O Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo e o quinto em casos de depressão. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e a depressão afeta 5,8% da população. Pesam nesse cenário, dizem especialistas, fatores socioeconômicos, como pobreza e desemprego, e ambientais, como o estilo de vida em grandes cidades.
O transtorno de ansiedade é um problema de saúde pública que a dona de casa Rosana Sandra Dal Bello, de 56 anos, conhece bem. Moradora de São Paulo, ela começou a ter os primeiros sintomas há 32 anos, alguns dias após o nascimento de sua primeira filha. “Eu tinha aquele bebezinho lindo no meu colo e estava tudo bem. Mas, de repente, passei a sentir um medo e uma agonia gigantescos, que me paralisavam. Não conseguia fazer nada, nem dormir.”
Rosana procurou ajuda médica e após muitas consultas obteve o diagnóstico: transtorno de ansiedade. Depois, ela ainda foi diagnosticada com depressão e síndrome do pânico. “Até acertar a medicação e a dosagem corretas, o sofrimento foi muito grande. Mas, hoje, os transtornos estão controlados.”
O número de diagnósticos em mulheres, diz ele, é maior por uma conjunção de fatores biológicos e culturais. Segundo Brunoni, a gravidez, a menopausa e o próprio ciclo menstrual provocam alterações hormonais que podem levar a manifestação dos sintomas desses transtornos. Elas também têm mais problemas na tireoide – responsável pela produção de hormônios. Já os homens têm uma resistência maior em procurar atendimento médico e também de expressar os sintomas, por isso, há um menor número de diagnósticos.
Ao Estado, o especialista da OMS para saúde mental, Dan Chisholm, indicou que é difícil indicar um fator isolado para explicar a alta taxa de transtornos de ansiedade no Brasil e mesmo de casos de depressão. “Ao contrário de outras doenças, existem muitos fatores que atuam de forma conjunta para criar esse cenário”, explicou.
Em sua avaliação, os principais fatores de risco que podem pesar no caso brasileiro incluem a situação econômica do país, os níveis de pobreza, desigualdade, desemprego e recessão. Além disso, existem fatores ambientais, como o estilo de vida em grandes cidades.
Desafio. Os dados da OMS mostram que o problema é global. São 322 milhões de pessoas com depressão em todo o mundo – 4,4% da população e 18% a mais do que há dez anos. De acordo com a entidade, no Brasil, em 2015, eram 11,5 milhões com a doença e 18,6 milhões com transtorno de ansiedade.
A OMS escolheu a depressão como o tema a ser alvo de campanha internacional. Para a entidade, governos ainda não dão uma atenção suficiente a esse problema de saúde. Na frente do Brasil na lista de países com mais vítimas da depressão estão a Ucrânia (6,3%), seguida da Estônia, dos Estados Unidos e da Austrália (os três com 5,9%).
No panorama mundial, as mulheres são as principais afetadas: 5,1% são depressivas. Entre os homens, a taxa é de 3,6%.
Segundo a OMS, a depressão é a doença que mais contribui com a incapacidade no mundo. Ela é também a principal causa de mortes por suicídio, com cerca de 800 mil casos por ano.
Além da depressão, a entidade indica que, ao redor do mundo, 264 milhões de pessoas sofrem com transtornos de ansiedade, uma média de 3,6%. O número representa uma alta de 15% em comparação a 2005.
Os 15 países com as maiores taxas de depressão:
- Ucrânia (6,3%)
- Austrália (5,9%)
- Estônia (5,9%)
- Estados Unidos (5,9%)
- Brasil (5,8%)
- Portugal (5,7%)
- Grécia (5,7%)
- Lituânia (5,6%)
- Finlândia (5,6%)
- Belarus (5,6%)
- Rússia (5,5%)
- Cuba (5,5%)
- Nova Zelândia (5,4%)
- República da Moldávia (5,4%)
- Barbados (5,4%)
Fonte: *Jamil Chade e Isabela Palhares, O Estado de S. Paulo