caráter https://minasi.com.br Alcançando a integralidade através de terapia holística. Transforme sua vida através de aconselhamento personalizado e treinamento motivacional. Wed, 08 May 2024 10:05:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://i0.wp.com/minasi.com.br/wp-content/uploads/2024/09/cropped-MeuEuMelhor.png?fit=32%2C32&ssl=1 caráter https://minasi.com.br 32 32 103183256 Fases do Desenvolvimento Infantil e os Traços de Caráter https://minasi.com.br/fases-do-desenvolvimento-infantil-e-os-tracos-de-carater/ https://minasi.com.br/fases-do-desenvolvimento-infantil-e-os-tracos-de-carater/#respond Wed, 08 May 2024 10:05:00 +0000 https://minasi.com.br/?p=3328 A jornada do desenvolvimento humano é fascinante e complexa, especialmente durante a infância. A psicanálise, com suas raízes profundas no trabalho de Sigmund Freud, oferece uma visão intrigante sobre as fases do desenvolvimento infantil. Paralelamente, a psicologia corporal nos apresenta uma perspectiva única sobre como nossos corpos e mentes interagem para formar traços de caráter distintos.

As Fases do Desenvolvimento Infantil na Psicanálise

Freud revolucionou a compreensão do desenvolvimento infantil ao introduzir os estágios psicossexuais: oral, anal, fálico, latência e genital[6]. Cada estágio é caracterizado por desafios e conflitos específicos que, quando navegados com sucesso, levam a uma personalidade saudável e bem ajustada. Por exemplo, o estágio oral foca na experiência e gratificação através da boca, enquanto o estágio anal lida com questões de controle e independência.

Donald W. Winnicott, um pediatra e psicanalista inglês, expandiu essa visão ao enfatizar a importância da relação mãe-bebê e introduzir o conceito de “dependência absoluta” nos primeiros meses de vida[7]. Winnicott acreditava que a capacidade de um bebê de sentir-se onipotente, graças à resposta imediata de seus cuidadores, era crucial para o desenvolvimento saudável.

Traços de Caráter na Psicologia Corporal

A psicologia corporal, influenciada pelos trabalhos de Wilhelm Reich, Alexander Lowen e Frederico Navarro, examina como as experiências emocionais se manifestam fisicamente. Cinco traços de caráter são identificados: esquizoide, oral, psicopata, masoquista e rígido[1]. Cada traço reflete uma estratégia de adaptação desenvolvida na infância em resposta ao ambiente e às relações interpessoais.

Por exemplo, o traço esquizoide pode se desenvolver em resposta a uma desconexão emocional precoce, levando a um comportamento mais distante e isolado. O traço oral, por outro lado, pode surgir de uma necessidade de dependência emocional e busca de aprovação.

A Integração das Duas Perspectivas

A integração das fases do desenvolvimento infantil na psicanálise com os traços de caráter da psicologia corporal oferece uma visão holística do crescimento humano. Entender como os estágios iniciais da vida influenciam tanto a mente quanto o corpo é essencial para abordagens terapêuticas eficazes e para a promoção do bem-estar emocional e físico.

A psicanálise e a psicologia corporal, juntas, nos ajudam a compreender melhor as complexidades da personalidade humana e a importância das experiências da infância. Elas nos ensinam que cada indivíduo é o resultado de uma tapeçaria intrincada de influências psicológicas e físicas, tecida desde os primeiros dias de vida.

A beleza dessa jornada de desenvolvimento é que, apesar de nossos traços de caráter serem formados cedo, eles não são imutáveis. Com a consciência e o apoio adequados, podemos aprender a usar nossos traços de caráter como ferramentas para uma vida mais plena e realizada.

A psicanálise e a psicologia corporal continuam a ser campos vibrantes de estudo e prática, oferecendo insights valiosos para todos aqueles interessados no desenvolvimento humano. Eles nos convidam a olhar para dentro de nós mesmos e para os outros com empatia, compreensão e uma apreciação mais profunda da jornada da vida.

Referências:

[1]: https://luizameneghim.com/blog/tracos-de-carater/ “”
[2]: https://relacoes.umcomo.com.br/artigo/analise-corporal-entenda-os-5-tracos-de-carater-30552.html “”
[3]: https://bing.com/search?q=Tra%C3%A7os+de+car%C3%A1ter+da+psicologia+corporal “”
[4]: https://www.fundacaocasagrande.org.br/noticias/o-traco-de-carater-rigido-uma-armadura-corporal/ “”
[5]: https://www.mulher.com.br/comportamento/analise-do-carater-teoria-diz-que-tracos-do-rosto-e-corpo-explicam-seu-comportamento “”
[6]: https://psicanaliseblog.com.br/teorias-psicanaliticas-sobre-o-desenvolvimento-infantil/ “”
[7]: https://www.psicanaliseclinica.com/desenvolvimento-infantil-winnicott/ “”
[8]: https://www.gerarprosperarpsicanalise.com.br/post/psican%C3%A1lise-e-o-desenvolvimento-infantil-compreendendo-os-caminhos-da-mente “”
[9]: https://saudeinterior.org/desenvolvimento-psicossexual-fases-de-freud/ “”
[10]: https://www.psicanaliseclinica.com/tecnica-do-brincar-em-melanie-klein/ “”

]]>
https://minasi.com.br/fases-do-desenvolvimento-infantil-e-os-tracos-de-carater/feed/ 0 3328
Couraças musculares e o Eneagrama https://minasi.com.br/couracas-musculares-e-o-eneagrama/ https://minasi.com.br/couracas-musculares-e-o-eneagrama/#respond Wed, 01 May 2024 10:55:00 +0000 https://minasi.com.br/?p=3326 A intersecção entre as couraças musculares e os tipos do eneagrama oferece uma perspectiva fascinante sobre a psicologia humana e o desenvolvimento pessoal. As couraças musculares, um conceito introduzido por Wilhelm Reich, referem-se às tensões crônicas no corpo que atuam como barreiras contra a expressão de emoções e impulsos. Reich acreditava que essas couraças podiam ser mapeadas e correlacionadas com traços de personalidade específicos, influenciando a maneira como as pessoas interagem com o mundo ao seu redor.

O eneagrama, por outro lado, é um sistema de tipologia de personalidade que descreve nove tipos distintos, cada um com suas motivações, medos e desejos únicos. Esses tipos são frequentemente usados para promover o autoconhecimento e o crescimento pessoal, ajudando as pessoas a entenderem suas próprias limitações e potenciais.

A combinação desses dois sistemas pode proporcionar insights valiosos para terapias e práticas de desenvolvimento pessoal. Por exemplo, alguém com uma couraça muscular associada ao tipo histérico no eneagrama pode apresentar um comportamento sexual visível, uma agilidade física específica e um coquetismo indisfarçado. Essas características podem ser vistas como defesas contra a vulnerabilidade emocional e podem ser abordadas através de terapias que focam na liberação dessas tensões corporais.

A análise reichiana, uma extensão do trabalho de Reich, busca liberar essas couraças musculares para permitir um fluxo mais livre de energia e emoções. Isso pode levar a uma maior expressão emocional e a uma sensação de bem-estar. Ao entender como as couraças musculares se relacionam com os tipos de personalidade do eneagrama, os terapeutas podem criar abordagens mais personalizadas para ajudar os indivíduos a alcançarem um equilíbrio mais saudável entre mente e corpo.

A pesquisa e a prática contínuas nessa área podem revelar ainda mais sobre como nossas emoções e traços de personalidade se manifestam fisicamente e como podemos trabalhar para superar as barreiras que nos impedem de viver uma vida plena e autêntica. Para aqueles interessados em explorar mais sobre esse tópico, há uma riqueza de recursos disponíveis, incluindo artigos acadêmicos e workshops que oferecem uma visão mais profunda das couraças musculares e dos tipos do eneagrama[1][2].

Referências:

[1]: https://centroreichiano.com.br/artigos/Anais_2016/Eneagrama-e-tracos-de-carater-segundo-Reich-MINASI-Elias-VOLPI-Jose-Henrique.pdf “”
[2]: https://ibrath.com/como-wilhelm-reich-contribuiu-para-a-teoria-das-couracas-musculares/ “”
[3]: https://minasi.com.br/2017/12/couracas-musculares-como-nossas-emocoes-se-fixam-em-nosso-corpo/ “”
[4]: https://www.centroreichiano.com.br/artigos/Artigos/Os-sete-segmentos-de-couracas-e-seus-bloqueios-luisa-fragoso-e-jose-henrique-volpi.pdf “”

]]>
https://minasi.com.br/couracas-musculares-e-o-eneagrama/feed/ 0 3326
Posso ter ódio? https://minasi.com.br/posso-ter-odio/ https://minasi.com.br/posso-ter-odio/#respond Sat, 09 Dec 2023 14:43:50 +0000 https://minasi.com.br/?p=3210 Costumamos associar a palavra ódio à ideia de uma maldição perigosa da qual devemos fugir o mais rápido possível. Da mesma forma, muitas vezes ouvimos dizer que o ódio é tóxico para os seres humanos e que torna praticamente impossível curar as feridas da infância. Como me afasto francamente desta opinião comum, sou muitas vezes mal compreendido. Assim, todos os meus esforços para esclarecer este fenómeno e aprofundar esta noção não tiveram, até agora, grande sucesso.

Por esta razão, a quem quiser acompanhar-me nestas investigações, recomendo a leitura prévia do capítulo do meu livro, “A Origem do Ódio”, intitulado: Como o Ódio é Engendrado?

Penso também que o ódio pode envenenar um organismo, mas apenas se for inconsciente e o dirigirmos para pessoas substitutas, ou seja, para bodes expiatórios. Pois desta forma não pode ser extinto. Se odeio os trabalhadores migrantes, por exemplo, mas não consigo permitir-me ver como os meus pais me maltrataram na minha infância, deixando-me chorar durante horas e horas quando eu era apenas um bebé ou quando nunca me olharam com amor, então eu sofro de um ódio latente que pode me acompanhar por toda a vida e causar diversos transtornos psicológicos. Mas se eu souber o que meus pais me infligiram ignorantemente e puder ficar conscientemente indignado com o comportamento deles, não precisarei mais direcionar meu ódio para outros substitutos. Com o tempo, o ódio que sinto pelos meus pais pode desaparecer ou mesmo desaparecer por períodos, apenas para ser reativado com novos acontecimentos ou novas memórias. O que muda é que agora sei o que está acontecendo comigo. Conheço-me bem o suficiente para identificar os sentimentos que estou vivenciando.

Se integro meu ódio, não tenho mais necessidade de ferir ou matar ninguém, simplesmente para satisfazê-lo.

Alice Miller

Há pessoas que até demonstram gratidão aos pais por terem batido neles ou que afirmam ter esquecido há muito tempo a brutalidade ou a violência sexual que sofreram, perdoaram os seus “pecados” aos pais se tiverem o hábito de rezar, mas não são incapazes de educar seus filhos de outra forma que não seja através da violência. Todo pedófilo ostenta seu amor pelas crianças, ignorando que no fundo se vinga do que lhe fizeram quando era pequeno. Mesmo sem ter consciência de seu ódio, vive sob seu domínio.

Este ÓDIO LATENTE E TRANSFERIDO é muito perigoso e difícil de extinguir, pois não é dirigido a quem o causou, mas a um substituto. Pode durar uma vida inteira para se manifestar em diversas formas de perversão e constitui um perigo para o meio ambiente e, em certos casos, para si mesmo.

man clenching fist near a woman covering face while sitting
O ódio latente pode ser transferido para outras pessoas.
Photo by Karolina Grabowska on Pexels.com

Isso é completamente diferente do ÓDIO REATIVO CONSCIENTE, que como qualquer outro sentimento desaparece quando é vivido. Se um dia, por outro lado, descobrirmos que fomos maltratados pelos nossos pais, o ódio não tardará a chegar, aparecerá apesar de nós. Como já disse, isso poderá atenuar-se com o tempo, mas o caminho será sinuoso. O quadro dos abusos sofridos na infância não aparece de uma só vez, é um longo processo durante o qual novos aspectos vão surgindo aos poucos na consciência, provocando novos ataques de ódio. Mas isso não é nada perigoso. É a consequência lógica do ocorrido e que só se torna perceptível quando se é adulto, pois a criança não teve outra escolha senão sofrer durante anos em silêncio.

