COVID-19 https://minasi.com.br Alcançando a integralidade através de terapia holística. Transforme sua vida através de aconselhamento personalizado e treinamento motivacional. Fri, 29 May 2020 15:14:08 +0000 pt-BR hourly 1 https://i0.wp.com/minasi.com.br/wp-content/uploads/2024/09/cropped-MeuEuMelhor.png?fit=32%2C32&ssl=1 COVID-19 https://minasi.com.br 32 32 103183256 A ‘arte perdida’ da respiração pode afetar o sono e a resiliência https://minasi.com.br/a-arte-perdida-da-respiracao-pode-afetar-o-sono-e-a-resiliencia/ https://minasi.com.br/a-arte-perdida-da-respiracao-pode-afetar-o-sono-e-a-resiliencia/#respond Fri, 29 May 2020 15:14:08 +0000 https://minasi.com.br/?p=1970 Os seres humanos normalmente respiram cerca de 25.000 respirações por dia – muitas vezes sem pensar duas vezes. Mas a pandemia do COVID-19 colocou um novo foco nas doenças respiratórias e nas respirações que tantas vezes tomamos como garantidas.

O jornalista James Nestor se interessou pelo sistema respiratório anos atrás, depois que seu médico recomendou que ele fizesse uma aula de respiração para ajudar na pneumonia e bronquite recorrente.

Enquanto pesquisava a ciência e a cultura da respiração para seu novo livro, Respiração: A Nova Ciência de uma Arte Perdida, Nestor participou de um estudo em que seu nariz ficou completamente tapado por 10 dias, forçando-o a respirar apenas pela boca. Não foi uma experiência agradável.

“Passei de roncar alguns minutos por noite para, em três dias, roncar quatro horas por noite”, diz ele sobre a respiração forçada na boca. “Eu desenvolvi apneia do sono. Meus níveis de estresse estavam fora dos gráficos. Meu sistema nervoso estava uma bagunça. … eu me senti horrível.”

Respiração
Respiração – a nova ciência de uma arte esquecida

Nestor diz que os pesquisadores com quem conversou recomendam reservar um tempo para “ouvir-se conscientemente e sentir como a respiração está afetando você”. Ele observa que respirações “lentas e baixas” pelo nariz podem ajudar a aliviar o estresse e reduzir a pressão sanguínea.

“É assim que seu corpo quer respirar”, diz Nestor. “Reduz a carga do coração se respirarmos adequadamente e se realmente engatarmos o diafragma”.


Destaques da entrevista

Por que respirar pelo nariz é melhor do que respirar pela boca

O nariz filtra, aquece e trata o ar puro. A maioria de nós sabe disso. Mas muitos de nós não percebemos – pelo menos eu não percebi – como [a inalação pelo nariz] pode desencadear diferentes hormônios a inundar nossos corpos, como pode diminuir nossa pressão arterial … como monitora a freqüência cardíaca … até ajuda a guardar memórias. Portanto, é este órgão incrível que … orquestra inúmeras funções em nosso corpo para nos manter equilibrados.

Sobre como o nariz tem tecido erétil

O nariz está mais intimamente ligado aos nossos órgãos genitais do que qualquer outro órgão. Está coberto no mesmo tecido. Portanto, quando uma área é estimulada, o nariz também é estimulado. Algumas pessoas têm uma conexão muito estreita, onde são estimuladas nas regiões do sul, e começam a espirrar incontrolavelmente. E essa condição é comum o suficiente para que recebesse um nome chamado rinite de lua de mel.

Outra coisa realmente fascinante é que o tecido erétil pulsará por si próprio. Portanto, ele fechará uma narina e permitirá a respiração através da outra narina, então essa outra narina se fechará e permitirá a respiração. Nossos corpos fazem isso por conta própria. …

Muitas pessoas que estudaram isso acreditam que é assim que nosso corpo mantém o equilíbrio, porque quando respiramos pela narina direita, a circulação acelera [e] o corpo fica mais quente, os níveis de cortisol aumentam, a pressão arterial aumenta. Então, respirar pela esquerda nos relaxará mais. Então a pressão sanguínea diminui, diminui a temperatura, esfria o corpo, reduz a ansiedade também. Então nossos corpos estão fazendo isso naturalmente. E quando respiramos pela boca, estamos negando ao corpo a capacidade de fazer isso.

Sobre como a respiração afeta a ansiedade

Conversei com um neuropsicólogo … e ele me explicou que pessoas com ansiedades ou outras condições baseadas no medo normalmente respiram demais. Então, o que acontece quando você respira tanto é que você está constantemente se colocando em um estado de estresse. Então você está estimulando esse lado simpático do sistema nervoso. E a maneira de mudar isso é respirar profundamente. Porque se você pensar bem, se estiver estressado [e pensando] que um tigre virá buscá-lo, [ou] você será atropelado por um carro, [você] respira, respira, respira tanto como você puder. Mas respirando devagar, isso está associado a uma resposta de relaxamento. Assim, o diafragma diminui, você permite que mais ar entre nos pulmões e seu corpo mude imediatamente para um estado relaxado.

Por que a expiração ajuda a relaxar

Porque a expiração é uma resposta parassimpática. Agora, você pode colocar a mão sobre o coração. Se você inspirar muito devagar, sentirá seu coração acelerar. Ao expirar, você deve sentir seu coração desacelerar. A expiração relaxa o corpo. E algo mais acontece quando respiramos profundamente assim. O diafragma diminui quando respiramos, e isso suga um monte de sangue – uma enorme profusão de sangue – na cavidade torácica. Ao expirarmos, esse sangue volta a sair pelo corpo.

