No desenvolvimento humano os cuidados maternos são essenciais para a sobrevivência da espécie. A qualidade desse contato também irá influenciar na formação da estrutura de caráter do sujeito. A criança necessita de atenção, afeto, alimento, cuidado, contato físico, disponibilidade, segurança, e outros. A privação (entendida como falha ou falta) dessas necessidades terá impacto em seu caráter.
Na formação de uma estrutura de caráter oral ocorre-se a privação severa de cuidados e afetos maternos nos primeiros 6 meses de vida do bebê. Em relação a formação de traços de oralidade acontece se essa insuficiência ocorrer mais tarde ou de forma amena. A criança que vivencia um sentimento de privação nos primeiros anos de vida terá sua independência, responsabilidade e genitalidade enfraquecidas, uma vez que foi forçada a maturação e isso gerou raízes fracas que não lhe deram base para ficar sustentada. A nutrição foi insuficiente.
Dessa forma, a manifestação comportamental de pessoas com essa estrutura de caráter se dá pelo forte medo de perder o objeto de amor, sentimento de vazio interno, desespero e solidão. Ainda, dificuldades com a independência, necessidade de aceitação e afeto pelos outros, tendência a depressão e elação são peculiaridades desse caráter. Outra característica é a fraca descarga genital, o clímax do orgasmo é frequentemente ausente. Existe nesse caráter o desejo e prazer de falar sobre si mesmo, por isso essa necessidade de expressão verbal desenvolve um elevado grau de inteligência verbal. Ainda, pode existir um apetite intenso por comida que pode ser interpretado como uma tentativa de complemento. O oral parece buscar, de forma infantilizada, aquilo que foi insuficiente no início de sua vida.
Esse caráter, bioenergéticamente, possui um organismo subcarregado. Existe energia para garantir as funções vitais, mas não para carregar o sistema muscular. Dessa forma, as regiões periféricas como cabeça, membros e aparato genital não recebem energia suficiente. A própria estrutura do caráter oral deriva de uma imobilização do impulso agressivo (a agressão nos faz lutar e buscar por nossos desejos). Isso se traduz na mensagem de que a pessoa com essa estrutura de caráter espera que o mundo adulto identifique suas necessidades e as satisfaça sem que ela precise fazer algum movimento para que isso aconteça. A fraqueza das extremidades inferiores prejudica o desenvolvimento da independência e agressividade fundamentais ao funcionamento do adulto maduro.
O processo terapêutico para o paciente visa o desenvolvimento e fortalecimento de raízes que possibilitem o funcionamento integral de uma existência independente. No plano corporal, deve-se trabalhar o fortalecimento das pernas, o contato com o chão e a mobilização de sua agressividade. Um dos objetivos fundamentais na terapia é trabalhar a aceitação progressiva da realidade.
Texto escrito por: Vanessa Shigunov
Referências: LOWEN, A. O Corpo em Terapia: a abordagem bioenergética (tradução de Maria Sílvia Mourão Netto; supervisão da edição de Paulo Eliezer Ferri de barros). São Paulo, Summus, 1977.