Tal como o ódio reativo aos pais e o ódio latente dirigido a um bode expiatório, existe o ódio JUSTIFICADO que sentimos por uma pessoa, que nos corrói física e mentalmente e nos domina sem que nos consigamos libertar ou pelo menos acreditemos então. Enquanto estivermos sob sua dependência, ou assim acreditamos, necessariamente o odiaremos. É inconcebível que um indivíduo torturado não sinta qualquer ressentimento contra o seu algoz. Se você não permitir esse sentimento, sofrerá sintomas corporais. As biografias dos mártires cristãos testemunham a descrição de doenças terríveis, muitas vezes – caracteristicamente – de natureza dermatológica. O corpo defende-se assim da traição de si mesmo, uma vez que os “santos” tiveram que perdoar os seus algozes – mas a sua pele inflamada expôs a intensa raiva reprimida.

Se, no entanto, o interessado conseguir escapar ao poder daqueles que o dominam, não terá mais a necessidade de viver dia após dia com esse ódio. É claro que a memória do seu desamparo e dos tormentos que lhe foram infligidos pode emergir na sua memória, mas a intensidade do ódio irá desaparecer com o tempo (no livro “The Body Never Lies”, esta questão é discutida com mais detalhes).

O ódio é um sentimento forte e dinâmico, um sinal da nossa vitalidade. Por isso, se o reprimimos, pagamos com o nosso corpo. Como o ódio nos fala das nossas feridas e também de nós mesmos, dos nossos valores e do nosso tipo de sensibilidade, devemos aprender a ouvir e compreender o significado da sua mensagem. Se conseguirmos isso, não teremos mais medo. Se, por exemplo, não suportamos a hipocrisia e as mentiras, permitir-nos-emos combatê-las sempre que possível ou distanciar-nos-emos de pessoas que só acreditam em mentiras. Mas se, pelo contrário, agirmos com indiferença, traímo-nos a nós mesmos. Uma traição encorajada pela exigência quase geral, embora destrutiva, de perdão. 

Contudo, está amplamente demonstrado que nem as orações nem os exercícios de auto-sugestão com “pensamentos positivos” são capazes de abolir as justificadas reações vitais do corpo contra as humilhações e outras feridas precoces à integridade da criança. As horríveis doenças dos mártires mostram claramente o preço que pagaram por negarem os seus sentimentos. Não seria mais fácil perguntar quem odiamos e ver os motivos que motivam esse ódio? Então, com efeito, poderemos conviver com os sentimentos que temos como seres responsáveis, sem negá-los e ter que pagar, por essa atitude “virtuosa”, com a nossa saúde.

um garoto atravessa uma ponte segurado pela mão
A terapia integra meus sentimentos, Photo by Oleksandr P on Pexels.com

Eu ficaria desconfiado se um terapeuta me prometesse que no final da terapia (e sem dúvida graças ao perdão) meus sentimentos indesejados de raiva, fúria e ódio acabariam. O que acontecerá comigo se eu não puder mais ficar com raiva ou enfurecido com a injustiça, a fraude, a maldade ou a estupidez proferidas com arrogância? Isso não seria uma mutilação da minha vida emocional? Se a terapia realmente me ajuda, devo antes ter acesso a TODOS os meus sentimentos pelo resto da vida e acesso consciente à minha história, onde encontrarei a explicação para a intensidade das minhas reações. Uma vez conhecidas as razões, a intensidade diminuirá rapidamente sem deixar marcas dramáticas no meu corpo (ao contrário da repressão de emoções inconscientes excessivas).

A terapia adequada me ensina a compreender meus sentimentos e a não condená-los, a considerá-los como meus aliados protetores em vez de temê-los e a vê-los como inimigos que devem ser combatidos. Mesmo quando foi isso que nos ensinaram os nossos pais, professores e sacerdotes, temos que tentar abrir os olhos de uma vez por todas para ver que esta automutilação que praticaram é perigosa. Nós próprios fomos suas vítimas.

Em qualquer caso, não são os nossos sentimentos que constituem um perigo para nós mesmos e para o nosso ambiente, mas sim o fato de, por medo, nos desligarmos deles. E é esta desconexão que produz acessos de loucura homicida, ataques suicidas incompreensíveis e o facto de inúmeros tribunais nada quererem saber sobre os verdadeiros motivos de um ato criminoso, para proteger os pais do criminoso de levantarem o véu sobre sua própria história.

Alice Miller
Traduzido do francês para o espanhol por Rosa Barrio

]]>
https://minasi.com.br/posso-ter-odio/feed/ 0 3210
Infância – Relacionamentos que impactam para sempre. https://minasi.com.br/infancia-relacionamentos-que-impactam-para-sempre/ https://minasi.com.br/infancia-relacionamentos-que-impactam-para-sempre/#respond Wed, 06 Dec 2023 20:02:42 +0000 https://minasi.com.br/?p=3201 Você já se perguntou como as experiências que você teve na infância com seus pais afetam a sua personalidade de adulto? Neste post, vamos explorar como a relação com a mãe e o pai pode influenciar o desenvolvimento emocional, social e cognitivo das crianças e como isso se reflete na vida adulta.

A relação com a mãe é uma das primeiras e mais importantes fontes de afeto, segurança e aprendizagem para as crianças. A mãe é quem oferece o cuidado, o conforto e a proteção nos primeiros anos de vida, criando um vínculo afetivo que serve de base para as futuras relações. A qualidade desse vínculo pode variar de acordo com o estilo de apego que se estabelece entre a mãe e o filho. O apego seguro é aquele em que a criança se sente confiante, amada e apoiada pela mãe, podendo explorar o mundo com autonomia e curiosidade. O apego inseguro é aquele em que a criança se sente ansiosa, rejeitada ou negligenciada pela mãe, tendo dificuldades para se relacionar com os outros e consigo mesma.

A relação com o pai também é fundamental para o desenvolvimento infantil, mas de uma forma diferente da relação com a mãe. O pai é quem estimula a criança a enfrentar os desafios, a desenvolver a autoestima e a independência. O pai é quem ensina as regras, os limites e os valores sociais, ajudando a criança a se adaptar ao seu meio. A qualidade dessa relação pode variar de acordo com o grau de envolvimento, afetividade e autoridade que o pai exerce sobre o filho. Uma relação positiva é aquela em que o pai é presente, carinhoso e firme, respeitando as necessidades e as características da criança. Uma relação negativa é aquela em que o pai é ausente, indiferente ou autoritário, impondo suas expectativas e desejos sobre o filho.

As experiências infantis com a relação com a mãe e o pai podem ter uma influência duradoura na personalidade de adulto. As pessoas que tiveram um apego seguro com a mãe tendem a ser mais confiantes, sociáveis e empáticas, capazes de estabelecer relações íntimas e satisfatórias. As pessoas que tiveram um apego inseguro com a mãe tendem a ser mais inseguras, isoladas e ansiosas, podendo apresentar problemas de autoestima, depressão ou dependência emocional. As pessoas que tiveram uma relação positiva com o pai tendem a ser mais independentes, assertivas e responsáveis, capazes de enfrentar os obstáculos e alcançar seus objetivos. As pessoas que tiveram uma relação negativa com o pai tendem a ser mais dependentes, passivas ou rebeldes, podendo apresentar problemas de comportamento, agressividade ou dificuldade de aprendizagem.

É claro que essas são generalizações e que existem muitos outros fatores que podem influenciar a personalidade de adulto, como os traços genéticos, as características individuais, as experiências escolares, as amizades, os eventos traumáticos, etc. Além disso, as pessoas podem mudar ao longo da vida, superando ou modificando os padrões aprendidos na infância. No entanto, é importante reconhecer como as experiências infantis com a relação com a mãe e o pai podem ter um impacto significativo na forma como nos vemos e nos relacionamos com os outros.

E você? Como foi a sua relação com os seus pais na infância? Como você acha que isso afeta a sua personalidade de adulto? Compartilhe conosco nos comentários!

Bibliografia:

  • Volpi & Volpi – Crescer é uma Aventura
  • Reichert, Evânia – Infância, a idade sagrada
  • Reich, Wilhelm – Análise do Caráter
]]>
https://minasi.com.br/infancia-relacionamentos-que-impactam-para-sempre/feed/ 0 3201
A cura pela relação – Antífon https://minasi.com.br/a-cura-pela-relacao-antifon/ https://minasi.com.br/a-cura-pela-relacao-antifon/#respond Wed, 13 Sep 2023 14:18:00 +0000 https://minasi.com.br/?p=3163 Antífon foi um filósofo grego que viveu supostamente no século quarto antes de cristo. Inimigo de Platão, incluído na ignóbil categoria de pré-socrático, foi um sofista, mestre da retórica e da persuasão. Atomista – corrente filosófica precursora do materialismo atual – ele é o pai fundador da psicanálise. Embora pelo que eu saiba, nos escritos de Freud não haja nenhuma citação a ele, é inegável seu paternalismo. Vejamos.

Como todo atomista, Antífon estava convencido de que tudo que existia era átomos em movimento. Toda a matéria era constituída por eles – unidade mínima e indivisível de real. Inclusive o corpo e a alma. O pensamento, que é uma atividade da alma, também nada mais é que átomos em movimentos. Ora, se tudo é átomos em movimento, não há diferença – no meu caso – entre defecar e pensar…

Bem, continuando, a felicidade consistia em uma vida plena de harmonia, de paz, sossego e tranquilidade. Para se chegar a esse estado era preciso que o pensamento se livrasse de suas contradições, de seus conflitos internos, de suas perturbações. O papel da alma seria evitar esse combate que muitas vezes travamos dentro de nós. Ora querido leitor, diga, você nunca passou por isso? Desejo mas não posso, quero mas não é meu, ardo de paixão, alguém chegou primeiro, a angústia de decidir entre a diversão e o repouso…Quando se vive nesse fluxo de frustrações, de castrações, de desejos enterrados e jamais alcançáveis, o corpo é quem sofre. Ficamos tristes, doentes e às vezes até morremos. Por que?

Para Antífon, alma e corpo eram arranjos atômicos. Os átomos do pensamento se arranjavam de duas formas: alguns na parte iluminada da alma, outros na parte escura. A parte iluminada é aquela que nos permite flagrar esses pensamentos – não era o termo de Antífon, mas é inegável a semelhança com a consciência. E a parte escura, aquela onde habitavam os pensamentos que não temos consciência. Ele afirmava que: 1) o sofrimento do homem advém da alma. 2) especificamente da parte obscurecida.

Ele então abre na cidade de Corinto, na Grécia, uma espécie de hospital para curar a alma das pessoas. Não havia sombra de dúvidas de que esta podia ser acessada e esse acesso se dava por meio da linguagem, do discurso, da fala. Na primeira parte do tratamento, Antífon deixava o paciente falar, sem roteiro prévio, livremente, o que viesse à cabeça dele. Depois iniciava uma espécie de terapia verbal para curá-lo. Falando, o paciente moveria os átomos da parte escurecida da alma e os levaria a parte iluminada. A linguagem cria representações – isto é, põe no lugar de uma coisa ausente, outra coisa – permitindo a identificação dos pensamentos causadores do sofrimento e sua cura. Outro artifício, pasmem, era a interpretação dos sonhos. Não que o sonho tivesse uma verdade em si mesmo, mas, regido por uma rede de causalidades, e que adquiria significado a partir da interpretação de Antífon. É interessante notar que os sofistas eram exímios mestres da oratória e do convencimento, habilidades essas que certamente facilitaram muito o trabalho dele.

Como todo sofista, Antífon foi execrado e condenado ao limbo do esquecimento pela filosofia oficial dominante. Seu único escrito, A arte de combater a tristeza, desapareceu e o pouco que sabe sobre sua biografia chegou-nos através de historiadores como Diógenes Laércio. No entanto, suas ideias permanecem curiosíssimas, para além da Contra-história da Filosofia.

Fonte: ANTÍFON E O HOSPITAL DA ALMA, de Fabio Ximenes

]]>
https://minasi.com.br/a-cura-pela-relacao-antifon/feed/ 0 3163
Molduras para pessoas – traços de caráter https://minasi.com.br/molduras-para-pessoas-tracos-de-carater/ https://minasi.com.br/molduras-para-pessoas-tracos-de-carater/#respond Fri, 11 Aug 2023 12:34:58 +0000 https://minasi.com.br/?p=3136

As manifestações individuais presentes no coletivo muitas vezes nos deixam perplexos. Como uma pessoa pode agir ou reagir desta ou daquela forma? O que acontece para que seja assim? Como podemos melhorar interna e externamente, tornando o ambiente mais fluido e menos burocrático ou agressivo?