Sobre o problema de respirar superficialmente

Você pode pensar em respirar como se estivesse em um barco, certo? Então você pode dar um monte de pancadas curtas e muito curtas e vai chegar aonde quer ir. Vai demorar um pouco, mas você chegará lá. Ou você pode fazer alguns movimentos muito fluidos e longos e chegar lá com muito mais eficiência. … Você quer facilitar o ar para o seu corpo, especialmente se esse é um ato que estamos fazendo 25.000 vezes por dia. Assim, apenas estendendo essas inspirações e expirações, movendo esse diafragma para cima e para baixo um pouco mais, você pode ter um efeito profundo na pressão arterial, no estado mental.

Sobre como os mergulhadores livres expandem sua capacidade pulmonar para prender a respiração por vários minutos

O recorde mundial é de 12 minutos e meio. … Muitos mergulhadores prendem a respiração por oito minutos, sete minutos, o que ainda é incrível para mim. Quando vi isso pela primeira vez, isso foi há vários anos, fui enviado para um trabalho de reportagem para escrever sobre uma competição de mergulho livre. Você vê essa pessoa na superfície respirar uma vez ali e desaparecer completamente no oceano, voltar cinco ou seis minutos depois. … Disseram-nos que o que temos, o que nascemos, é o que teremos pelo resto de nossas vidas, especialmente no que diz respeito aos órgãos. Mas podemos absolutamente afetar nossa capacidade pulmonar. Portanto, alguns desses mergulhadores têm uma capacidade pulmonar de 14 litros, o dobro do tamanho de um homem adulto [típico]. Eles não nasceram assim. …

Publicada no website NPR – Sam Briger e Joel Wolfram produziram e editaram esta entrevista para transmissão. Bridget Bentz, Molly Seavy-Nesper e Deborah Franklin adaptaram-na para a Web.

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O aqui e o agora – notas encarnadas sobre a catástrofe https://minasi.com.br/o-aqui-e-o-agora/ https://minasi.com.br/o-aqui-e-o-agora/#respond Tue, 21 Apr 2020 14:10:37 +0000 https://minasi.com.br/?p=1935 Por Xavier Serrano Hortelano

A realidade pandêmica que estamos experimentando durante estes meses, independente das interpretações, é uma catástrofe internacional que trará consequências gravíssimas, em todos os níveis, como advertem alguns especialistas, que podem ser similares àquelas sofridas por uma guerra mundial.

As crises, tanto pessoais como sociais, assim como em qualquer catástrofe, chegam de surpresa. Por isso, em grande medida, estamos agora vivendo uma espécie de experiência onírica. Muitas das pessoas a quem atendo me dizem: “É como se estivesse em um sonho, ante o qual não consigo reagir”. Nossa percepção agora sofre uma certa alteração da consciência, porque a realidade social e cotidiana é, em grande medida, desconhecida. De modo que sofremos mudanças nos ritmos vitais, alterações no sono, sensações estranhas e uma vivência diferente da passagem do tempo.

É como se estivesse em um sonho, ante o qual não consigo reagir”.

E este sonho não é agradável, se assemelha mais a um pesadelo, onde nos encontramos com a vulnerabilidade e a morte, que são o que costumam acompanhar qualquer catástrofe. As pandemias, diferentes do resto, são catástrofes lentas, onde o estado de alarme, a tendência ao caos e ao pânico, vão mostrando-se e aumentando progressivamente.

Outros especialistas e enfoques psicológicos que também abordam e estudam o fenômeno do medo, como os sistêmicos, os cognitivistas ou os construtivistas, propõem que estas situações estimulam a criatividade, a emergência de valores tais quais a solidariedade e conduzem à busca por soluções. Em minha opinião, esta descrição pode ser atribuída à reação instintiva que é produzida na natureza, em geral, e nos mamíferos, em particular, mas, em muitas ocasiões, não é a que observamos no mamífero humano. No nosso caso, fomos perdendo o contato com o funcionamento instintivo, e somos movidos mais por padrões de conduta social estereotipada, governados pelo predomínio e especialização da razão, do pensamento cortical, devido, fundamentalmente à influência dada sociedade patriarcal na qual temos vivido durante séculos, que tem menosprezado o mundo do instintivo, dos afetos, da ternura, da sexualidade, das relações humanizadas, em pró de alcançar objetivos, da eficácia e da supremacia fálica do poder, o qual se reflete nas relações não saudáveis que se mantém nos ecossistemas essenciais (família e escola), muito distantes daqueles que permitem estabelecer atmosferas ecológicas, próximas do funcionamento natural do Vivo. Portanto, é preciso ter claro que se o medo conduz os mamíferos a uma solução, no ser humano, costuma levá-lo a uma encruzilhada.

Visto que é certo que, a nível conductual e de resposta social estamos longe de produzir respostas instintivas auto organizadas ou autopoiéticas-, segundo a definição de Humberto Maturana-, a nível biológico sim somos capazes de tê-las pois, ainda que, nas pandemias sofridas pelo ser humano ao longo da história muitas pessoas tenham falecido, nossa espécie logrou sobreviver. Podemos compreender melhor tal fato aplicando também a teoria da Ressonância Mórfica de Sheldrake, segundo a qual a espécie humana, como o resto das espécies, acumula o legado das respostas de sobrevivência de séculos, no terreno biológico. Cada vez que surge uma variável molecular, frente a qual a espécie não está acostumada, existe um período de vulnerabilidade onde ocorrem falecimentos, até que chega o período de auto organização imunitária, sem que tenham, necessariamente, existido vacinas ou soluções médicas prévias específicas.

