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“Como gostaria de ser único e especial”.
Esta frase resume a ferida emocional do Tipo 4, do Eneagrama. Quando criança, por sua experiência de sentir-se abandonado, que pode ser real ou apenas a sua sensação, despertou dentro do indivíduo uma busca profunda para resgatar este amor perdido ou negado, através de tornar-se especial, diferente do que é, e geralmente, ligado à inveja de alguém, que possuía o que deveria ser dele, Tipo 4.
No filme A.I (Inteligência artificial), o robô-garoto (David) entra na vida de sua mãe, Monica, quando esta está arrasada pela doença de seu filho Martin. Uma tentativa do pai Henry de tirar a mãe da dor pela “perda” do filho. Usualmente, o Tipo 4 surge numa família, onde há essa situação em que é necessário uma pessoa sensível, especial que vá canalizar o turbilhão de emoções e sentimentos, que a família esteja atravessando naquele momento. Assim, surge David. Numa promessa de ser amado pela mãe, em substituição ao filho natural. Isso causa sentimentos fortes e únicos de vinculação entre David e a Monica.
Tudo estava maravilhoso, quando o filho natural, Martin, desperta de seu estado de enfermidade e volta para a família. Começa, naturalmente, a predileção da mãe por Martin, deixando David de lado e provocando uma disputa entre os dois filhos pelo amor da mãe.
Já consciente que não era humano, David, ao ouvir o conto de Pinóquio, se depara com a inveja de Martin, que é um menino de verdade e a tendência transcendental, metafísica ou projecional de colocar a sua esperança na promessa da Fada Azul,
que o transformaria num menino de verdade e assim, sua mãe o amaria intensamente e para sempre. Aqui está a grande busca e dor da criança Tipo 4, que seduzida pelo amor da Mãe e depois, sentindo-se abandonada, deseja profundamente tornar-se “real”, tornar-se “de verdade” aos olhos amorosos da figura materna.
Fica patente em toda a relação de David e Martin a inveja que aquele sentia, porque se considerava inferior, já que não era um “menino de verdade”, ou seja, um objeto de amor de sua mãe, Monica. Disputando o afeto de Monica e mostrando que a inveja do Tipo 4 é querer ser como o outro, que possui o ser amado, que o indivíduo 4 tanto deseja para si. Dá esse traço de melancolia na relação de David com o mundo: por mais que busque o amor, ele sempre foge de mim.
Monica, divida entre seus sentimentos, toma a decisão de abandonar David numa floresta. Uma cena cheia de emoções fortes e dolorosas, uma melancolia doce, que lhe é própria. Neste momento o garoto-robô sente-se confuso, porque a promessa da mãe foi que teriam um tempo especial só para os dois, e vê-se traído e abandonado. David sente-
se culpado por não ser “o menino de verdade”, que é o sonho projetado em sua mãe e dali sai numa busca intensa pela Fada Azul, este ser que deve um poder tão grande de me transformar num ser que minha mãe vai amar, que realizaria seu sonho.
Em todo o filme, David é acompanhado pelo brinquedo-robô urso chamado Teddy. Embora seja um auxiliar e uma segurança para David, que durante todo o filme o protege e está ao seu lado, demonstra a tendência desse tipo em “grudar” em alguém, que dá um suporte emocional, dentro do turbulento mundo do tipo 4, onde tantas emoções dolorosas evocam sua separação daquela que ele tanto amava. Neste mesmo sentido, surge o personagem Joe, um robô-gigolô projetado para ser um amante para as mulheres e David gruda em Joe projetando nele as expectativas de encontrar a figura transcendente que tirará toda a sua dor e o tornará apto a ser amado por aqueles que o abandonaram quando criança. Joe, que também evoca a questão do amor sexual demonstra a luta e o conflito do Tipo 4 com sua sexualidade sempre divida em procurar satisfazer aquela que sempre o abandona, sua mãe.
Ao final de sua saga, cheia de aventura, dores e melancolia, David se depara com o seu criador. Um cientista que projetou toda a sua dor da perda do filho em robôs-meninos, que, por sua vez, nunca abandonariam seus pais e os amariam pela eternidade. Novamente, a dor de David vem à tona: eu não sou único, sou só mais um e, assim sendo, é melhor nem existir. No seu mergulho no mar profundo o robô-menino David encontra uma estátua da Fada Azul e passa a sua eternidade contemplando essa falsa imagem da transcendência, onde ele coloca toda a sua esperança de tornar-se real ao amor daqueles que o abandonaram.
O filme termina realizando o sonho do robô-menino David de tornar-se único e especial para a sua mãe, nem que fosse por um dia apenas e então ele poderia desistir de sua busca tão dolorosa.
A. I – Inteligência Artificial
Direção: Steven Spielberg
Elenco: Haley Joel Osment, Jude Law, Frances O’Connor mais
Gêneros Ficção científica, Aventura, Drama