A resposta está em nosso desenvolvimento mais primitivo, em nossa infância.

Os traços de caráter são marcas e soluções que conseguimos implementar em nossa infância, para lidar com a dor da castração à nossa potência ou ausência do amor. Eles são como as guias que colocamos em nosso cão de estimação para que ele faça o que desejamos ou nos obedeça. De certa forma, na infância, como nossos genitores não conseguiram lidar com a energia livre da criança, dando contornos seguros para que ela pudesse se desenvolver de forma livre, desenvolvendo uma moral natural através da ética, acabam por nos colocar essas “guias” que Wilhelm Reich chamou de couraças musculares de caráter.

cachorro sendo segurado pela guia
O traço de caráter é uma contenção de nossa energia

Então, tanto o aspecto comportamental, sentimental e de pensamento coincidem com as couraças musculares no sentido de conduzir a criança à submissão. Esse congelamento da energia imposto pelos pais produzem na criança acomodações físicas e psíquicas para que o sofrimento seja menor. Isto ocorre no amadurecimento do aparato muscular, cada fase ligada ao segmento que está energeticamente sendo aprontado.

Isto, coloca a criança diretamente ligada ao seu corpo e sujeita à sua relação com as figuras materna e paterna. Aqui não falamos de trauma mas de um treinamento constante, diário, de submissão insistente, de forma a moldar corpo e psique. Cada fase deste desenvolvimento vai liberar ou constranger energia e ação.

Com o passar dos anos esta forma de moldar corpo e psique se torna permanente formando o traço do caráter que acompanhará a pessoa por toda a sua vida. Isto é como uma escala que se movimenta: podendo ser momentos de maior ou menor intensidade na manifestação da couraça do caráter.

Com os traços de caráter aprendemos a nos socializar

Podemos citar os principais traços:

Compulsivo – se fixando até aproximadamente 4 anos

Masoquista – se fixando até aproximadamente 4 anos

Fálico – se fixando até aproximadamente na adolescencia

Histérico – se fixando até aproximadamente na adolescencia

Cada um desses traços de estrutura neurótica pode ser misturado entre si e tomar uma intensidade, com um ou outro se tornando mais presente, dependendo de como a criança se sentiu em cada fase do seu desenvolvimento, em relação à pressão que sofria para se adequar ao sistema da família e à sociedade.

Estes traços podem se manifestar em uma estrutura neurótica ou uma cobertura para uma estrutura limítrofe, onde a base dos problemas está num momento mais primitivo do desenvolvimento infantil, onde o aparato muscular não tinha capacidade de suportar a carga de adaptação necessária.

Estas estruturas pressupõem formas de relação com as figuras de autoridade a partir da experiência com as figuras materna e paterna, produzindo adesões ou rompimentos quando se alcança a idade adulta. Refletindo nas relações suas experiências de adaptação.

Todo este processo é inconsciente, ou seja não há participação da vontade e decisão, mas como o próprio Reich o definiu, uma reação do corpo, que é o próprio inconsciente frente à pressão para se ajustar. Então, podemos dizer que mesmo as reações adultas são inconscientes ou comandadas por esta instância.

Estes traços vão marcar a forma como o individuo vai se relacionar nas relações mais íntimas, familiares e também na sua interação social, dentro do mundo do trabalho e sociedade. Isto vai constituir uma personalidade ou um jeito de funcionar externamente que de certa forma, estará tentando evitar aquela pressão e angústia enfrentada na sua infância, dentro do sistema familiar. Toda a sua busca será por nunca entrar neste conflito, que para o inconsciente tem perigo de sofrimento e morte.

Dentro do ambiente de trabalho, pode se submeter às pessoas, tentando não mostrar raiva ou qualquer atitude que resguarde seu campo. Tal submissão pode demonstrar uma polidez externa, que cobre um ódio e raiva enorme interior. Sorrisos, cooperação, aceitações incondicionais, pouca ou nenhuma manifestação de seus desejos ou pensamentos, evitação, formação de grupos de resistência, liderança democrática, onde não é aplicável, etc…

De outro lado está a raiva exposta, imposição de suas vontades, conflitos abertos e sem solução, vinganças, lideranças ditatoriais, onde não é aplicável, exigências absurdas de produtividade, utilização de imagem pessoal como opressão do outro, etc…

E ainda resta a sedução, os jogos dúbios, os convencimentos elogiosos falsos, a malemolência, etc…

São todas manifestações dos traços de caráter diante de sistemas de relações no trabalho e na sociedade.

A forma de sair destes comportamentos e condicionados é movimentar a couraça, sair do congelamento que ainda funciona sobre a pessoa, assumindo riscos em enfrentar a sua dor interior para que também o grupo se beneficie de seu movimento. A couraça corporal de caráter é um congelamento evitativo da dor, quanto mais se movimenta e flexibiliza, mais energia e movimento se ganha o individuo e a comunidade.

]]>
https://minasi.com.br/molduras-para-pessoas-tracos-de-carater/feed/ 0 3136
Minha mãe é narcisista? Será? E, agora? https://minasi.com.br/minha-mae-e-narcisista-e-agora/ https://minasi.com.br/minha-mae-e-narcisista-e-agora/#respond Mon, 20 Jun 2022 13:54:28 +0000 https://minasi.com.br/?p=2884 “Você só está vivo(a) graças a mim”. “Você me deve”. “Você não valoriza nada do que eu faço para você”. “Você não faz nada direito”. “Quando eu tinha a sua idade, já tinha feito mais e melhor”. Mães que usam frases como essas de forma recorrente apresentam uma chance de serem narcisistas ou de terem traços de narcisismo, sabia? E mais: há ainda uma probabilidade de que os indivíduos que ouvem declarações do tipo repitam o padrão com seus próprios filhos. “Uma pessoa narcisista tem traços de egocentrismo, de uma visão hiperinflada a respeito dela própria. Ela se supervaloriza sempre, em qualquer situação”, explica o psicanalista Artur Costa, professor da Associação Brasileira de Psicanálise Clínica (ABPC).

O nome vem da mitologia grega. Narciso era um belo jovem que, ao ver seu reflexo sobre um lago, apaixonou-se tão perdidamente por si mesmo, que caiu nas águas profundas e morreu afogado. “Existem pessoas que têm traços narcisistas em alguns momentos e ambientes, e pessoas que desenvolvem o transtorno psiquiátrico mesmo”, diferencia o especialista.

Quando esse traço ou esse transtorno se aplica a uma mãe, as consequências podem ser graves e, como já mencionamos, até levadas de geração a geração, perpetuando o problema. “Grande parte dos traumas acontece na infância e uma mãe narcisista pode causar traumas extremamente profundos nos filhos, mesmo enquanto eles ainda são muito pequenos. O dano é realmente muito potente e vai se refletir na vida adulta, inevitavelmente”, aponta Costa.

De acordo com estimativas levantadas nos Estados Unidos e publicadas no periódico científico The Journal of Clinical Psychiatry, a prevalência do transtorno em homens é muito maior – cerca de 75% dos casos diagnosticados são em pacientes do sexo masculino. Mas por que, então, se fala mais de mães narcisistas do que de pais narcisistas? Segundo o psicanalista, os danos são maiores e mais sensíveis nas mulheres justamente por causa da maternidade.

Filhos atingidos por uma mãe narcisista não tratada vão transferir algumas dessas coisas para os seus futuros filhos também

Ser filho ou filha de uma mãe narcisista: como é?

“A mãe narcisista admira somente a si mesma. Ela pode até admirar outras pessoas, desde que essas outras pessoas se pareçam com ela”, explica o psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Por isso, uma das características da mãe narcisista é querer ou até exigir que os filhos sejam e ajam exatamente como ela. Se não fizerem dessa forma, deixam, automaticamente, de merecer seu amor e sua atenção. “Ela é centralizadora, manipula, abaixa a autoestima dos outros. Às vezes, usa doenças para controlar quem está à sua volta”, exemplifica Bottura.

Há também as mães que se gabam excessivamente dos filhos e projetam neles tanto suas expectativas como suas frustrações. Elas vivem a vida dos filhos, não voltam para a vida delas, conforme as crianças se desenvolvem”, acrescenta a psicóloga Lígia Dantas, membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e criadora do Entra na Roda, um grupo de apoio psicológico online de acolhimento a mães e mulheres.

São mães que olham apenas para si – e querem que todos façam o mesmo, principalmente, o parceiro, a parceira e os filhos. Quando as crianças começam a se desenvolver e a criar interesses diferentes, elas simplesmente não conseguem aceitar. “Já atendi casos em que a sogra, ao passar o fim de semana na casa dos filhos adultos, queria dormir no meio, na cama do casal”, conta Lígia.

Existe também a questão da competição com os filhos, sobretudo na adolescência. Elas querem mostrar que são melhores e que sabem mais. Os sentimentos dos jovens, neste caso, são sempre invalidados.

Por trás desse comportamento…

Por mais paradoxal que pareça, a mãe narcisista tem dificuldade com sua autoestima, por isso, é tão dependente da admiração externa. Muitas vezes, a projeção sobre os filhos (desejar que eles sejam perfeitos, arrumá-los impecavelmente e deixá-los o mais parecido possível com ela) é uma tentativa de fazer com que eles recebam elogios e, assim, saciem seu ego.

“O tempo todo e a qualquer custo, ela vai querer ser reconhecida para suprir esse amor-próprio que não consegue produzir sozinha. Então, sempre vai exigir do parceiro, da parceira, dos filhos, o reconhecimento daquilo que faz e, às vezes, de forma mecânica”, aponta o psicanalista Artur. “O narcisista sempre acha que ele trabalha mais, que o sofrimento dele é legítimo e o do outro não. Muitas vezes, é hipersensível, por tudo se magoa, se fere. Quando começa a sangrar, não para nunca, não suporta uma crítica de qualquer tipo que seja”, acrescenta.

De acordo com o especialista, trata-se de alguém que não consegue se doar, apenas receber doações. “Ela tem dificuldade de ofertar seu tempo para os filhos, porque vai querer que eles, na verdade, deem a ela o máximo de tempo e de atenção. Pode ser abusiva, justamente por se considerar superior. Cria suas próprias regras, exige excessivamente respeito e nunca pede desculpa. Admitir culpa é se diminuir e diminuir a visão que ela tem a respeito de si mesma”, pontua.

Grandes prejuízos e muita terapia

E quais são os reflexos de tudo isso para essas crianças? “O transtorno narcisista na maternidade tem danos gigantescos, até mesmo para a sociedade, porque gera um dano nos filhos e, consequentemente, nos netos. Filhos atingidos por uma mãe narcisista não tratada vão transferir algumas dessas coisas para os seus futuros filhos também”, diz o psicanalista. Está aí, inclusive, uma das explicações mais comuns para uma pessoa narcisista: pode ser que, de alguma forma, ela esteja repassando o que viveu ou, então, usando tais atitudes como um mecanismo de autoproteção.

Tudo isso, enquanto o filho cresce invalidado, tendo suas opiniões e seus desejos atropelados pela “soberania” da mãe. “A criança vai se sentir sempre insegura em tomar suas próprias decisões, vai ficar totalmente dependente dessa mãe”, aponta a psicóloga Lígia. Tal contexto, de acordo com a psicóloga, prejudica as relações sociais e profissionais. “Uma mãe narcisista pode deixar o filho infantilizado também”, complementa.

Quando as crianças crescem e começam a criar novos vínculos, vem um outro momento desafiador. “Às vezes, a mãe ocupa todos os espaços, todas as necessidades. ‘Para que você vai casar? Se relacionar? Tem tudo aqui em casa. Te dou amor, comida’. Ela se acha onipotente”, exemplifica Lígia.

“A mãe narcisista eventualmente quer escolher com quem os filhos vão se relacionar. Eles se veem envolvidos em uma manipulação tão forte, que não conseguem escapar. Há muito dano à liberdade e ao direito de as pessoas fazerem o que têm vontade de fazer”, diz o psiquiatra Wimer Bottura.

Os traços de narcisismo na maternidade trazem prejuízos também para a própria mãe, que, em vez de celebrar, vai sofrer mais a cada passo do filho; que vai ter ainda mais dificuldades nessa missão exaustiva e que exige tanto das mulheres; que fará escolhas muitas vezes desconfortáveis e desvantajosas a ela mesma, apenas para receber elogios e atenção; que precisará lidar com o afastamento das crianças, conforme elas percebem a situação e ganham independência.