É preciso ter claro que se o medo conduz os mamíferos a uma solução, no ser humano, costuma levá-lo a uma encruzilhada.

Neste sentido, recordo a frase de Daniel Defoe, em seu livro O ano da peste onde, em sua descrição romantizada de uma das pandemias históricas, relata: “A sociedade ficou perplexa quando perceberam que, se repente, sem nenhum medicamento novo, sem nenhuma intervenção diferente, as pessoas não apenas deixavam de morrer, senão que, também recuperavam-se e curavam-se. Nem sequer os médicos o pudessem explicar, porque era um feito Divino. Deus nos castigou e Deus agora nos perdoa”. Como não era possível existir outra explicação possível em meados do século XIX, tanto Defoe como a maioria o atribuíram a uma ação divina. O que é certo, em todas as pandemias, é que elas duram seu tempo. Hoje estamos melhor preparados, não apenas por alguns avanços médicos, como também porque os seres humanos estão melhor imunizados, como espécie, do que há séculos passados. Exceto em tribos isoladas, com pouco contato com a civilização, que são especialmente vulneráveis e poderão desaparecer se não forem tomadas medidas adequadas, coisa que já pode estar ocorrendo em lugares como a Amazônia, com a consequente tragédia e genocídio humano.

Podemos considerar a crise atual como uma catástrofe internacional, com uma base biológica, que durará um tempo e causará mortes. Os falecimentos dependerão, por sua vez, de duas variáveis:

  • A primeira, consequência da mutação biológica, fruto de uma natureza agredida a nível mundial, de uma Gaia maltratada por nossas ações destrutivas, que continuarão a gerar catástrofes geofísicas e biológicas. Talvez por isso o século XXI será o século das catástrofes “naturais”, enquanto o século XX foi o das bélicas.
  • A segunda, pela maior ou menor força biológica e psicossomática de cada pessoa, consequência tanto de sua predisposição congênita, como do distress sofrido ao longo de sua história pessoal, especialmente durante os primeiros anos de vida.
Gaia

Ambas coisas poderiam ser paliadas, erradicando fatores de risco de todo tipo no primeiro caso, e utilizando medidas preventivas nos ecossistemas essenciais (famílias, escolas, organizações…) como as que se plasmam no projeto que denominei em seu momento de Ecologia dos Sistemas Humanos.

Na presente ocasião, não irei valorar as decisões tomadas pelos governos frente à crise, mas sim valorarei as suas consequências. A imobilidade e o confinamento durante meses levará a uma recessão da economia e um sofrimento emocional e infraestrutural muito grande para milhões de pessoas, com consequências não apenas sociais e econômicas, como também psicossomáticas, que irão ocasionar condutas defensivas e patológicas. Nos encontraremos com reações muito distantes do funcionamento instintivo e natural como espécie que descrevi acima, e darão-se respostas baseadas no predomínio das, assim nomeadas por Wilhelm Reich, “pulsões secundárias culturais”, como o egoísmo, o individualismo, o sadismo, etc.

Tais pulsões tomam forma através de nosso Caráter, termo que este mesmo autor descreve como a couraça do ego. Ou seja, a soma de mecanismos de defesa organizados ao longo do nosso processo maturativo, em forma de traços de conduta rígidos, que formam parte de nossa personalidade. Entre eles, observamos traços compulsivos, fálicos, masoquistas ou histéricos.

É preciso aprender a navegar em um oceano de incerteza, através de arquipélagos de certezas”

Desta forma, durante o tempo do confinamento, irão tomando força tais atitudes caracteriais para fazer frente à crise e, no entanto, com o tempo tais atitudes podem ir desmoronando, dando lugar a reações mais profundas, consequência da Estrutura do caráter, ou seja, do padrão de organização essencial de cada pessoa:

  1. Reações impulsivas ou dissociativas, no caso da Estrutura Fronteiriça
  2. Cindidas pelo pânico, ou paranóicas-conspirativas-delirantes, no caso da Estrutura Psicótica
  3. Adaptativas, porém vivendo conflitos pessoais ou relacionais mais ou menos sérios, em função de seu traço de caráter imperante, no caso da Estrutura Neurótica.

O que pode refletir-se concretamente em condutas com rotinas compulsivas, emergências depressivas, vitimistas, de desesperação, evasivas-maníacas, de caos histriônico ou colocar-se como grande líder, salvador da humanidade.

Partido desta avaliação sistêmica e estrutural da situação atual, antes de propor as possíveis medidas de enfrentamento da crise e dos pós crise, devemos assumir que as consequências desta pandemia serão globais e imprevisíveis, a curto e médio prazo. Por isso, conforme escreveu Edgar Morin: “É preciso aprender a navegar em um oceano de incerteza, através de arquipélagos de certezas”. E, para nós, quais são estes arquipélagos? As leis gerais da Ecologia de Sistemas Humanos. Aplicando-as, poderemos navegar de forma mais segura e eficaz.

O ponto de partida que nos permitirá fazê-lo emerge da Teoria da Complexidade, do mencionado filósofo E. Morin, segundo a qual, para conhecer a realidade de um fenômeno, devemos detectar o maior número possível de variáveis que o fazem possível. Por isso, tampouco em esta crise será possível adotar posições baseadas em dar resposta a uma única variável. Como podemos observar em algumas posturas reativas, onde o Governo passa a ser a figura responsável por tudo que acontece; ou a postura de refugiar-se em ideações místicas, com cantos de sereia, pensando que tudo se irá solucionar pela força da natureza e que o ser humano vai mudar a partir de agora e tudo será diferente; nem, tampouco, a de fincar-se no mero pragmatismo mecanicista de pensar que tudo passa por soluções médicas e por uma vacina salvadora. A situação é complexa e, portanto, devemos buscar respostas que considerem as diversas variáveis que estão influindo nesta crise.

