo rejeitados.
  • Seguindo somente seus sentimentos, os Quatro acabam desperdiçando suas vidas.
  • Impondo suas idéias sobre a realidade, os Cinco terminam desligados da realidade.
  • Sendo muito dependentes dos outros, os Seis terminam sendo abandonados.
  • Vivendo para o prazer, os Sete acabam frustrados e insatisfeitos.
  • Dominando os outros para terem o que querem, os Oito acabam destruindo tudo.
  • Acomodando-se demais, os Nove tornam-se conchas subdesenvolvidas e fragmentadas.
  • Tentando perfeição sem sensibilidade humana, os Um acabam pervertendo a própria sensibilidade.

A saída dessas inexoráveis conclusões é se convencer que apenas transcendendo o ego podemos ter esperança de encontrar felicidade. Como a sabedoria sempre reconheceu, apenas morrendo para nós mesmos é que encontramos a vida.

Assim, uma lição paralela pode ser tirada dessas páginas, uma que chamamos a lei da retribuição psíquica. Nós não devemos esperar punição de Deus pelas nossas más ações. Ao contrário, devido à nossa natureza psíquica, nós trazemos a punição para nós mesmos porque pagamos um preço por cada escolha que fazemos.

O preço que pagamos pode não ser imediatamente aparente, e por essa razão é tão fácil nos enganarmos que não haverá conseqüências para nossas ações. Mas o custo para nós estará sempre no tipo de pessoa que nos tornamos. Pelas nossas escolhas nós nos construímos e moldamos nosso futuro, quer seja de felicidade ou de infelicidade.

Como, então, devemos agir para transcender nosso ego? O que nos motivaria a fazer isso? Como poderemos saber o que nos tornará realmente felizes?

As pessoas sempre procuram o que elas pensam que será melhor para elas, mesmo que errem na escolha. Alguns buscam riqueza, outros, fama, outros, segurança, cada qual desejando possuir aquilo que ele ou ela pensam que trará felicidade. Mas, a não ser que encontremos o que é realmente bom procurando o que realmente precisamos, nós vamos sair na perseguição do que desejamos até sermos distraídos por bens meramente supérfluos. Se as pessoas concentram-se em superficialidades, elas transformam seus objetos de desejo em ídolos que não podem satisfazê-las. Então elas sofrem e não sabem porquê.

O que é estranho é que, em nossa busca da razão da vida, nós estamos na difícil situação de buscar o que é realmente bom para nós, sem um entendimento claro do que é. Cada tipo de personalidade tende a buscar, o que ele pensa que é bom para ele, nos lugares errados, da maneira errada, ou ambos.

  • O Dois pensa que será feliz se for amado (ou adorado) pelos outros,
  • o Três se for admirado pelos outros,
  • o Quatro se ele for totalmente livre para ser ele mesmo,
  • o Cinco se ele tiver certeza intelectual,
  • o Seis se ele tiver absoluta segurança,
  • o Sete se ele possuir tudo que quiser,
  • o Oito se tiver as coisas da sua maneira,
  • o Nove se ele puder “fundir-se” com alguém, e
  • o Um se ele for perfeito.

Todas essas estratégias falham porque elas, apenas aspirações parciais, foram eleitas para principais (únicas verdadeiras) aspirações na vida.

Como, então, pode o Eneagrama nos ajudar a encontrar o que é realmente bom para nós? A resposta é simples: mostrando que, a necessidade genuína de cada tipo de personalidade está na sua direção de integração (que é o sentido oposto de cada seta).

A dificuldade é que, antes de podermos nos mover na direção de integração, precisamos nos transcender (transcender nosso ego). Nós precisamos estar dispostos e sermos capazes de ir além do ego, alcançar algo mais, alguns valores fora de nós mesmos.

Essa autotranscendência é difícil e amedrontante porque envolve entrar em território desconhecido, sentindo, agindo e relacionando-se de maneiras estranhas à nossa personalidade, contrárias aos nossos hábitos de até então, em contraposição às nossas antigas atitudes e identidade, começando a superar as deficiências da nossa infância. De certa maneira é uma espécie de renascimento, tornando-se uma nova pessoa que está aprendendo a deixar as velhas maneiras de ser para trás e “rompendo” em um novo mundo.

Pois é isso que cada tipo de personalidade precisa fazer se quiser algum dia encontrar a felicidade verdadeira.

  • O 2 precisa superar a tendência à autodecepção com a autocompreensão do 4 saudável;
  • o 3, precisa superar a inveja maliciosa dos outros caminhando para a lealdade do 6;
  • o 4, superar a autodestrutiva subjetividade com a objetividade e autodisciplina do 1;
  • o 5, superar sua auto-anulação movendo-se para a coragem do 8;
  • o 6, superar suas suspeitas dos outros movendo-se para a receptividade do 9;
  • o 7, superar sua impulsividade movendo-se para o envolvimento do 5;
  • o 8, superar seu egocentrismo movendo-se para a consideração pelos outros do 2;
  • o 9, superar sua complacência movendo-se para a ambição do 3;
  • o 1, superar sua inflexibilidade movendo-se para a produtividade do 7.

Em resumo, aprender a transcender o ego nada mais é que aprender a amar. Somente o amor tem o poder de nos salvar de nós mesmos. Até aprendermos a amar verdadeiramente a nós mesmos e aos outros não há possibilidade de felicidade duradoura, paz ou libertação (redenção). É por não nos amarmos verdadeiramente que nos perdemos tão facilmente nas diversas ilusões e tentações que o ego nos apresenta.

Apesar de serem complicados e sutis, os tipos de personalidade delineados no Eneagrama são, na verdade, nada mais que reflexos puros da natureza humana. Apesar do seu valor para nos entendermos mais objetivamente, o Eneagrama não nos poderá dar a resposta final sobre nós mesmos, isto é outro assunto. Ele não é mágico e não pode nos transformar em seres humanos perfeitamente realizados.

Porém, ajudando a nos entendermos como realmente somos no “nosso melhor” e no “nosso pior”, o Eneagrama reafirma algumas antigas percepções sobre a natureza humana. Finalmente, ele é apenas uma ferramenta, algo útil até certo ponto e portanto, deve ser deixado de lado em favor do que não pode ser expresso sobre a natureza humana.

Fonte:  Personality Types: Using the Enneagram for Self-Discovery

Elias Minasi