Todo mundo é narcisista – e isso pode ser bom!

É importante ressaltar que traços de narcisismo são comuns a todos nósE, em certo momento, especificamente na maternidade, são até essenciais! “Existe uma fase, falando de mães, em que é necessário ser narcisista. É com essa característica que ela vai ler o desejo do bebê a partir da sua experiência”, aponta a psicóloga Lígia.

Segundo a especialista, como o bebê não fala, a mãe pensa, supõe e age para atendê-lo a partir de seus próprios desejos e perspectivas. “É a chamada fase do espelho, em que ela olha para o outro e se vê”, explica a psicóloga. “É um período fundamental para a constituição psíquica do bebê. Sua mãe vai nomeando e ajudando ele a entender o mundo”, explica.

A psicóloga afirma que esse é um processo necessário e, caso não aconteça, há inúmeros prejuízos – por exemplo, a não criação de vínculo entre os dois. “Só que, em determinado momento, isso tem que começar a se deslocar, para que o filho possa se desenvolver. O que acontece com a mãe narcisista é que, muitas vezes, ela acaba vivenciando, olhando aquele filho como uma continuidade dela. Não permite que ele cresça e não volta para a vida dela”, diz.

Como lidar com uma mãe narcisista e o que fazer se você se identificar como uma?

O primeiro desafio é perceber que você é/tem uma mãe narcisista e que certos comportamentos não são normais. Em seguida, é necessário procurar ajuda – tanto sendo filho quanto sendo a mãe. “É preciso buscar uma terapia”, recomenda o psiquiatra Wimer Bottura.

Dizer à mãe que ela é narcisista e que precisa de ajuda é um desafio, já que a mensagem será entendida como uma crítica. Há ainda uma outra questão. Quando ela consegue perceber a existência do problema e se dispõe a fazer um tratamento, vem outra etapa nada simples: provavelmente, a mãe narcisista achará defeitos em todos os profissionais com quem conversar. “Ela vai admirar o terapeuta enquanto ele a admira. Quando ele começar a confrontá-la, ela vai querer fugir e tentar encontrar outro. É preciso ter muita habilidade”, afirma o psiquiatra.

Não se trata de um processo fácil, mas o resultado tende a ser bastante compensador para todos. Se, de alguma forma, você se identificou com o que acabou de ler, pare, reflita e lembre-se: pedir (ou aceitar) ajuda pode fazer toda a diferença.

Artigo publicado no website bebe.com.br, por Vanessa Gomes.

]]>
https://minasi.com.br/minha-mae-e-narcisista-e-agora/feed/ 0 2884
5 segredos para neutralizar um narcisista https://minasi.com.br/5-segredos-para-neutralizar-um-narcisista/ https://minasi.com.br/5-segredos-para-neutralizar-um-narcisista/#respond Thu, 24 Jun 2021 14:08:14 +0000 https://minasi.com.br/?p=2434 O segredo para neutralizar um narcisista é analisar a veracidade do que ele diz ou faz, sem se deixar enganar pela magia que costuma emanar.

Neutralizar um narcisista não é nada fácil, pois ele é um encantador que desfruta de um apoio social significativo. Conta com diversos recursos que conseguem “encantar”. Além disso, ela não se vê como uma narcisista, mas como o fruto de um feitiço.

No início, o narcisista recebe a admiração dos outros. Ele é um divulgador incansável de seus próprios sucessos, que de fato tende a aumentar além da crença. Se para a maioria das pessoas o ego é o principal ponto de referência, para o narcisista é ainda mais.

Essas pessoas costumam ocupar cargos de chefia. Nesse caso, muitas vezes exercerão seu poder encantador de maneira muito direta. Nesse sentido, eles se cercam de pessoas que os amam para que possam controlá-los com mais facilidade. No entanto, existem maneiras de neutralizar um narcisista .

Pode ser mais fácil do que pensamos. Basta uma boa dose de caráter e determinação. Vamos ver 5 afirmações que podem limitar esses assuntos.

“Você não acha estranho ter fotos suas por todo lado? Parece que está tentando provar que existe.”

-Candace Bushnell-

1. “Não“, a palavra mágica que pode neutralizar um narcisista

O narcisista sempre quer ouvir um sim e que os outros compartilham de seu ponto de vista integralmente. A submissão dos outros lhe garante uma forma de controle. Isso significa que sua influência e poder sobre os outros estão intactos.

A palavra “não” é, portanto, uma das ferramentas para neutralizar um narcisista. Não concordar com ele ou se distanciar de suas afirmações compromete inevitavelmente a ideia que ele terá de nós.  Assim, passaremos em seus olhos para o lado da “ignorância”, pois não podemos ver a realidade.

2. “Eu não acredito em você, me mostre!”

Os narcisistas costumam contar  mentiras  e de maneiras diferentes. Às vezes exagerando ou menosprezando pessoas e situações, outras inventando episódios do zero para elogiar a si mesmo ou denegrir os outros, ou para criar fantasias simples.

Se você estiver na presença de um narcisista e perceber que ele está mentindo, não hesite em questionar suas afirmações. Peça a ele uma prova ou prova de suas palavras. Liste os argumentos que o fazem questionar a veracidade de suas declarações. Ele provavelmente vai reagir indo embora. Em qualquer caso, você deve ter deixado claro que não está disposto a aceitar todas as afirmações pelo seu valor nominal.

3. “Você não é superior aos outros”

Implícita ou explicitamente,  o narcisista quer provar que é superior. Ele sempre deixa entender que sabe mais ou que sabe fazer melhor, que é capaz de pensar maior e que sempre se dá melhor do que as pessoas ao seu redor.

Ele deve ser lembrado de que embora seja capaz de fazer, dizer ou pensar com maior destreza, ele não é superior aos outros. Diga a ele que qualquer pessoa com bom treinamento e nas circunstâncias certas pode se destacar em sua área de especialização. E que se nos sobressairmos em um campo, certamente haverá outro para o qual não somos adequados. Além disso, isso faz parte da natureza humana.

4. “Não tenho medo de você!”

A melhor maneira de neutralizar um narcisista é não ter medo dele. Essas pessoas se apoderam das inseguranças e medos das outras pessoas . Têm sempre o cuidado de descobrir os pontos fracos das pessoas à sua volta para poderem atingi-los. Eles não poupam os golpes baixos, tentando destacar as fraquezas dos outros, apenas para fazer os outros se sentirem mais inseguros.

Não tolerar seus ataques e questionar suas afirmações é uma forma de mostrar que você não tem medo deles. Fique à vontade para deixar o narcisista se ofender. Não permitir que seus golpes baixos caiam é a melhor maneira de contra-atacá-lo. Um narcisista não sabe lidar com quem não tem medo dele.

5. “Não mude de assunto!”

O narcisista sempre quer vencer. Se discutir, ele percebe que está errado, para não concordar com seu interlocutor ele vai mudar de assunto. Se ele cometer um erro óbvio, tentará desviar a atenção para outra coisa. Eles geralmente são muito bons em manipular situações.

Se você costuma lidar com um narcisista, precisa impedi-lo de procurar espelhos ou de se confundir com suas conversas. Traga a conversa de volta ao tópico principal.  Ele provavelmente nunca admitirá seu erro, mas compreenderá que não pode manipulá-lo.

Neutralizar um narcisista não é fácil. São necessários  coragem , inteligência e determinação. Porém, vale a pena tentar porque equivale a não ser vítima de manipulação e a ter relações sociais mais saudáveis. O narcisista não se sente à vontade consigo mesmo e, ao não admitir, tenta usar os outros. Não me deixe fazer isso com você.

Artigo publicado na revista La mente é Maravigliosa, com tradução livre.

]]>
https://minasi.com.br/5-segredos-para-neutralizar-um-narcisista/feed/ 0 2434
O aqui e o agora – notas encarnadas sobre a catástrofe https://minasi.com.br/o-aqui-e-o-agora/ https://minasi.com.br/o-aqui-e-o-agora/#respond Tue, 21 Apr 2020 14:10:37 +0000 https://minasi.com.br/?p=1935 Por Xavier Serrano Hortelano

A realidade pandêmica que estamos experimentando durante estes meses, independente das interpretações, é uma catástrofe internacional que trará consequências gravíssimas, em todos os níveis, como advertem alguns especialistas, que podem ser similares àquelas sofridas por uma guerra mundial.

As crises, tanto pessoais como sociais, assim como em qualquer catástrofe, chegam de surpresa. Por isso, em grande medida, estamos agora vivendo uma espécie de experiência onírica. Muitas das pessoas a quem atendo me dizem: “É como se estivesse em um sonho, ante o qual não consigo reagir”. Nossa percepção agora sofre uma certa alteração da consciência, porque a realidade social e cotidiana é, em grande medida, desconhecida. De modo que sofremos mudanças nos ritmos vitais, alterações no sono, sensações estranhas e uma vivência diferente da passagem do tempo.

É como se estivesse em um sonho, ante o qual não consigo reagir”.

E este sonho não é agradável, se assemelha mais a um pesadelo, onde nos encontramos com a vulnerabilidade e a morte, que são o que costumam acompanhar qualquer catástrofe. As pandemias, diferentes do resto, são catástrofes lentas, onde o estado de alarme, a tendência ao caos e ao pânico, vão mostrando-se e aumentando progressivamente.

Outros especialistas e enfoques psicológicos que também abordam e estudam o fenômeno do medo, como os sistêmicos, os cognitivistas ou os construtivistas, propõem que estas situações estimulam a criatividade, a emergência de valores tais quais a solidariedade e conduzem à busca por soluções. Em minha opinião, esta descrição pode ser atribuída à reação instintiva que é produzida na natureza, em geral, e nos mamíferos, em particular, mas, em muitas ocasiões, não é a que observamos no mamífero humano. No nosso caso, fomos perdendo o contato com o funcionamento instintivo, e somos movidos mais por padrões de conduta social estereotipada, governados pelo predomínio e especialização da razão, do pensamento cortical, devido, fundamentalmente à influência dada sociedade patriarcal na qual temos vivido durante séculos, que tem menosprezado o mundo do instintivo, dos afetos, da ternura, da sexualidade, das relações humanizadas, em pró de alcançar objetivos, da eficácia e da supremacia fálica do poder, o qual se reflete nas relações não saudáveis que se mantém nos ecossistemas essenciais (família e escola), muito distantes daqueles que permitem estabelecer atmosferas ecológicas, próximas do funcionamento natural do Vivo. Portanto, é preciso ter claro que se o medo conduz os mamíferos a uma solução, no ser humano, costuma levá-lo a uma encruzilhada.

Visto que é certo que, a nível conductual e de resposta social estamos longe de produzir respostas instintivas auto organizadas ou autopoiéticas-, segundo a definição de Humberto Maturana-, a nível biológico sim somos capazes de tê-las pois, ainda que, nas pandemias sofridas pelo ser humano ao longo da história muitas pessoas tenham falecido, nossa espécie logrou sobreviver. Podemos compreender melhor tal fato aplicando também a teoria da Ressonância Mórfica de Sheldrake, segundo a qual a espécie humana, como o resto das espécies, acumula o legado das respostas de sobrevivência de séculos, no terreno biológico. Cada vez que surge uma variável molecular, frente a qual a espécie não está acostumada, existe um período de vulnerabilidade onde ocorrem falecimentos, até que chega o período de auto organização imunitária, sem que tenham, necessariamente, existido vacinas ou soluções médicas prévias específicas.

É preciso ter claro que se o medo conduz os mamíferos a uma solução, no ser humano, costuma levá-lo a uma encruzilhada.

Neste sentido, recordo a frase de Daniel Defoe, em seu livro O ano da peste onde, em sua descrição romantizada de uma das pandemias históricas, relata: “A sociedade ficou perplexa quando perceberam que, se repente, sem nenhum medicamento novo, sem nenhuma intervenção diferente, as pessoas não apenas deixavam de morrer, senão que, também recuperavam-se e curavam-se. Nem sequer os médicos o pudessem explicar, porque era um feito Divino. Deus nos castigou e Deus agora nos perdoa”. Como não era possível existir outra explicação possível em meados do século XIX, tanto Defoe como a maioria o atribuíram a uma ação divina. O que é certo, em todas as pandemias, é que elas duram seu tempo. Hoje estamos melhor preparados, não apenas por alguns avanços médicos, como também porque os seres humanos estão melhor imunizados, como espécie, do que há séculos passados. Exceto em tribos isoladas, com pouco contato com a civilização, que são especialmente vulneráveis e poderão desaparecer se não forem tomadas medidas adequadas, coisa que já pode estar ocorrendo em lugares como a Amazônia, com a consequente tragédia e genocídio humano.

