O Mindfulness se compõe de 7 atitudes básicas, identificadas por Kabat-Zinn: Não julgar, Paciência, Mente de Principiante, Confiança, Não forçar, Aceitação e Ceder. Estas atitudes encontram-se na maioria das tradições religiosas e espirituais e consistem um patrimônio da humanidade. São uma verdadeira medicina para os males da mente e do corpo.
Não julgar:
A atenção plena cultiva-se assumindo a postura de testemunhas imparciais de nossa própria existência. Fazer isso requer que tomemos consciência do constante fluxo de julgamentos e de reações a experiências tanto internas como externas nas que, pelo geral, vemos nós mesmos presos e onde aprendamos a sair delas. Quando começamos a praticar o prestar atenção à atividade de nossa própria mente, é comum que nos surpreenda o fato de nos dar conta de que constantemente geramos julgamentos sobre nossa experiência. A mente categoriza e rotula quase todo o que vemos. Reagimos a todo, o que experimentamos em termos de qual valor achamos que este fato ou esta coisa tem para nós. Algumas coisas, pessoas e acontecimentos são julgados como “bons” porque, por alguma razão, relacionam-se com que nos sintamos bem. Outros são condenados com a mesma celeridade, porque não achamos que tenham demasiada importância. As coisas, pessoas e acontecimentos neutros são quase dessintonizados por completo de nossa consciência. Por regra geral, não lhes concedemos atenção por considerá-los demasiado enfadonhos.
Este costume de categorizar e de julgar nossa experiência limita-nos a reações mecânicas, das que nem sequer nos damos conta e que, com frequência, carecem totalmente de base objetiva. Esses julgamentos têm tendência a dominar nossas mentes e nos dificultam de encontrar a paz em nosso interior. É como se a mente fosse um ioiô, subindo e baixando todo dia pelo barbante de nossas próprias ideias julgadoras. Se temos de achar uma forma mais eficaz de manejar o estresse de nossas vidas, o primeiro que precisaremos é tomar consciência desses julgamentos automáticos para ver através de nossos preconceitos e temores e nos libertar de sya tirania. Ao praticar a atenção plena, é importante reconhecer, quando faça sua aparição, esta qualidade mental julgadora, bem como assumir intencionadamente a postura de testemunha imparcial, recordando a nós mesmos que o único que temos que fazer é observar. Quando nos encontremos com que a mente julga, não devemos fazer com que deixe de fazêlo. Tudo o que precisamos é nos dar conta do que se sucede. Não há nenhuma necessidade de julgar os julgamentos e de complicar ainda mais as coisas.
Como exemplo, imaginemos que nos encontramos vigiando nossa respiração. Em um determinado momento, podemos dar conta de que nossa mente diz coisas como: “Isto é uma chateação”, ou “Isto não funciona”, ou “Não posso fazer isto”. Trata-se de julgamentos. Quando chegam à nossa mente, é da maior importância que os reconheçamos como pensamentos de julgamento e lembremos que a prática implica a suspensão de julgamentos e a mera observação de tudo o que acontece – que inclui nossos próprios pensamentos de julgamento – sem segui-lo ou agir sobre ela de qualquer maneira. Depois, podemos prosseguir com a observação de nossa respiração.
Paciência:
A paciência é uma forma de sabedoria. Isso mostra que entendemos e aceitamos o fato de que, às vezes, as coisas têm que acontecer quando é a vez delas. Uma criança pode tentar ajudar, rompendo o casulo, fazendo com que uma borboleta saia, ainda que, por regra geral, a borboleta não resulte em nada beneficiada pelo esforço. Qualquer adulto sabe que a borboleta só pode sair ao exterior quando lhe chega o momento e que não pode ser acelerado o processo. Da mesma maneira, quando praticamos a atenção plena, cultivamos a paciência para nossa própria mente e nosso próprio corpo. De forma expressa, recordamos que não há necessidade alguma de nos impacientar com nós mesmos por achar que nossa mente passa o tempo todo julgando, ou que estejamos tensos, nervosos ou assustados, ou por ter praticado durante algum tempo sem aparentes resultados positivos. Temos que nos conceder um espaço para ter essas experiências. Por que? Porque de qualquer jeito vamos tê-las! Quando cheguem, constituirão nossa realidade, serão uma parte de nossa vida que se desenvolve nesse momento, de maneira que tratemos a nós mesmos pelo menos tão bem como trataríamos à borboleta. Por que passar de maneira corrida por alguns momentos de nossa vida para chegar a outros?, por que sacrificar o presente por um futuro que não sabemos se será melhor? Após tudo isso, cada um deles constitui nossa vida nesse instante.