Navegar em um oceano de incerteza, através de arquipélagos de certezas

Podemos encontrar uma ajuda necessária para continuar este propósito adotando a posição aconselhada por W. Reich de “observação silenciosa, que nos lembra, por sua vez, um princípio da física quântica, segundo a qual as particularidades do observador passam a ser uma variável mais a ter em conta na observação de qualquer fenômeno que se investigue. Nesta observação silenciosa, como primeiro passo, o próprio observador deve perguntar-se o que está sentindo e como está experimentando o que observa, assim como em que condições se encontra.

Se o aplicamos à situação atual, não tem muito sentido propor alternativas ou resolver os problemas dos demais, se previamente não me detenho, encarando-me e perguntando-me: “Como estou vivendo e sofrendo esta crise terrível?… Que sensações estou experimentando?… Como me sinto durante a noite e durante o dia?… Como estou junto aos outros?… Mais irritado(a), mais deprimido(a), ansioso(a), sonho mais ou menos, durmo ou não?… Como experimento o passar do tempo, a ausência do encontro social?” Nesta auto observação aprenderei e poderei administrar melhor meus recursos.

Um segundo passo será a observação do exterior. Temos que ratar de observar, sem preconceitos, sem categorias nem interpretações. Evitando o que Reich advertia: “receberemos a pressão da interpretação mecanicista das coisas”. Neste caso, por parte daqueles que ficam pendentes na descrição do dano do vírus: as mortes diárias, as medidas a tomar para não contagiar-se, a crise econômica que supõe a pandemia… tudo o que, ao não ser adequadamente contextualizado, aumentará o medo coletivo à pandemia. Evidentemente, esta é uma parte da realidade, porém esquecem-se de dar informação de outras variáveis, como a lógica imunológica individual e social, ou a influência que tem o maltrato que realizamos à natureza no surgimento desta pandemia. Ao mesmo tempo em que se reconhece que este coronavírus, junto com o resto de milhões de outros vírus, formam parte da Biodiversidade, e como tal, tem uma função vital, que devemos investigar e compreender, para neutralizar de uma forma ecológica a pandemia, e prevenir outras possíveis vindouras, em lugar de apresentá-lo como um inimigo invisível que é preciso destruir e vencer. Para tanto, é necessário facilitar os recursos necessários para equipes especializadas e científicas que seguem estas linhas de pesquisa, como Máximo Sandín ou Patrick Forterre.

Wilhelm Reich

Por sua vez, outros refletem apenas parte da realidade, ao descrever e enfatizar as capacidades próprias dos humanos, aqueles que preconizam uma resposta idealizada do ser humano frente a esta crise, dizendo que seremos capazes de aproveitar para mudar, para sermos solidários e recuperar uma certa consciência cósmica que promova um futuro mais sustentável. Porém, não devemos esquecer que tais capacidades do ser humano estão reduzidas e limitadas pela couraça e estrutura caracterial de cada qual, de modo que, uma coisa é querer e outra é poder. E não podemos esquecer que a crise econômica e social será global, mundial, e provocará tensões e conflitos, de modo a colocar à prova nossa capacidade potencial de sermos mais humanos, frente ao pânico do indivíduo encouraçado.

A partir desta posição de Observação Silenciosa, uma vez que tenhamos realizado as duas tarefas descritas, teremos acesso a uma maior compreensão do fenômeno (a crise pandêmica), o qual nos permitirá desenhar uma adequada estratégia de intervenção.

Outras duas ferramentas que nos serão necessárias para avançar nesta viagem são a Teoria do estresse (sofrimento) de Hans Selye, e a Inibição da ação de Henry Laborit ao estresse (melhor dito, distresse) da catástrofe, é preciso somar o que levamos no nosso interior, resultado dos medos experimentados em nossa história. Ambos preconizam respostas patológicas psicossomáticas descritas por Selye, que se agravam ao não poderem reagir frente a frustração que nos produz o empobrecimento, a doença, a imobilidade ou a falta de acompanhamento no luto próximo, enquanto que as razões de Estado parecem justificar a realidade que estamos vivendo, somando às patologias anteriores aquelas produzidas pelas alterações neuro-hormonais descritas por Laborit.

Aplicando ambas teorias à nossa situação atual, devemos estar preparados e alertar ao coletivo sanitário do aumento considerável de reações orgânicas psicossomáticas agudas e de crises emocionais e psicopatológicas, quadros agudos de ansiedade, ataques de pânico, depressão, etc., que irão aparecendo conforme avance a crise e comece a paulatina recuperação. De momento, nosso sistema defensivo (couraça caracterial) está contendo os processos de adoecimento porque “sabe” que não receberá atenção, evade da percepção e evita sua emergência. Porém, quando se deem as condições, a emergência será virulenta e aguda. É uma dinâmica similar a de um acidente de trânsito. Em um primeiro momento, recuperamos toda a normalidade possível, porém progressivamente aparece o trauma e as consequências do impacto.

Da mesma forma, junto à emergência de patologias individuais, conflitos de casal ou crises familiares, fruto do distresse da catástrofe, temos que prepararmo-nos para a crise econômica de magnitudes pós bélicas. Por mais que os governos tentem neutralizar seus efeitos, estas se irão produzir, e como costuma ocorrer, os mais vulneráveis serão os mais afetados.