Podemos considerar a crise atual como uma catástrofe internacional, com uma base biológica, que durará um tempo e causará mortes. Os falecimentos dependerão, por sua vez, de duas variáveis:

  • A primeira, consequência da mutação biológica, fruto de uma natureza agredida a nível mundial, de uma Gaia maltratada por nossas ações destrutivas, que continuarão a gerar catástrofes geofísicas e biológicas. Talvez por isso o século XXI será o século das catástrofes “naturais”, enquanto o século XX foi o das bélicas.
  • A segunda, pela maior ou menor força biológica e psicossomática de cada pessoa, consequência tanto de sua predisposição congênita, como do distress sofrido ao longo de sua história pessoal, especialmente durante os primeiros anos de vida.
Gaia

Ambas coisas poderiam ser paliadas, erradicando fatores de risco de todo tipo no primeiro caso, e utilizando medidas preventivas nos ecossistemas essenciais (famílias, escolas, organizações…) como as que se plasmam no projeto que denominei em seu momento de Ecologia dos Sistemas Humanos.

Na presente ocasião, não irei valorar as decisões tomadas pelos governos frente à crise, mas sim valorarei as suas consequências. A imobilidade e o confinamento durante meses levará a uma recessão da economia e um sofrimento emocional e infraestrutural muito grande para milhões de pessoas, com consequências não apenas sociais e econômicas, como também psicossomáticas, que irão ocasionar condutas defensivas e patológicas. Nos encontraremos com reações muito distantes do funcionamento instintivo e natural como espécie que descrevi acima, e darão-se respostas baseadas no predomínio das, assim nomeadas por Wilhelm Reich, “pulsões secundárias culturais”, como o egoísmo, o individualismo, o sadismo, etc.

Tais pulsões tomam forma através de nosso Caráter, termo que este mesmo autor descreve como a couraça do ego. Ou seja, a soma de mecanismos de defesa organizados ao longo do nosso processo maturativo, em forma de traços de conduta rígidos, que formam parte de nossa personalidade. Entre eles, observamos traços compulsivos, fálicos, masoquistas ou histéricos.

É preciso aprender a navegar em um oceano de incerteza, através de arquipélagos de certezas”

Desta forma, durante o tempo do confinamento, irão tomando força tais atitudes caracteriais para fazer frente à crise e, no entanto, com o tempo tais atitudes podem ir desmoronando, dando lugar a reações mais profundas, consequência da Estrutura do caráter, ou seja, do padrão de organização essencial de cada pessoa:

  1. Reações impulsivas ou dissociativas, no caso da Estrutura Fronteiriça
  2. Cindidas pelo pânico, ou paranóicas-conspirativas-delirantes, no caso da Estrutura Psicótica
  3. Adaptativas, porém vivendo conflitos pessoais ou relacionais mais ou menos sérios, em função de seu traço de caráter imperante, no caso da Estrutura Neurótica.

O que pode refletir-se concretamente em condutas com rotinas compulsivas, emergências depressivas, vitimistas, de desesperação, evasivas-maníacas, de caos histriônico ou colocar-se como grande líder, salvador da humanidade.

Partido desta avaliação sistêmica e estrutural da situação atual, antes de propor as possíveis medidas de enfrentamento da crise e dos pós crise, devemos assumir que as consequências desta pandemia serão globais e imprevisíveis, a curto e médio prazo. Por isso, conforme escreveu Edgar Morin: “É preciso aprender a navegar em um oceano de incerteza, através de arquipélagos de certezas”. E, para nós, quais são estes arquipélagos? As leis gerais da Ecologia de Sistemas Humanos. Aplicando-as, poderemos navegar de forma mais segura e eficaz.

O ponto de partida que nos permitirá fazê-lo emerge da Teoria da Complexidade, do mencionado filósofo E. Morin, segundo a qual, para conhecer a realidade de um fenômeno, devemos detectar o maior número possível de variáveis que o fazem possível. Por isso, tampouco em esta crise será possível adotar posições baseadas em dar resposta a uma única variável. Como podemos observar em algumas posturas reativas, onde o Governo passa a ser a figura responsável por tudo que acontece; ou a postura de refugiar-se em ideações místicas, com cantos de sereia, pensando que tudo se irá solucionar pela força da natureza e que o ser humano vai mudar a partir de agora e tudo será diferente; nem, tampouco, a de fincar-se no mero pragmatismo mecanicista de pensar que tudo passa por soluções médicas e por uma vacina salvadora. A situação é complexa e, portanto, devemos buscar respostas que considerem as diversas variáveis que estão influindo nesta crise.

Navegar em um oceano de incerteza, através de arquipélagos de certezas

Podemos encontrar uma ajuda necessária para continuar este propósito adotando a posição aconselhada por W. Reich de “observação silenciosa, que nos lembra, por sua vez, um princípio da física quântica, segundo a qual as particularidades do observador passam a ser uma variável mais a ter em conta na observação de qualquer fenômeno que se investigue. Nesta observação silenciosa, como primeiro passo, o próprio observador deve perguntar-se o que está sentindo e como está experimentando o que observa, assim como em que condições se encontra.

Se o aplicamos à situação atual, não tem muito sentido propor alternativas ou resolver os problemas dos demais, se previamente não me detenho, encarando-me e perguntando-me: “Como estou vivendo e sofrendo esta crise terrível?… Que sensações estou experimentando?… Como me sinto durante a noite e durante o dia?… Como estou junto aos outros?… Mais irritado(a), mais deprimido(a), ansioso(a), sonho mais ou menos, durmo ou não?… Como experimento o passar do tempo, a ausência do encontro social?” Nesta auto observação aprenderei e poderei administrar melhor meus recursos.

Um segundo passo será a observação do exterior. Temos que ratar de observar, sem preconceitos, sem categorias nem interpretações. Evitando o que Reich advertia: “receberemos a pressão da interpretação mecanicista das coisas”. Neste caso, por parte daqueles que ficam pendentes na descrição do dano do vírus: as mortes diárias, as medidas a tomar para não contagiar-se, a crise econômica que supõe a pandemia… tudo o que, ao não ser adequadamente contextualizado, aumentará o medo coletivo à pandemia. Evidentemente, esta é uma parte da realidade, porém esquecem-se de dar informação de outras variáveis, como a lógica imunológica individual e social, ou a influência que tem o maltrato que realizamos à natureza no surgimento desta pandemia. Ao mesmo tempo em que se reconhece que este coronavírus, junto com o resto de milhões de outros vírus, formam parte da Biodiversidade, e como tal, tem uma função vital, que devemos investigar e compreender, para neutralizar de uma forma ecológica a pandemia, e prevenir outras possíveis vindouras, em lugar de apresentá-lo como um inimigo invisível que é preciso destruir e vencer. Para tanto, é necessário facilitar os recursos necessários para equipes especializadas e científicas que seguem estas linhas de pesquisa, como Máximo Sandín ou Patrick Forterre.

Wilhelm Reich

Por sua vez, outros refletem apenas parte da realidade, ao descrever e enfatizar as capacidades próprias dos humanos, aqueles que preconizam uma resposta idealizada do ser humano frente a esta crise, dizendo que seremos capazes de aproveitar para mudar, para sermos solidários e recuperar uma certa consciência cósmica que promova um futuro mais sustentável. Porém, não devemos esquecer que tais capacidades do ser humano estão reduzidas e limitadas pela couraça e estrutura caracterial de cada qual, de modo que, uma coisa é querer e outra é poder. E não podemos esquecer que a crise econômica e social será global, mundial, e provocará tensões e conflitos, de modo a colocar à prova nossa capacidade potencial de sermos mais humanos, frente ao pânico do indivíduo encouraçado.

A partir desta posição de Observação Silenciosa, uma vez que tenhamos realizado as duas tarefas descritas, teremos acesso a uma maior compreensão do fenômeno (a crise pandêmica), o qual nos permitirá desenhar uma adequada estratégia de intervenção.

Outras duas ferramentas que nos serão necessárias para avançar nesta viagem são a Teoria do estresse (sofrimento) de Hans Selye, e a Inibição da ação de Henry Laborit ao estresse (melhor dito, distresse) da catástrofe, é preciso somar o que levamos no nosso interior, resultado dos medos experimentados em nossa história. Ambos preconizam respostas patológicas psicossomáticas descritas por Selye, que se agravam ao não poderem reagir frente a frustração que nos produz o empobrecimento, a doença, a imobilidade ou a falta de acompanhamento no luto próximo, enquanto que as razões de Estado parecem justificar a realidade que estamos vivendo, somando às patologias anteriores aquelas produzidas pelas alterações neuro-hormonais descritas por Laborit.

Aplicando ambas teorias à nossa situação atual, devemos estar preparados e alertar ao coletivo sanitário do aumento considerável de reações orgânicas psicossomáticas agudas e de crises emocionais e psicopatológicas, quadros agudos de ansiedade, ataques de pânico, depressão, etc., que irão aparecendo conforme avance a crise e comece a paulatina recuperação. De momento, nosso sistema defensivo (couraça caracterial) está contendo os processos de adoecimento porque “sabe” que não receberá atenção, evade da percepção e evita sua emergência. Porém, quando se deem as condições, a emergência será virulenta e aguda. É uma dinâmica similar a de um acidente de trânsito. Em um primeiro momento, recuperamos toda a normalidade possível, porém progressivamente aparece o trauma e as consequências do impacto.

Da mesma forma, junto à emergência de patologias individuais, conflitos de casal ou crises familiares, fruto do distresse da catástrofe, temos que prepararmo-nos para a crise econômica de magnitudes pós bélicas. Por mais que os governos tentem neutralizar seus efeitos, estas se irão produzir, e como costuma ocorrer, os mais vulneráveis serão os mais afetados.

Previnir e preparar-se para enfrentar este porvir supõe aceitar e aplicar outra de nossas principais leis: o fato de que apenas com a cooperação e o apoio mútuo, frente à tendência do egoísmos sobrevivente, é possível conter e superar estas situações extremas. Aplicando a etnologia, faz mais de um século que uma figura libertária, Pior Kropotkin, o traduziu em seu livro magistral O apoio mútuo. Não se trata de “cooperativismo”, senão de somar esforços, capacidades pessoais e gerir funcionalmente os recursos coletivos, para conseguir objetivos comuns.

Somos nós que devemos tomar as rédeas da situação, começando a desenvolver relações baseadas no respeito, no reconhecimento de funções e na gestão de recursos a partir da autogestão

Não é uma tarefa fácil, porque ninguém nos ensinou, ao contrário, aprendemos a funcionar na direção contrária e, em alguns casos, nossas experiências nas relações pessoais e sociais foram tão destrutivas que nossa tendência é a de nos defendermos do Outro, porque deixamos de diferenciar entre “iguais” e “contrários”. O que leva a dinâmicas de evitação, fuga, inclusive de traição, tal como está representados na figura de Judas nos Evangélios, que W. Reich analisa junto de outros exemplos, dentro do que define como reações de peste emocional. Não apenas me refiro a reações individuais, como também aos movimentos corporativistas de grandes companhias, as quais aproveitarão esta situação de crise e morte, como fazem os abutres e os vermes. Inclusive, dão-se as condições para o ressurgimento de líderes fascistas, que com suas mentiras, suas difamações aos representantes democráticos e suas promessas de segurança e controle, enfeitiçam as massas necessitadas de bálsamos curativos, e surja tentativas de uma nova ordem autoritária internacional. Tampouco isto deve nos surpreender, mas devemos preparar-nos para evitar o máximo possível suas repercussões.

Também é certo que é mencionado e proposto, nos discursos políticos de muitos governantes e líderes sociais a necessidade da cooperação entre partidos e nações, frente à crise mundial que estamos vivendo. Porém, sabemos pela história, que este conceito de cooperação, infelizmente, quer dizer, melhor dito, uma colaboração para repartir-se o bolo de uma forma mais ou menos equitativa entre os poderosos, deixado migalhas ao resto. A solidariedade do poder se pode medir pelo número de interesses ocultos para aproveitar- se das circunstâncias, desenhando a forma de fazê-lo em cada nova situação. Podem perder algo, porém, mais tarde, recuperarão o perdido com “juros”.