Quando praticamos estar assim com nós mesmos, estamos destinados a encontrar que nossa mente possui “uma mente própria”. Uma das atividades favoritas da mente é vagar pelo passado e pelo futuro e perder-se no pensamento. Alguns de seus pensamentos são agradáveis; outros, dolorosos e geradores de intranquilidade. Seja qual for o caso, o mero fato de pensar exerce um forte alerta em nossa consciência. A maioria das vezes, nossos pensamentos atropelam nossa percepção do momento atual e fazem com que percamos nossa conexão com o presente. A paciência pode ser uma qualidade especialmente útil para invocá-la quando a mente está agitada e pode nos ajudar a aceitar o errático desta, recordando que não temos por que ser arrastados por suas viagens. A prática da paciência nos recorda que não temos que encher de atividade e ideias nossos momentos para que estes se enriqueçam. Na verdade, isso nos ajuda a recordar que o que é verdade é precisamente o contrário. Ter paciência consiste singelamente em estar totalmente aberto a cada momento, aceitando em sua plenitude e sabendo que, igual que no caso da borboleta, as coisas se descobrem quando lhes convém.
Mente de principiante:
A riqueza da experiência do momento presente não é mais do a riqueza da própria vida. Com demasiada frequência, permitimos que nossos pensamentos e crenças sobre o que “sabemos” nos impeça de ver as coisas como são. Para ver a riqueza do momento presente, precisamos cultivar ao que vem se denominando “mente de principiante” ou mente disposta a ver tudo como se fosse a primeira vez.
Esta atitude terá importância especial quando pratiquemos as técnicas de meditação formal. Seja qual for a técnica que particularmente empreguemos, seja ela a exploração do corpo ou a meditação sentada do yoga, deveremos adotar a mente do principiante cada vez que pratiquemos, para assim nos ver livres das expectativas baseadas em experiências prévias. Uma mente aberta de “principiante” nos permite ser receptivos ao nosso potencial e nos impede de ficar presos na rotina de nossa própria experiência, que muitas vezes acredita que sabe mais do que sabe. Nenhum momento é igual a outro. A cada um deles é único e possui possibilidades únicas. A mente de principiante recorda-nos esta verdade tão singela.
Podemos tentar o experimento de cultivar nossa mente de principiante em nossa vida diária. A próxima vez que vejamos a alguém com quem estejamos familiarizados, devemos nos perguntemos se vemos a essas pessoas com olhos novos, como assim é, ou se só vemos o reflexo de nossas próprias ideias a respeito delas. Devemos tentar isso com nossos próprios filhos, com nossa esposa, nossos amigos e colegas do trabalho, ou com nosso cão ou gato. Devemos tentar com os problemas quando estes aflorem. Devemos tentar com a natureza quando formos sair ao exterior. Podemos ver o céu, as estrelas, as árvores, a água e as rochas como são nesse preciso momento e com uma mente limpa e ordenada, ou apenas podemos vê-los através do véu de nossas próprias ideias e opiniões?
Confiança:
O desenvolvimento de uma confiança básica em si mesmo e em seus sentimentos constitui uma parte fundamental deste programa. É muito melhor confiar em nossa intuição e em nossa própria autoridade, ainda que possamos cometer alguns “erros” no caminho, do que buscar sempre um guia fora de nós mesmos. Se em algum momento algo não nos parece bem, por que não seguir essa sensação? Por que temos de taxá-la de inútil porque alguma autoridade ou grupo de pessoas pensa de maneira diferente? Esta atitude de confiar em nós mesmos e em nossa sabedoria e bondade básicas é muito importante em todas as facetas da prática da meditação.
Algumas pessoas, que se veem envolvidas na meditação, observam-se tão enganchadas na reputação e autoridade de seus mestres, que não seguem seus próprios sentimentos nem sua intuição. Esta é uma atitude absolutamente oposta ao espírito da meditação, o qual ressalta o fato de que sejamos nós mesmos e que compreendamos o que isto significa. Quem quer que imite ao outro, seja este outro quem for, caminha em direção contrária.
É impossível converter-se em outro. Nossa única esperança reside em ser nós mesmos com mais plenitude. Esta é a razão, em primeiro lugar, para que pratiquemos a meditação. Os mestres, livros e fitas só podem ser guias, pontos indicadores. É de soma importância estar aberto e ser receptivo ao que possamos aprender de outras fontes, ainda que, em rigor, tenhamos que viver nossa própria vida e cada momento desta. Ao praticar a atenção plena, praticamos também a tomada de responsabilidade de ser nós mesmos e de aprender a escutar nosso próprio ser e a ter confiança nele. Quanto mais cultivemos esta confiança, mais fácil nos parecerá confiar em outras pessoas e ver também sua bondade básica.