Previnir e preparar-se para enfrentar este porvir supõe aceitar e aplicar outra de nossas principais leis: o fato de que apenas com a cooperação e o apoio mútuo, frente à tendência do egoísmos sobrevivente, é possível conter e superar estas situações extremas. Aplicando a etnologia, faz mais de um século que uma figura libertária, Pior Kropotkin, o traduziu em seu livro magistral O apoio mútuo. Não se trata de “cooperativismo”, senão de somar esforços, capacidades pessoais e gerir funcionalmente os recursos coletivos, para conseguir objetivos comuns.

Somos nós que devemos tomar as rédeas da situação, começando a desenvolver relações baseadas no respeito, no reconhecimento de funções e na gestão de recursos a partir da autogestão

Não é uma tarefa fácil, porque ninguém nos ensinou, ao contrário, aprendemos a funcionar na direção contrária e, em alguns casos, nossas experiências nas relações pessoais e sociais foram tão destrutivas que nossa tendência é a de nos defendermos do Outro, porque deixamos de diferenciar entre “iguais” e “contrários”. O que leva a dinâmicas de evitação, fuga, inclusive de traição, tal como está representados na figura de Judas nos Evangélios, que W. Reich analisa junto de outros exemplos, dentro do que define como reações de peste emocional. Não apenas me refiro a reações individuais, como também aos movimentos corporativistas de grandes companhias, as quais aproveitarão esta situação de crise e morte, como fazem os abutres e os vermes. Inclusive, dão-se as condições para o ressurgimento de líderes fascistas, que com suas mentiras, suas difamações aos representantes democráticos e suas promessas de segurança e controle, enfeitiçam as massas necessitadas de bálsamos curativos, e surja tentativas de uma nova ordem autoritária internacional. Tampouco isto deve nos surpreender, mas devemos preparar-nos para evitar o máximo possível suas repercussões.

Também é certo que é mencionado e proposto, nos discursos políticos de muitos governantes e líderes sociais a necessidade da cooperação entre partidos e nações, frente à crise mundial que estamos vivendo. Porém, sabemos pela história, que este conceito de cooperação, infelizmente, quer dizer, melhor dito, uma colaboração para repartir-se o bolo de uma forma mais ou menos equitativa entre os poderosos, deixado migalhas ao resto. A solidariedade do poder se pode medir pelo número de interesses ocultos para aproveitar- se das circunstâncias, desenhando a forma de fazê-lo em cada nova situação. Podem perder algo, porém, mais tarde, recuperarão o perdido com “juros”.

Por esse motivo, devemos aceitar os limites das políticas governamentais, apesar de podermos apoiar as ações e propostas de alguns líderes de esquerda e representantes políticos em favor dos mais vulneráveis, como está acontecendo no Estado Espanhol. Conscientes, por sua vez, de que se encontrarão coibidos pelos vermes da direita e pelos partidos fascistas, que representam os poderes existentes e com a falta de apoio dos demais partidos que continuarão com suas demandas por sempre, sem adaptarem-se à nova realidade e à busca conjunta de soluções para a magnitude da crise e a catástrofe que estamos vivendo. Muitas vezes não lembramos nem aprendemos da história, e o mecanismo de “compulsão à repetição” que Freud descreveu em relação à neurose individual é contemplado na dinâmica social, tão bem descrita no livro de vanguarda de W. Reich: Psicologia de Massas do Fascismo.

Reich foi um dos que, em um momento pós-bélico, retoma esse princípio libertário de cooperação e o integra aos seus conhecimentos caracteroanalíticos, defendendo um movimento social de “democracia do trabalho”, de autogestão em pequenos espaços sociais (que posteriormente se chamarão sistemas e ecossistemas): família, escola, coletivos, organizações. Locais onde é possível e realista começar a estabelecer atmosferas mais ecológicas e implementar os princípios de apoio mútuo e solidariedade. Sabendo que é precisamente nesses sistemas essenciais que eles sempre procuram apoiar e influenciar os estados de poder, impondo seus próprios valores retrógrados e interessados. Mas como sabemos que isso pode acontecer, tentaremos mudá-lo, porque são nossos espaços reais, aqueles que podemos gerenciar e naqueles em que não temos presença ativa -organizações burocráticas, municipais ou governamentais-, participaremos indiretamente, por meio de reivindicações funcionais e votos úteis.

Somos nós que devemos tomar as rédeas da situação, começando a desenvolver relações baseadas no respeito, no reconhecimento de funções e na gestão de recursos a partir da autogestão. Não esperemos que nos entreguem de mão beijada. Não esperemos que o governo nos dê um salário, nos dê uma casa, nos pague o aluguel, porque isso poderá fazer por um mês, dois, com alguns milhares de pessoas, mas não com todos. Sejamos nós, com nosso trabalho e com nossos recursos e capacidades, que devemos sentirnos capazes de fazê-lo. Ao mesmo tempo que transmitimos conhecimentos e denunciamos as fraudes e a desinformação dos usurários e daquel@s que se escondem atrás das lentes das promessas que nos chegarão.

Quadro The Earthly Paradise
The Earthly Paradise

Superemos a crise com nossa unidade, a partir da igualdade, da liberdade e da fraternidade, palavras regadas em uma época com o sangue de muitos e muitas. E com a cooperação e a prática de dinâmicas criativas, ecológicas e de autogestão em nossos coletivos ecologistas internacionais, ao mesmo tempo que reivindicamos ações políticas e mudanças legais, e apoiamos propostas válidas de políticos honestos e confiáveis, sabendo que a trama do poder econômico empregará seus mecanismos para freá-las.