Por esse motivo, devemos aceitar os limites das políticas governamentais, apesar de podermos apoiar as ações e propostas de alguns líderes de esquerda e representantes políticos em favor dos mais vulneráveis, como está acontecendo no Estado Espanhol. Conscientes, por sua vez, de que se encontrarão coibidos pelos vermes da direita e pelos partidos fascistas, que representam os poderes existentes e com a falta de apoio dos demais partidos que continuarão com suas demandas por sempre, sem adaptarem-se à nova realidade e à busca conjunta de soluções para a magnitude da crise e a catástrofe que estamos vivendo. Muitas vezes não lembramos nem aprendemos da história, e o mecanismo de “compulsão à repetição” que Freud descreveu em relação à neurose individual é contemplado na dinâmica social, tão bem descrita no livro de vanguarda de W. Reich: Psicologia de Massas do Fascismo.

Reich foi um dos que, em um momento pós-bélico, retoma esse princípio libertário de cooperação e o integra aos seus conhecimentos caracteroanalíticos, defendendo um movimento social de “democracia do trabalho”, de autogestão em pequenos espaços sociais (que posteriormente se chamarão sistemas e ecossistemas): família, escola, coletivos, organizações. Locais onde é possível e realista começar a estabelecer atmosferas mais ecológicas e implementar os princípios de apoio mútuo e solidariedade. Sabendo que é precisamente nesses sistemas essenciais que eles sempre procuram apoiar e influenciar os estados de poder, impondo seus próprios valores retrógrados e interessados. Mas como sabemos que isso pode acontecer, tentaremos mudá-lo, porque são nossos espaços reais, aqueles que podemos gerenciar e naqueles em que não temos presença ativa -organizações burocráticas, municipais ou governamentais-, participaremos indiretamente, por meio de reivindicações funcionais e votos úteis.

Somos nós que devemos tomar as rédeas da situação, começando a desenvolver relações baseadas no respeito, no reconhecimento de funções e na gestão de recursos a partir da autogestão. Não esperemos que nos entreguem de mão beijada. Não esperemos que o governo nos dê um salário, nos dê uma casa, nos pague o aluguel, porque isso poderá fazer por um mês, dois, com alguns milhares de pessoas, mas não com todos. Sejamos nós, com nosso trabalho e com nossos recursos e capacidades, que devemos sentirnos capazes de fazê-lo. Ao mesmo tempo que transmitimos conhecimentos e denunciamos as fraudes e a desinformação dos usurários e daquel@s que se escondem atrás das lentes das promessas que nos chegarão.

Quadro The Earthly Paradise
The Earthly Paradise

Superemos a crise com nossa unidade, a partir da igualdade, da liberdade e da fraternidade, palavras regadas em uma época com o sangue de muitos e muitas. E com a cooperação e a prática de dinâmicas criativas, ecológicas e de autogestão em nossos coletivos ecologistas internacionais, ao mesmo tempo que reivindicamos ações políticas e mudanças legais, e apoiamos propostas válidas de políticos honestos e confiáveis, sabendo que a trama do poder econômico empregará seus mecanismos para freá-las.

Assim, portanto, “sejamos realistas, peçamos o impossível”, como se reivindicava no movimento francês de Maio de 68. Para que? Para poder trabalhar pelo possível, a partir dos nossos limites e do nosso ritmo ir avançando para poder constuir aquilo que sim, podemos: tentemos estabelecer relações humanas e ecológicas com nossos iguais; com nossos cônjuges, com nossos filhos e filhas desde o princípio da vida; nos espaços escolares e em nossos coletivos cotidianos. Criemos meios para poder ir transformando nossa percepção embrutecida, nosso constrangimento emocional e nossa rigidez caracterial em Estruturas Humanas, e das gerações futuras, com o objetivo que recuperem nossa capacidade de Viver e formar parte da “trama do Vivo” (Fritjof Capra).

Façamo-lo, “encarnando a vitalidade”, conceito que de maneira minuciosa pesquisou e definiu o grande neurocientista Antonio Varela. Isto é, encarnemos as impressões, ideias, sensações que podem estar em nossas cabeças, que podem ser muito bonitas e poéticas, mas podem não passar de meras ideias. Encarnemo-as sentindo a força que possuem quando as integramos com nosso ser, com nossos afetos, nossa sexualidade, nossa criatividade e nossa capacidade de amar. E juntemos nossos corpos e nossos seres, em uma rede forte e segura, que estabeleça a matriz necessária onde poder avançar com nossas capacidades, possibilidades e contribuições pelo caminho que antes de nós forjaram aqueles que viveram, lutaram e inclusive morreram por ele: o caminho que leva à Utopia.

Tudo isto recorda-me as palavras do escritor Ernesto Sábato, plasmadas em seu requintado libro Antes do fim, publicado em 1999: “Apenas aqueles que sejam capazes de encarnar a Utopia, estarão aptos para o combate decisivo, o de recuperar o quanto de humanidade tenhamos perdido”.

Saúde e Força,

Xavier Serrano Hortelano
Psicólogo especialista em Psicologia Clínica. Psicoterapeuta caracteroanalítico. Exerce sua atividade clínica em Valência (Espanha) desde 1985. Diretor da Escuela Española de Terapia Reichiana (Es.Te.R.)
El Puig (Valencia), 15 de Abril de 2020

Clique e faça o Download do PDF contendo este artigo e distribua-o livremente.

]]>
https://minasi.com.br/o-aqui-e-o-agora/feed/ 0 1935
Wilhelm Reich, o pai da psicologia corporal https://minasi.com.br/wilhelm-reich-o-pai-da-psicologia-corporal/ https://minasi.com.br/wilhelm-reich-o-pai-da-psicologia-corporal/#respond Sun, 26 Jan 2020 20:22:51 +0000 https://minasi.com.br/?p=1888 A Psicologia Corporal

A Psicologia Corporal é uma ciência que estuda o homem em seu aspecto somatopsicodinâmico, onde o corpo e a mente são trabalhados em seu conjunto e em sua relação funcional.

Tem suas raízes nos trabalhos desenvolvidos por Wilhelm Reich (1897-1957), que abandonou a técnica da psicanálise quando descobriu que o corpo contém a história de cada indivíduo e é por meio dele que deveríamos buscar resgatar as emoções mais profundas.

Assim, Reich criou sua própria escola de pensamento e técnicas específicas, cuja prática está voltada tanto ao trabalho do corpo, como da mente, cuja base se dá na atuação direta sobre o sistema neurovegetativo (simpático e parassimpático). A essa técnica, Reich denominou de Vegetoterapia.

Na continuidade de seus trabalhos, Reich também descobriu que a energia que circula dentro do corpo humano é a mesma que no cosmos, à qual chamou de energia orgônio.

Então, sua técnica de trabalho passou a ser denominada Orgonoterapia, porque passou a integrar em um único trabalho as questões psicológicas, corporais e a dinâmica energética do paciente. Assim, consolidou-se a ciência que Reich chamou de Orgonomia.

Tomando por base os trabalhos iniciais de Reich, o médico americano Alexander Lowen complementou, acrescentou e modificou as técnicas iniciais, até encontrar seu jeito próprio de trabalhar. Construiu seus próprios constructos teóricos e práticos e denominou sua escola de Análise Bioenergética que tal qual a Orgonomia de Reich é uma das escolas de grande respeito e destaque.

Reich – O pai da Psicologia Corporal

Reich dava grande ênfase à importância de desenvolver uma livre expressão de sentimentos sexuais e emocionais dentro do relacionamento amoroso maduro. Reich enfatizou a natureza essencialmente sexual das energias com as quais lidava e descobriu que a bioenergia era bloqueada de forma mais intensa na área pélvica de seus pacientes.

Ele chegou a acreditar que a meta da terapia deveria ser a libertação dos bloqueios do corpo e a obtenção de plena capacidade para o orgasmo sexual, o qual sentia estar bloqueado na maioria dos homens e das mulheres.

As opiniões radicais de Reich a respeito de sexualidade resultaram em consideráveis equívocos e distorções de seu trabalho por autores futuros e, conseqüentemente, despertaram muitos ataques difamatórios e infundados.

Wilhelm Reich se interessou muito pela sexualidade humana. Quando era jovem estudante de Medicina, Reich visitou Freud pela primeira vez para procurar ajuda a fim de organizar um seminário sobre sexologia na escola médica que ele freqüentava (Higgens e Raphael, 1967). Além disso, a principal atividade política de Reich consistia em ajudar a fundar clínicas de higiene sexual patrocinadas pelos comunistas para a classe trabalhadora, na Austria e na Alemanha.

As idéias de Reich e suas clínicas eram muito controvertidas para a época e seu programa de para as clínicas de orientação sexual incluía características modernas ainda hoje. Entre seus tópicos destacavam-se:

  1. Livre distribuição de anticoncepcionais para qualquer pessoa e educação intensiva para o controle da natalidade.
  2. Completa abolição das proibições com relação ao aborto.
  3. Abolição da distinção legal entre casados e não-casados; liberdade de divórcio.
  4. Eliminação de doenças venéreas e prevenção de problemas sexuais através da educação sexual.
  5. Treinamento de médicos, professores etc., em todas as questões relevantes da higiene sexual.
  6. Tratamento, ao invés de punição, para agressões sexuais.

Quem foi Wilhelm Reich?

Reich nasceu no então Império Austro-húngaro, em sua parte mais oriental, numa família sem muitas posses e numa pequena vila. Era filho de Leon e Cecília Reich. Ainda jovem, mudou-se para Bukovina, onde o pai administrava uma fazenda. Teve nacionalidade austríaca até 1938, e falava o idioma alemão.

Em 1914 o pai morre de pneumonia (a mãe já tinha falecido em 1910) e Reich cuida da fazenda, ao tempo em que prossegue os estudos – mas no ano seguinte a fazenda é destruída durante os conflitos da I Guerra Mundial, e Reich alista-se no exército austríaco.

Em 1918, com o fim dos conflitos, Reich ingressa no curso jurídico da Universidade de Viena, mas logo transfere-se para a Faculdade de Medicina. Formando-se em 1923, inicia seus trabalhos com o tratamento de pacientes com distúrbios mentais, na Universidade Neurológica e Psiquiátrica, junto a Paul Schilder. Inclui no tratamento técnicas de hipnose e de psicoterapia.

Em 1924, faz sua pós-graduação, sendo membro integrante da sociedade psicanalítica de Viena, até 1930. Foi casado com Annie Reich, de que separou-se em 1932, vivendo com Elsa Lindenberg, com quem veio a casar-se em 1939.

Em 1933 é forçado pelo nazismo a sair da Alemanha, mudando-se para Oslo, na Noruega, laborando no Instituto de Psicologia da universidade local. Ali vive até 1939, quando muda-se para Nova York, cuidando de divulgar suas idéias, agora na língua inglesa, tendo seu “A função do orgasmo” sido neste idioma publicado a primeira vez em 1942.

Nos Estados Unidos Reich cria um instituto para o estudo do “orgônio universal”, que intenta utilizar em tratamentos – inclusive do câncer.

Reich dava grande ênfase à importância de desenvolver uma livre expressão dos sentimentos sexuais e emocionais dentro do relacionamento amoroso maduro. Reich enfatizou a natureza essencialmente sexual das energias com as quais lidava e descobriu que a bioenergia era bloqueada de forma mais intensa na área pélvica de seus pacientes.

Ele chegou a acreditar que a meta da terapia deveria ser a libertação dos bloqueios do corpo e a obtenção de plena capacidade para o orgasmo sexual, o qual sentia estar bloqueado na maioria dos homens e das mulheres.

Onde quer que fosse, Reich era tratado como louco, e suas idéias como pura mistificação. Seus seguidores atribuem a prisão, bem como as anteriores perseguições, a uma eventual conspiração da sociedade freudiana. Em 1954 passa a ser investigado pela FDA (Federal Food and Drug Administration), que lhe rende um processo e posterior aprisionamento, após infrutíferas tentativas de apelação. Encarcerado desde 12 de março de 1957, morre de ataque cardíaco em 3 de novembro.

Caráter

De acordo com Reich, o caráter é composto das atitudes habituais de uma pessoa e de seu padrão consistente de respostas para várias situações. Inclui atitudes e valores conscientes, estilo de comportamento (timidez, agressividade e assim por diante) e atitudes físicas (postura, hábitos de manutenção e movimentação do corpo).

O conceito de caráter já havia sido discutido anteriormente por Freud, em sua obra Caráter e Erotismo Anal. Reich elaborou este conceito e foi o primeiro analista a tratar pacientes pela interpretação da natureza e função de seu caráter, ao invés de analisar seus sintomas.