Não forçar:
Quase todo o que fazemos, fazemos com uma finalidade: conseguir algo ou chegar a algum lugar. No entanto, esta atitude, na meditação, é diferente de qualquer outra atividade humana. Ainda que requeira muito trabalho e um verdadeiro tipo de energia, a verdade é que a meditação consiste em não fazer. Não há outro objetivo para nós sem ser que sejamos nós mesmos. A ironia é que encontra-se no que já o somos. Soa paradoxal e algo estanho. No entanto, este paradoxo e estranheza podem nos indicar o caminho para uma nova forma de ver a nós mesmos, uma forma na qual tentemos menos e sejamos mais, que nos chega expressamente mediante o cultivo da atitude de não nos esforçar.
Por exemplo, se nos sentamos e meditamos, pensamos: “Vou relaxar ou me iluminar ou controlarei minha dor ou vou me converter em uma pessoa melhor”, o que ocorre é que temos introduzido em nossa mente a noção de onde deveríamos estar, vindo com ela a ideia de que não estamos bem nesse momento. “Se me encontrasse mais tranquilo, ou fosse mais inteligente, ou trabalhasse com mais afinco ou mais isto ou aquilo, ou se meu coração funcionasse melhor, ou se meu joelho não doesse, estaria bem, mas, neste momento, não estou”. Essa atitude prejudica o cultivo da atenção plena, o que implica simplesmente prestar atenção ao que acontece. Se estamos tensos, prestemos atenção nessa tensão. Se algo nos dói, devemos sentir o melhor que possamos com nossa dor. Se nos tornamos objeto de nossa própria crítica, observemos a atividade da mente julgadora. Estejamos atentos. Devemos lembrar que só permitimos que estejam presentes qualquer coisa e todas as coisas que experimentemos de uma hora para outra porque já estão aqui.
Aceitação:
A aceitação significa ver as coisas como são no presente. Se temos uma dor de cabeça, devemos aceitar o que temos. Se temos alguns quilos a mais, por que não os aceitar como descrição de nosso corpo nesse momento? Antes ou depois, teremos que adaptar às coisas como são e aceitá-las. Seja acerca de um diagnóstico de câncer, bem como na morte de alguém. Frequentemente, só se atinge a aceitação após ter atravessado períodos de negação muito emotivos, e, a seguir, de raiva. Estas etapas constituem o avanço natural no processo de nos adaptar ao que seja e fazem parte do processo de cura.
No entanto, deixando de lado por um instante as grandes calamidades que, em geral, absorvem tanto tempo no decorrer do nosso dia-a-dia antes da cura, muitas vezes desperdiçamos uma grande quantidade de energia negando o que já é um fato e resistindo a ele. Ao trabalhar assim, o que fazemos basicamente é tentar forçar as situações para que sejam como gostaríamos que fossem, o que só gera mais de tensão e, de fato, impede que se produzam mudanças positivas. Podemos estar tão ocupados negando, forçando e lutando que não nos sobrem energias para sanar e crescer, e que as poucas que nos restem possam ser desvanecidas por nossa falta de consciência e intenção.
Se temos excesso de peso e nosso corpo não nos agrada, de nada serve esperar até que tenhamos o peso que gostaríamos ter para começar a nos agradar com ele e assim que gostemos de nós mesmos. Em determinado momento, e se não queremos nos ver presos em um frustrante círculo vicioso, poderíamos nos dar conta de que é perfeitamente correto gostar do peso que temos nesse momento porque é o único instante em que podemos nos gostar. Recordemos: o agora é o único tempo com que contamos para o que seja. Temos que nos aceitar como somos antes de que possamos mudar. Quando começamos a pensar desta maneira, o fato de perder peso deixa de ter importância. Além disso, torna-se bem mais fácil. Mediante o cultivo intencionado da aceitação, criamos as condições prévias para a cura.
A aceitação não quer dizer que tenhamos que gostar todo, ou que tenhamos que adotar uma postura passiva para tudo e abandonar nossos princípios e valores. Não significa que estejamos satisfeitos com as coisas como elas são, ou que tenhamos resignados a tolerar as coisas como “tenham que ser”. Isso não implica que devamos cessar nossas tentativas de romper com nossos próprios hábitos autodestrutivos, ou desistir de nosso desejo de mudar e crescer, ou tolerar a injustiça, por exemplo, ou evitar em nos envolver em mudar o mundo ao nosso redor porque seja assim e, portanto, careça de esperança. A aceitação, como nós a vemos, quer dizer simplesmente que temos estamos à vontade de ver as coisas como são. Esta atitude prepara o cenário para que, aconteça o que for, possamos agir de forma adequada em nossa vida. Muito provavelmente somos nós mesmos que sabemos o que fazer e temos a convicção interior de agir quando temos uma visão clara do que acontece, em vez de quando a nossa visão é obscurecida pelos julgamentos e desejos autosserviçais da nossa mente ou por causa de seus medos e preconceitos.