Assim, portanto, “sejamos realistas, peçamos o impossível”, como se reivindicava no movimento francês de Maio de 68. Para que? Para poder trabalhar pelo possível, a partir dos nossos limites e do nosso ritmo ir avançando para poder constuir aquilo que sim, podemos: tentemos estabelecer relações humanas e ecológicas com nossos iguais; com nossos cônjuges, com nossos filhos e filhas desde o princípio da vida; nos espaços escolares e em nossos coletivos cotidianos. Criemos meios para poder ir transformando nossa percepção embrutecida, nosso constrangimento emocional e nossa rigidez caracterial em Estruturas Humanas, e das gerações futuras, com o objetivo que recuperem nossa capacidade de Viver e formar parte da “trama do Vivo” (Fritjof Capra).

Façamo-lo, “encarnando a vitalidade”, conceito que de maneira minuciosa pesquisou e definiu o grande neurocientista Antonio Varela. Isto é, encarnemos as impressões, ideias, sensações que podem estar em nossas cabeças, que podem ser muito bonitas e poéticas, mas podem não passar de meras ideias. Encarnemo-as sentindo a força que possuem quando as integramos com nosso ser, com nossos afetos, nossa sexualidade, nossa criatividade e nossa capacidade de amar. E juntemos nossos corpos e nossos seres, em uma rede forte e segura, que estabeleça a matriz necessária onde poder avançar com nossas capacidades, possibilidades e contribuições pelo caminho que antes de nós forjaram aqueles que viveram, lutaram e inclusive morreram por ele: o caminho que leva à Utopia.

Tudo isto recorda-me as palavras do escritor Ernesto Sábato, plasmadas em seu requintado libro Antes do fim, publicado em 1999: “Apenas aqueles que sejam capazes de encarnar a Utopia, estarão aptos para o combate decisivo, o de recuperar o quanto de humanidade tenhamos perdido”.

Saúde e Força,

Xavier Serrano Hortelano
Psicólogo especialista em Psicologia Clínica. Psicoterapeuta caracteroanalítico. Exerce sua atividade clínica em Valência (Espanha) desde 1985. Diretor da Escuela Española de Terapia Reichiana (Es.Te.R.)
El Puig (Valencia), 15 de Abril de 2020

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Acabou o tempo! https://minasi.com.br/tempo/ https://minasi.com.br/tempo/#respond Thu, 16 Apr 2020 01:04:15 +0000 https://minasi.com.br/?p=1923 2020 – a hora dos limites
por Genovino Ferri

1) Acabou o tempo para o estilo relacional atual

Acabou o tempo do estilo relacional da humanidade, atualmente dominante em nosso planeta, com seu fálico reativo, prevalência de traços de uma oralidade insatisfeita, cada vez mais borderline e narcísica. Produziu o colapso entrópico em que encontramos o Corpo Social Vivo de hoje.

Agora precisamos de outros padrões de características e outros estilos relacionais, com um modo diferente em nossa relação com o Mundo que não seja eu!

Os padrões agressivamente possessivos do “MEU”!, da falta de respeito pelo outro e pela negligência empática estão em crise e que, em uma escala maior (sistemas sociais complexos e vivos), produzem riquezas obtusas e “neoplásicas”. O padrão desta cegueira significa que eles são incapazes de visualizar toda o relacionamento com o Objeto, apenas observa as suas partes e devora-as.

Essa cegueira não permite que o Outro Sujeito seja sentido, polarizando demais por si mesmo, além do limiar, com uma fome insaciável.

O planeta está vivo e a biosfera, o lugar da entropia negativa (os 10 quilômetros acima de nós é onde a entropia diminui) e da fotossíntese (processo pelo qual a Vida na Terra se originou), pode ser comparado com um sistema termodinâmico fechado.

Na biosfera, o fluxo negentrópico contínuo permite a criação e manutenção do complexo, estruturas dissipativas abertas que são organismos vivos.

Um “Zé Ninguém”, que só existe há dois milhões de anos, que é “apenas agora” em termos de tempo em si, esperava poder brincar com os equilíbrios antigos. Felizmente, porém, a natureza também tem sabedoria e seus próprios limites inteligentes.

O “Limite Divino” foi atingido por alguns dos padrões de ação deste “Zé Ninguém” e eles estão desgastados! Outros estão aparecendo, facilitados pela marca catastrófica da Covid-19, o que significa que eles devem ser visto mais e mais.

2) Acabou o tempo da independência

Somos dependentes da biosfera e não somos outra coisa senão ela. Construir inteligentemente junto com os nossos em nossa biosfera pode, ou não, parecer uma ideia atraente, mas absolutamente deve ser feita!

“Dependência-interdependência” é um daqueles binômios com os quais devemos fazer as pazes, mantendo os limiares “normais” do seu espectro. Somente através dessas limitações é possível produzir entropia negativa, porque, acima ou abaixo, esses limites produziriam apenas entropia. Na realidade, seres vivos e biosfera são interdependentes.

Biosfera

Todos os seres vivos vivem no mesmo espaço, estão no mesmo campo e respiram a mesma atmosfera do planeta Terra. No momento, precisamos da inteligência de um homo sapiens sapiens e da capacidade de “inter-legere”, ou seja, ler interpretativamente, através das lentes da complexidade sobre nossa responsabilidade de respeitar o meio ambiente e todos os outros sistemas vivos. Em particular, devemos realmente levar em conta nossa responsabilidade de respeitar a própria Terra, da qual a Vida emerge. Isto é indispensável e será decisivo, antes de tudo para nós!

Não podemos continuar produzindo as mudanças climáticas que estão tornando nossa atmosfera cada vez mais tóxica e destruindo os habitats de tantas espécies vivas, que, como nós, são habitantes desse maravilhoso planeta.

Mudanças caóticas geralmente favorecem resultados imprevisíveis, mas neste caso certamente há uma alta probabilidade do “homo”, supostamente, “sapiens sapiens” perder-se mais e mais em seu papel na evolução.