A Couraça Caracterológica

Reich sentia que o caráter se forma como uma defesa contra a ansiedade criada pelos intensos sentimentos sexuais da criança e o conseqüente medo da punição. A primeira defesa contra este medo é o Mecanismo de Defesa do Ego conhecido por repressão, o qual refreia os impulsos sexuais por algum tempo. À medida que as Defesas do Ego se tornam cronicamente ativas e automáticas, elas evoluem para traços ou couraça caracterológica.

Esse conceito de couraça caracterológica de Reich inclui a soma total de todas as forças defensivas repressoras organizadas de forma mais ou menos coerente dentro do próprio ego. Para ele, o desenvolvimento de um traço neurótico de caráter indicaria a solução de um problema reprimido ou, por outro lado, ele torna o processo de repressão desnecessário ou transforma a repressão numa formação relativamente rígida e aceita pelo ego.

Assim pensando, Reich afirma que os traços de caráter neuróticos não são a mesma coisa que sintomas neuróticos. A diferença entre esses traços neuróticos e os sintomas neuróticos repousa no fato de que sintomas neuróticos, tais como os medos, fobias, etc., são experienciados como estranhos ao indivíduo, como elementos exteriores à psique, enquanto que traços de caráter neuróticos (ordem excessiva ou timidez ansiosa, por exemplo) são experimentados como partes integrantes da personalidade.

A pessoa pode se queixar do fato de ser tímida, mas esta timidez não parece ser significativa ou patológica como são os sintomas neuróticos. As defesas de caráter são particularmente efetivas e, além disso, difíceis de se erradicarem pelo fato de serem bem racionalizadas pelo indivíduo e experimentadas como parte de seu auto-conceito.

Reich se esforçou continuamente para tornar seus pacientes mais conscientes de seus traços neuróticos de caráter. Ele imitava com freqüência suas características, gestos ou posturas, ou fazia com que seus pacientes repetissem ou exagerassem uma faceta habitual do comportamento, por exemplo, um sorriso nervoso. À medida que os pacientes cessavam de tomar como certa sua constituição de caráter, aumentava sua motivação para mudar.

A Couraça Muscular

Reich descobriu que cada atitude de caráter tem uma atitude física correspondente e que o caráter do indivíduo é expresso corporalmente sob a forma de rigidez muscular ou couraça muscular. Reich começou a trabalhar, então, no relaxamento da couraça muscular. Ele descobriu que a perda da couraça muscular libertava energia libidinal e auxiliava o processo de psicanálise. O trabalho psiquiátrico de Reich lidava cada vez mais com a libertação de emoções (prazer, raiva, ansiedade) através do trabalho com o corpo. Ele descobriu que isto conduzia a uma vivência muito mais intensa do que o material infantil trabalhado pela psicanálise.

Reich começou, primeiramente, com a aplicação de técnicas de análise de caráter e das atitudes físicas. Ele analisava em detalhes a postura de seus pacientes e seus hábitos físicos a fim de conscientizá-los de como reprimiam sentimentos vitais em diferentes partes do corpo. Fazia os pacientes intensificarem uma tensão particular a fim de tornarem-se mais conscientes dela e de aliviar a emoção que havia sido presa naquela parte do corpo. Ele descobriu que só depois que a emoção assim “engarrafada” fosse expressa, é que a tensão crônica poderia ser aliviada por completo. Aos poucos, Reich começou a trabalhar diretamente com suas mãos sobre os músculos tensos a fim de soltar ás emoções presas a eles.

Em seu trabalho sobre couraça muscular, Reich descobriu que tensões musculares crônicas servem ara bloquear uma das três excitações biológicas: ansiedade, raiva ou excitação sexual. Ele concluiu que a couraça física e a psicológica eram essencialmente a mesma coisa. Com esse raciocínio, as couraças de caráter eram vistas agora como equivalentes à hipertonia muscular.

O Caráter Genital

O termo Caráter Genital foi usado por Freud para indicar o último estágio do desenvolvimento psicossexual. Reich adotou-o para se referir especificamente à pessoa que adquiriu potência orgástica. Para ele a potência orgástica era a capacidade de abandonar-se, livre de quaisquer inibições, ao fluxo de energia biológica, era a capacidade de descarregar completamente a excitação sexual reprimida por meio de involuntárias e agradáveis convulsões do corpo.

Reich descobriu que assim que seus pacientes renunciavam à sua couraça e desenvolviam potência orgástica, muitas áreas de funcionamento neurótico mudavam de forma espontânea. No lugar de rígidos controles neuróticos, os indivíduos desenvolviam uma capacidade para auto-regulação. Reich descreveu indivíduos auto-reguladores como naturais, mais do que morais. Eles agem em termos de suas próprias inclinações e sentimentos internos, ao invés de seguirem algum código externo ou ordens pré-estabelecidas por outros.

Depois da terapia reichiana, muitos pacientes que antes eram neuroticamente promíscuos, desenvolviam grande ternura e sensibilidade e procuraram, de forma espontânea, relacionamentos mais duráveis e realizadores. Os(as) pacientes cujos casamentos eram estéreis e sem amor, descobriram na terapia reichiana que já não poderiam mais ter relações sexuais por um mero senso de obrigação.

Os caracteres genitais não estão aprisionados em suas couraças e defesas psicológicas. Eles são capazes de se encouraçar, quando necessário, contra um ambiente hostil. Entretanto, sua couraça é feita mais ou menos conscientemente e pode ser dissolvida quando não houver mais necessidade dela.

Reich escreveu que caracteres genitais trabalharam sobre o complexo de Édipo, de maneira que o material edipiano já não é mais tão intensamente carregado ou reprimido. O superego, para ele, tornam-se “sexo-afirmativo”, portanto o Id e o Superego passam a estar em harmonia. O Caráter Genital é capaz de experimentar livre e plenamente o orgasmo sexual, descarregando por completo toda libido excessiva. Dessa forma, o orgasmo, o clímax da atividade sexual, seria caracterizado pela entrega à experiência sexual e pelo movimento desinibido, involuntário, ao contrário dos movimentos forçados ou até violentos dos indivíduos encouraçados.

Bioenergia

Em seu trabalho sobre Couraça Muscular, Reich descobriu que a perda da rigidez crônica dos músculos resultava freqüentemente em sensações físicas particulares, em sentimentos de calor e frio, formigamento, coceira e uma espécie de despertar emocional. Ele concluiu que essas sensações eram devidas a movimentos de uma energia vegetativa ou biológica liberada.

Reich também descobriu que a mobilização e a descarga de bioenergia são estágios essenciais no processo de excitação sexual e orgasmo. Ele chamou a isto de Fórmula do Orgasmo, um processo de quatro partes o qual Reich julgava ser característico de todos os organismos vivos.

  • Tensão Mecânica
  • Carga Bioenergética
  • Descarga Bioenergética
  • Relaxamento Mecânico

Depois do contato físico, a energia se acumula em ambos os corpos e, por fim, é descarregada no orgasmo, o qual se constitui essencialmente num fenômeno de descarga da bioenergia. O ato sexual teria a seguinte seqüência:

  1. Órgãos sexuais se entumecem de fluido – tensão mecânica
  2. Resulta uma intensa excitação – carga bioenergética.
  3. Excitação sexual descarregada em contrações musculares – descarga bioenergética.
  4. Segue-se um relaxamento físico – relaxamento mecânico

Energia Orgônica

Aos poucos Reich estendeu seu interesse pelo funcionamento físico dos pacientes à pesquisa de laboratório em Fisiologia e Biologia e, finalmente dedicou-se à pesquisa em Física. Ele chegou a acreditar que a bioenergia no organismo individual não é nada mais do que um aspecto de uma energia universal, presente em todas as coisas. Ele derivou o termo energia “orgônica” a partir de organismo e orgasmo. Dizia que a Energia Orgônica cósmica funciona no organismo vivo como energia biológica específica. Assim sendo, governa o organismo total e se expressa nas emoções e nos movimentos puramente biofísicos dos órgãos.

A extensiva pesquisa de Reich sobre Energia Orgônica e tópicos relacionados à ela foi ignorada ou repudiada pela maioria dos cientistas. Seus achados contradizem muitos axiomas e teorias estabelecidos pela Física e Biologia, e é certo que o trabalho de Reich não deixa de ter falhas experimentais. Entretanto, sua pesquisa nunca foi rejeitada ou mesmo revista com cuidado e seriamente criticada por qualquer crítico científico respeitável.

Segundo Reich, a Energia Orgônica teria as seguintes propriedades principais:Desde que Reich anunciou a descoberta da Energia Orgônica até hoje, nenhuma repetição bem intencionada de qualquer experimento crítico em Energia Orgônica foi divulgada, confirmando ou refutando seus resultados. Apesar do ridículo, da difamação e das tentativas de se repudiar Reich e sua orgonomia, não existe nenhuma contra-evidência de seus experimentos em qualquer publicação científica, muito menos uma refutação sistemática dos trabalhos científico que sustentam sua posição.

  1. A Energia Orgônica é livre de massa; não tem inércia nem peso.
  2. Está presente em qualquer parte, embora em concentrações diferentes, até mesmo num vácuo.
  3. É o meio para a atividade eletromagnética e gravitacional, o substrato da maioria dos fenômenos naturais básicos.
  4. A Energia Orgônica está em constante movimento e pode ser observada sob condições apropriadas.
  5. Altas concentrações de Energia Orgônica atraem a Energia Orgônica de ambientes menos concentrados (o que contradiz a lei da entropia).
  6. A Energia Orgônica forma unidades que se tornam o centro da atividade criativa. Estas incluem células, plantas e animais, e também nuvens, planetas, estrelas e galáxias.

Reich achava que a couraça muscular está organizada em sete principais segmentos de armadura, que são compostos de músculos e órgãos com funções expressivas relacionadas. Estes segmentos formam uma série de sete anéis mais ou menos horizontais, em ângulos retos com a espinha e o torso. Os principais segmentos da couraça estão centrados nos olhos, boca, pescoço, tórax, diafragma, abdome e pelve.

Crescimento Psicológico

Reich definiu crescimento como o processo de dissolução da nossa couraça psicológica e física, tornando-nos, gradualmente, seres humanos mais livres, abertos e capazes de gozar um orgasmo pleno e satisfatório.

De acordo com Reich, a Energia Orgônica flui naturalmente por todo o corpo, de cima a baixo, paralela à espinha. Os anéis da couraça formam-se em ângulo reto com este fluxo e operam para rompê-lo. Reich afirma que não é por acaso que na cultura ocidental aprendemos a dizer sim movendo a cabeça para cima e para baixo, na direção do fluxo de energia do corpo, enquanto que aprendemos a dizer não movendo a cabeça de um lado para o outro, na direção transversa da couraça.

A couraça serve para restringir tanto o livre fluxo de energia como a livre expressão de emoções do indivíduo. O que começa inicialmente como defesa contra sentimentos de tensão e ansiedade excessivos, torna-se uma camisa-de-força física e emocional. No organismo humano encouraçado, a Energia Orgônica é presa nos espasmos musculares crônicos.

Após a perda de um anel da couraça, o orgon do corpo não começa de imediato a correr livremente. Logo que os primeiros blocos da couraça são dissolvidos, nós descobrimos que, com os fluxos e as sensações orgônicas, a expressão do “dar” se desenvolve cada vez mais. Entretanto, couraças ainda existentes evitam seu desenvolvimento total.

Os segmentos de couraça

A terapia reichiana consiste em dissolver cada segmento da couraça, começando pelos olhos e terminando na pelves. Cada segmento é uma unidade mais ou menos independente com a qual se precisa lidar separadamente.

Três instrumentos principais são usados para dissolver a couraça:

  1. Armazenamento de energia no corpo por meio de respiração profunda;
  2. Ataque direto dos músculos cronicamente tensos (por meio de pressão, beliscões e assim por diante) a fim de soltá-los;
  3. Manutenção da cooperação do paciente lidando abertamente com quaisquer resistências ou restrições que emergem.

O Segmento Ocular

A couraça dos olhos é expressa por uma imobilidade da testa e uma expressão “vazia” dos olhos, que nos vêem por detrás de uma rígida máscara. A couraça é dissolvida fazendo-se com que os pacientes abram bem seus olhos, como se estivessem com medo, a fim de mobilizar as pálpebras e a testa, forçando uma expressão emocional e encorajando o movimento livre dos olhos, fazer movimentos circulares com os olhos e olhar de lado a lado.