Em a prática da meditação, cultivamos a aceitação tomando cada momento como nos chega e estando completos com ele como é. Tentamos não impor nossas ideias sobre o que devemos sentir, pensar ou ver em nossa experiência, mas apenas lembrar de ser receptivos e abertos ao que sentimos, pensamos, ou vemos e aceitamos, porque é aqui e agora. Se mantemos nossa atenção atenta ao presente, podemos estar seguros de uma coisa: de que seja o que tenhamos diante de nós neste momento, isso nos mudará e proporcionará a ocasião de praticar a aceitação com independência do que nos surgirá no momento seguinte. Está muito claro de que há sabedoria no cultivo da aceitação.
Ceder:
Dizem que na Índia existe uma forma muito inteligente de caçar macacos. Segundo contam, os caçadores recortam em um coco um buraco suficientemente grande para que o macaco possa introduzir sua mão. Depois, perfuram dois buracos menores no outro extremo e passam por eles um arame, cujo atam à base de uma árvore. O macaco desce da árvore, introduz sua mão no buraco e agarra a banana que os caçadores introduziram no coco. O buraco foi recortado de forma que a mão aberta do macaco possa passar por ele, ainda que não seu punho fechado. Tudo o que o macaco tem que fazer para se libertar é soltar a banana, ainda que parece que a maioria dos macacos não o faça.
Frequentemente, e apesar de toda nossa inteligência, nossas mentes desempenham comportamentos semelhantes, razão pelo que o cultivo da atitude de ceder ou da falta de apego é fundamental para a prática da atenção plena. Quando começamos a prestar atenção em nossa experiência interior, descobrimos imediatamente que existem certas ideias e sensações que dão a impressão de que a mente quer ser aderir. Se são agradáveis, tentamos prolongá-las, esticá-las e retorná-las continuamente. Existem, de igual modo, muitas ideias, sensações e experiências que tratamos de evitar, ou das que tentamos nos libertar ou nos proteger porque são desagradáveis, dolorosas e porque, de uma ou outra forma, nos dão medo.
Na prática da meditação, nós, de forma deliberada, deixamos de lado a tendência de engrandecer determinados aspectos de nossa experiência e a recusar outros. Em vez disso, o único que fazemos é deixar que nossa experiência seja ela mesma e praticar observando-a em cada momento. Ceder é uma forma de deixar que as coisas sejam como são e de aceitá-las assim. Quando observamos como nossa mente adere e se afasta, vamos nos lembrar de nos desligarmos expressamente desses impulsos, mesmo que seja apenas para ver o que acontece.
Quando nos vemos julgando nossa experiência, deixemos que essas ideias julgadoras se vão. Devemos reconhecê-las e não as perseguir mais. Devemos deixá-las em paz e, ao fazer isso, permitir que se vão. Do mesmo modo, quando nos vêm ideias do passado ou do futuro, que as deixemos em paz. Apenas devemos permanecer alertas. Podemos nos converter em especialistas de nossos próprios apegos, com independência de quais sejam e de suas consequências em nossas vidas, e no que se sente nesses momentos em que, por fim, cedemos, bem como, também, de quais são as consequências disso. O fato de estarmos dispostos a olhar para as formas em que nos apegamos mostra, no fundo, muita experiência no contrário, de uma forma que, quer tenhamos ou não sucesso em nos desfazer, a atenção continua a nos ensinar se estivermos dispostos a olhar. O se soltar ou desatar-se não constitui nenhuma experiência do outro mundo. Fazemos isso todas as noites ao ir dormir. Nos atiramos em uma superfície acolchoada, sem luzes, em um lugar tranquilo e deixamos que nossas mentes e corpos se deixem ir. Se não o fazemos, não poderemos dormir. A maioria de nós experimentamos que a mente muitas vezes não se cala quando nos deitamos. Este é um dos primeiros sinais de um elevado estresse. Em tais casos, podemos nos sentir incapazes de se libertar de certas ideias porque nosso envolvimento com elas é demasiado poderoso. Se nos forçamos a dormir, é pior ainda. Portanto, se podemos dormir, isso significa que já somos especialistas em nos desprender. O que agora nos falta é praticar, aplicando esta habilidade também a situações em que estejamos despertos.
Uma maneira de apreciar a importância das atitudes características de Mindfulness é considerar seus opostos. Imagine uma pessoa que constantemente está julgando, criticando e se queixando, que acha que já sabe tudo, é impaciente, nega a realidade e trata de controlar obsessivamente cada aspecto desta. Quais avanços você acha possível de fazer na aprendizagem de Mindfulness ou de qualquer outra habilidade com estas atitudes?