A interdependência é um processo circular e tornar a biosfera cada vez mais tóxica produz efeitos negativos para todos os seres vivos, incluindo o homem, que hoje não tenho problemas em diagnosticar como tendo um “sistema imunológico deprimido”.

O termo “tóxico” também é infelizmente apropriado, porque a palavra “vírus” em si significa etimologicamente “toxina” ou “veneno”.

3) Acabou o tempo para a dopamina (DA) e o Complexo Reptiliano

Agora, o psiquiatra clínico em mim está pedindo para falar, tendo ouvido a palavra “deprimido”.

Em outras obras, descrevi o Corpo Social Vivo como sendo afetado por uma alarmada depressão mascarada pela aceleração.

Em termos simples e diretos, a dopamina (DA), que é o neuromediador responsável pela Ação, tornou-se hiper-ativada como resposta à depleção de serotonina (5HT), que é o neuromediador responsável por Afetividade.

Clinicamente, o medo está associado a um estado depressivo que aumenta os níveis de noradrenalina (NA), o neuromediador responsável pelo Alarme, que, por sua vez, completa a circularidade ao hiper-ativar o DA (dopamina).

Os três neuromediadores são interdependentes de maneira triangular, que deve ser respeitado. A aceleração dopaminérgica está além do limite. Alerta vermelho!

Os três cérebros também são interdependentes. A aceleração cognitiva pré-frontal (cérebro Neo-cortex) informa o status de alarme do “locus coeruleus” (cérebro do Complexo Reptiliano) e da amígdala, a área do cérebro que registra medo extremo. Isso é feito, de fato, ignorando o giro cingulado (cérebro límbico), que normalmente registra e modula relacionamentos afetivos.

Essa interação triádica do cérebro não está mais bem balanceada, produzindo uma dissociação cognitiva dos sentimentos, que favorece o domínio de padrões relacionais reptilianos, cada vez mais agressivos. Estes padrões, por si mesmos, informam e dominam a subjetividade e não são atenuados pela empatia e pela inteligência orbito frontal.

Os três cérebros são interdependentes. e eles representam outro triângulo a ser respeitado. O Reptiliano – O cérebro complexo, com seus padrões primitivos, não mantém relacionamentos – foi além do limite no seu “tudo o que é diferente de mim é um inimigo perigoso e deve ser atacado”. Alerta vermelho!

4) Acabou o tempo para a sociedade líquida

O tempo límbico, para sentir, foi violado – o tempo para os relacionamentos foi violado. Relacionamentos se definem como “com”, como “contato”, como “estar juntos” e foram sobrecarregados por uma quantidade infinita de comunicação que, não sendo relacional, não tem substância ao longo do tempo. Essas comunicações intermináveis ocorrem e começam a desaparecer instantaneamente, como emoções. Não são como sentimentos, que duram.

Não há mais o luxo da “memória” ou do “passado”, havendo apenas uma projeção superficial do futuro, que é, no entanto, dissociativo, agitado e além do limiar. Cega e evita qualquer presença consciente do aqui e agora. Em sua pressa, domina o Corpo Social, interrompendo e inibindo a organização da área torácica. O tórax, ao contrário, seria a principal localização corporal do sentimento e da empatia, mas é liquefeito pelas demandas além do limiar do tempo externo, que rouba a pessoa de seu próprio tempo interno.

A rede de contatos passou (em análise corporal) do quarto nível corporal relacional (tórax) para o primeiro nível corporal relacional (ocular). Sim, houve um aumento de informações, mas, sob aceleração, a rede se dissociou, incapaz de levar tempo para a “Inclusão”, para a “Escuta”, para o “Contar histórias” e para a “Respiração”, todas que tem ritmos mais “humanos”.

O tempo interno, que por ser um fluxo contínuo de energia, permite a estabilidade da identidade, foi interrompido. A solidão e o sentimento de perda surgiram e se tornaram muito mais difundidos à medida que os defeitos do estado da Oralidade insatisfeita do Corpo Social Vivo gritam a sua dor. As novas patologias, do vício às doenças auto-imunes e das doenças cardiovasculares a psiquiátricas estão se espalhando.

No colapso entrópico causado pelo auto-consumo, a sociedade líquida desesperadamente repropõe a si mesma, induzindo estados orais insatisfeitos e defeituosos em indivíduos com inúmeras necessidades e desejos incessantes e que estão em uma corrida compulsiva e precipitada em direção a mega-lucros e a quaisquer objetos associado a um “brilho do símbolo de status”. É um traço de cobertura efêmero, narcisista.

Não dá pra ser feito sem o Tórax!

A sociedade líquida ultrapassou seus limites. Alerta vermelho!

5) Acabou o tempo para a ausência do Tórax

O Onde, o como e o quando de uma patologia guia os pesquisadores e terapeutas em sua supervisão e em suas ações; esta informação permite-lhes perceber o sentido inteligente subjacente de cada condição.

O Tórax pode ser considerado um repositório de limites, fronteiras e de controle. Em termos psicológicos e corporais, o tempo do Tórax tem uma prevalência como nível relacional, na progressão normal dos estágios evolutivos sucessivamente dominantes de cada indivíduo, é a fase muscular. O Tórax parece, obviamente, indispensável tanto para melhorar a respiração e organizar a passagem do músculo liso para o estriado. O tórax é a base negentrópica necessária para lidar com o processo de individuação-separação da mãe, que representa um poderoso imã. O processo de deixar o seio e o olhar da mãe e mirar para cima, em direção a horizontes maiores e mais complexos, requer autonomia organizacional.

O Tóra , ou o quarto nível corporal, foi enfraquecido no Corpo Social Vivo pela modernidade liquefeita e é atualmente um nível corporal relacional muito vulnerável!

A perda, ou importância reduzida, de limites, de regras, do pai e da organização, todos que tem sido desmontados pelo aumento da velocidade do tempo, serve apenas para demonstrar as influências multifacetadas desse processo entrópico. O Corpo Social Vivo foi, em primeiro lugar, arrastado para uma liquidez incontinente da oralidade, depois mais abaixo na rarefação borderline e, hoje, está sem fôlego, sem ar e oxigênio. Esse sintoma testemunha o processo cíclico que a humanidade iniciou em nossa biosfera, como a toxicidade “chega em casa para pousar”.

Pneumonia intersticial, o potencial desenvolvimento clínico grave do COVID-19 é um fator indicativo muito preocupante. Não posso deixar de associá-lo a uma patologia torácica do Corpo Social Vivo. Isso é uma sintomatologia inesperada, causada por um vírus que selecionou precisamente esse habitat no corpo humano para replicar. O vírus não é bom nem ruim, mas certamente garantiria melhor sua própria sobrevivência em um hospedeiro com maior resistência – quando o terreno hospedeiro morre, o parasita geralmente também morre.

Onde – no Tórax; como – invisivelmente; quando – agora. Alerta vermelho!

6) Acabou o tempo para o Superego

O Superego não mora mais na família, mudou-se para a mídia. Isso pôs fim a muitas diferenças preciosas, vitais para garantir a riqueza da diversidade e causaram um aumento significativo na indiferença. O Superego foi contaminado pelo reativo fálico, pelos padrões da oralidade insatisfeita e pelo narcisismo borderline.

Hoje, morando na mídia, o Superego é imprudente, emocionalmente sem instrução, narcisista e exigente; exclui, é mono-direcional, não retribui e é perseguidor.

O Superego de hoje dita os ritmos e a velocidade do tempo externo e (como afirmei em uma entrevista em 2005) está roubando tempo dos relacionamentos, do sistema límbico e da Afetividade. Nós temos uma geração de pais deslocados e impotentes e uma de filhos perdidos, sozinhos, assustados e impulsivos.

De fato, esvaziando a família e rompendo a rede circular que conectava e permitia o “Campo Familiar” com sua própria atmosfera e seus próprios valores delimitados. O novo Superego redireciona os vetores motivacionais para fora da família, em direção a outros objetos a serem desejados e outros pacotes de valores contaminados pelos padrões de traços atualmente dominantes para os quais, Ter é que define o Ser.

O Id, um polo pulsante da personalidade, há milhões de anos, tendo um intenso debate com o Superego, o outro polo, que atesta e censura a personalidade. Quando não está além do limite, essa interação contrabalançada permite, para citar o pai da psicanálise, um ego “normalmente neurótico”, representando uma terceira posição relativamente autônoma, informada pelos dois poderosos imãs polares, entre os quais ele pode se mover. O Id hoje, não tem mais um interlocutor capaz de contê-lo e o ego está perdido, experimentando quase exclusivamente uma poderosa atração narcísica primária.

Permita-me expressar um paradoxo – o Id ultrapassou seus limites – está além do limite. Alerta vermelho!

7) Acabou o tempo da onipotência

E agora, uma cena curiosa, embora dramática. A reunião, neste planeta, do vírus e do homo sapiens sapiens…

Não é sequer certo que o vírus possa ser incluído entre os verdadeiros seres vivos, pois é incapaz de sobreviver autonomamente, incapaz de converter alimentos e é obrigado ao parasitismo, incapaz de se reproduzir sozinho. É o menor e, estruturalmente, um ser muito simples. O homem é o maior, estruturalmente altamente complexo e mil passos negentrópicos evolutivos além…

No entanto, o ser maior sucumbe e pula protetoramente para se fechar em casa!

Outros binômios vêm à mente – dentro e fora, o invisível e o visível, simplicidade e complexidade, micro e macro, distância e contato, individual e compartilhado. No entanto, uma comparação se destaca como sendo extremamente dramático – onipotência e impotência.

O limite nos torna potentes; sua ausência nos torna onipotentes; seu excesso nos torna impotentes.

Como fazemos as pazes com a inteligência funcional dos Limites Divinos? Como trazemos a evolução, a conexão com outros sistemas vivos, a biosfera e o planeta vivo dentro de limites normais, de modo que eles não estejam além do limiar? Como nos mantemos vivos e em contato com os limites inteligentes da vida?

Ao voltar a entrar em nosso Lar e a re-habitar em nosso próprio Tórax … Temos a oportunidade de voltar a um ambiente protegido e redescobrir o reflexo de um campo que conta nossa própria história, tem nossa própria atmosfera para respirar de volta e nossas próprias identidades para animar novamente … É uma oportunidade de ter um novo relacionamento com o exterior, que pode ser co-construtivo, humano e, como tal, inteligente.

Voltar a entrar em nossas casas e re-habitar nossos próprios peitos é uma oportunidade de reconectar coração e mente e redescobrir uma senha extraordinária e revitalizante – Humildade!

A humildade nos permite tornar-nos mais inteligentes e mais potentes; permite um novo relacionamento, entre alturas e profundidades maiores que o Eu, e isso nos permite atravessar, para cima e para baixo, o que este rígido e arrogante pescoço tem causado por onipotência ferida, pescoço castrado estabelecido por impotência acentuada.

Acabou o tempo! Alerta vermelho!

Autor: Genovino Ferri. Publicado no site Somatic Psycotherapy Today Tradução livre.

Referências

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