O Segmento Oral

O segmento oral inclui os músculos do queixo, garganta e a parte de trás da cabeça. O maxilar pode ser excessivamente preso ou frouxo de forma antinatural. As expressões emocionais relativas ao ato de chorar, morder com raiva, gritar, sugar e fazer caretas são todas inibidas por este segmento. A couraça pode ser solta encorajando-se o paciente a imitar o choro, a produzir sons que mobilizem os lábios, a morder e a vomitar e pelo trabalho direto com os músculos envolvidos.

O Segmento Cervical

Este segmento inclui os músculos profundos do pescoço e também a língua. A couraça funciona principalmente para segurar a raiva ou o choro. Pressão direta sobre os músculos profundos do pescoço não é possível, portanto, gritar, berrar e vomitar são meios importantes para soltar este segmento.

O Segmento Toráxico

Este segmento inclui os músculos longos do tórax, os músculos dos ombros e da omoplata, toda a caixa torácica, as mãos e os braços. Ele serve para inibir o riso, a raiva, a tristeza e o desejo. A inibição da respiração, que é um meio importante de suprimir toda emoção, ocorre em grande parte no tórax. A couraça pode ser solta através do trabalho com respiração, especialmente o desenvolvimento da expiração completa. Os braços e as mãos são dos para bater, rasgar, sufocar, triturar e entrar em contato com o desejo.

O Segmento Diafragmático

Este segmento inclui o diafragma, estômago, plexo solar, vários órgãos internos e músculos ao longo das vértebras torácicas baixas. A couraça é expressa por uma curvatura da espinha para frente, de modo que há um espaço considerável entre a parte de baixo das costas do paciente e o colchão. É muito mais difícil expirar do que inspirar. A couraça inibe principalmente a raiva extremada. Os quatro primeiros segmentos devem estar mais ou menos livres antes que o diafragma possa ser solto através do trabalho repetido com respiração e reflexo do vômito (pessoas com bloqueio intenso neste segmento acham virtualmente impossível vomitar).

O Segmento Abdominal

O segmento abdominal inclui os músculos abdominais longos e os músculos das costas. Tensão nos músculos lombares está ligada ao medo de ataque. A couraça nos flancos de uma pessoa produz instabilidade e relaciona-se com a inibição do rancor. A dissolução da couraça, neste segmento, é relativamente simples, desde que os segmentos mais altos estejam abertos.

O Segmento Pélvico

Este segmento contém todos os músculos da pelve e membros inferiores. Quanto mais intensa a couraça, mais a pelve é puxada para trás e saliente nesta parte. Os músculos glúteos são tesos e doloridos, a pelve é rígida, “morta” e assexual. A couraça pélvica serve para inibir a ansiedade e a raiva, bem como o prazer.

A ansiedade e a raiva resultam das inibições das sensações de prazer sexual, e é impossível experienciar livremente o prazer nesta área até que a raiva tenha sido liberada dos músculos pélvicos. A couraça pode ser solta primeiramente mobilizando a pelve e fazendo com que o paciente chute os pés repetidas vezes e também bata no colchão com sua pelve.

Reich descobriu que à medida que seus pacientes começavam a desenvolver capacidade para plena entrega genital, toda sua existência e estilo de vida mudavam basicamente. Achava Reich que a unificação do reflexo do orgasmo também restaurava as sensações de profundidade e seriedade. Os pacientes lembram-se do tempo da sua primeira infância, quando a unidade de suas sensações corporais não estava perturbada.

Tomados de emoção, falam do tempo em que, crianças, sentiam-se identificados com a natureza e com tudo que os rodeava, do tempo em que se sentiam “vivos” e como finalmente tudo isto fora despedaçado e esmagado pela educação.

Estes indivíduos começavam a sentir que a rígida moralidade da sociedade, que anteriormente reconheciam como certa, era uma coisa estranha e antinatural. Atitudes em relação ao trabalho também mudavam de forma nítida.

Aqueles que faziam seu trabalho como uma necessidade mecânica, via de regra largavam seus empregos para procurar um trabalho novo e vital que preenchesse suas necessidades e desejos interiores. Aqueles que já estavam interessados em sua profissão, muitas vezes desabrochavam com energia, interesses e habilidades novas.

As Couraças: Obstáculos ao Crescimento

Couraça é o maior obstáculo ao crescimento segundo Reich. O indivíduo encouraçado seria incapaz de dissolver sua couraça e, portanto, seria incapaz de expressar as emoções biológicas primitivas. Ele conhece a sensação de agrado mas não aquela de prazer orgônico. Ele não pode emitir um suspiro de prazer e, se tentar, irá produzir um gemido, um berro reprimido ou um impulso para vomitar. Ele é incapaz de deixar sair um grito de raiva ou imitar um punho atingindo o colchão com raiva.

Reich sentiu que o processo de encouraçamento havia criado duas tradições intelectuais distorcidas, as quais formaram a base da civilização: a religião mística e a ciência mecanicista. Os mecanicistas são tão bem encouraçados que não têm idéia real de seus próprios processos de vida ou de sua natureza interna. Eles têm um medo básico de emoções profundas, vivacidade e espontaneidade. Eles tendem a desenvolver um conceito rígido e mecânico da natureza e estão primariamente interessados nos objetos externos e nas ciências naturais.

Comentando sua idéia, achava que pelo fato de uma máquina ter que ser perfeita, por conseguinte, o pensamento e as ações do homem da ciência também teriam que ser perfeitos. Perfeccionismo é uma característica essencial do pensamento mecanicista. Ele não tolera erros e incertezas, e as situações de mudança são inoportunas. Mas este princípio, quando aplicado a processos da natureza, inevitavelmente conduz à confusão, pois a natureza não opera mecanicamente, mas funcionalmente.

Os místicos não desenvolveram sua couraça tão completamente. Eles permanecem, em parte, em contato com sua própria energia vital, e são capazes de grande compreensão interna (insight) por causa deste contato parcial com sua intimidade. Entretanto, Reich via essa compreensão interna (insight) como distorcida, uma vez que os místicos tendem a se tornar ascéticos e anti-sexuais, a rejeitar sua própria natureza física e a perder o contato com seus corpos. Eles repudiam a origem da força vital em seus próprios corpos e localizam-na numa alma hipotética, que eles sentem ter apenas uma tênue conexão com o corpo.

Sobre os místicos, achava Reich que no rompimento da unidade de sentimento do corpo pela supressão sexual e no contínuo anseio de restabelecer contato consigo mesmo e com o mundo, encontra-se a raiz de todas as religiões negadoras do sexo. Deus seria a idéia mistificada da harmonia vegetativa entre o eu e a natureza.

Repressão Sexual

Outro obstáculo ao crescimento é a repressão social e cultural dos instintos naturais e da sexualidade do indivíduo. Reich sentia que esta era a maior fonte de neuroses e que ela ocorre durante as três principais fases da vida, ou seja, durante a primeira infância, puberdade e idade adulta.

Os bebês e as crianças pequenas são confrontados com uma atmosfera familiar neurótica, autoritária e repressora do ponto de vista sexual. Em relação a este período de vida, Reich basicamente reafirma as observações de Freud a respeito dos efeitos negativos das exigências dos pais, relativas ao treinamento da toalete, às auto-restrições e ao bom comportamento por parte das crianças pequenas.

Durante a puberdade, os jovens são impedidos de atingir uma vida sexual real e a masturbação é proibida. Talvez até mais importantes que isto, a sociedade em geral torna impossível, aos adolescentes, lograr uma vida de trabalho significativa. Por causa deste estilo de vida antinatural, torna-se especialmente difícil aos adolescentes ultrapassar sua ligação infantil com os pais.

Por fim, na idade adulta, a maioria das pessoas se vê envolvida na armadilha de um casamento compulsivo, para o qual estão sexualmente despreparadas. Reich também salienta que os casamentos desmoronam em conseqüência das discrepâncias sempre intensificadas entre as necessidades sexuais e as condições econômicas. As necessidades sexuais podem ser satisfeitas com um e o mesmo companheiro durante algum tempo. Também o vínculo econômico, a exigência moralista e o hábito humano favorecem a permanência da relação matrimonial. Isso acaba resultando na infelicidade do casamento. A situação familiar que se desenvolve segue de forma a recriar a mesma atmosfera neurótica para a próxima geração de crianças.

Reich sentia que indivíduos criados numa atmosfera que nega a vida e o sexo desenvolvem um medo do prazer, o qual é representado por sua Couraça Muscular. Essa Couraça do Caráter é a base do isolamento, da indigência, do desejo de autoridade, do medo da responsabilidade, do anseio místico, da miséria sexual e da revolta neurótica, assim como de uma condescendência patológica.

Reich não era otimista demais no que dizia respeito aos possíveis efeitos de suas descobertas. Ele acreditava que a maioria das pessoas, por causa de sua intensa couraça, seria incapaz de compreender suas teorias e distorceria suas idéias. Para ele, um ensino sobre a vida, dirigido e distorcido por indivíduos encouraçados, irá acarretar um desastre final a toda a humanidade e às suas instituições. O resultado mais provável do princípio da potência orgástica será uma perniciosa filosofia de bolso, espalhada por todos os cantos. Tal como uma flexa que, ao desprender-se do arco, salta firmemente retesada, a procura de um prazer genital rápido, fácil e deletério devastará a comunidade humana.

A couraça serve para nos desligar de nossa natureza interna e também da miséria social que nos circunda. Natureza e cultura, instinto e moralidade, sexualidade e realização são elementos que se tornam incompatíveis. A unidade e congruência de cultura e natureza, trabalho e amor, moralidade e sexualidade, unidade esta desejada desde tempos imemoriais, continuará a ser um sonho enquanto o homem continuar a condenar a exigência biológica de satisfação sexual natural (orgástica). A democracia verdadeira e a liberdade baseadas na consciência e responsabilidade estão também condenadas a permanecer como uma ilusão até que esta evidência seja satisfeita.

Conceitos Reichianos

Corpo

Reich, como a grande maioria dos autores modernos, via mente e corpo como uma só unidade. Aos poucos ele passou de um trabalho analítico, baseado apenas na linguagem, para a análise dos aspectos físico e psicológico do caráter e da couraça caracterológica, dando maior ênfase no trabalho com a Couraça Muscular e no desenvolvimento de um livre fluxo de bioenergia.

Relacionamento Social

Reich via o relacionamento social como função do caráter do indivíduo. O indivíduo médio vê o mundo através do filtro de sua couraça. Caracteres genitais, tendo ultrapassado seu encouraçamento rígido, são os únicos verdadeiramente capazes de reagir de forma aberta e honesta aos outros.

Reich acreditava firmemente nos ideais comunistas enunciados por Marx, aclamando a livre organização na qual o livre desenvolvimento de cada um se tornaria a base do livre desenvolvimento de todos. Reich formulou o conceito de democracia do trabalho, uma forma natural de organização social na qual as pessoas cooperam harmonicamente para favorecer suas necessidades e interesses mútuos, e tentou efetivar esses princípios no Instituto Orgon.

Vontade

Reich não se interessou diretamente pela vontade, embora tenha enfatizado a importância de um trabalho significativo e construtivo. Um de seus princípios era de que “você não precisa fazer nada de especial ou novo. Tudo o que você precisa fazer é continuar o que tem feito: lavrar seu campo, manejar seu martelo, examinar seus pacientes, levar suas crianças à escola ou ao parque de diversões, falar sobre os fatos do dia, penetrar sempre mais profundamente nos segredos da natureza. Todas essas coisas você já faz. Mas você pensa que nenhuma delas tem importância… Tudo o que você tem a fazer é continuar o que você sempre fez e sempre quis fazer: seu trabalho, deixar suas crianças crescerem felizes, amar a mulher“.

Emoções

Reich descobriu que as tensões crônicas servem para bloquear o fluxo de energia subjacente às emoções mais intensas. A couraça impede que o indivíduo experimente emoções fortes e, portanto, limita e distorce a expressão de sentimentos. As emoções deste modo bloqueadas não são eliminadas, pois jamais podem ser completamente expressas. Segundo Reich, um indivíduo só se liberta de uma emoção bloqueada experienciando-a de forma plena.

Reich notou também que a frustração do prazer, muitas vezes conduz à raiva e à fúria. Na terapia reichiana, em primeiro lugar é preciso lidar com as emoções negativas, para que os sentimentos positivos que elas encobrem possam ser completamente experienciados.

Intelecto

Reich se opunha a qualquer separação de intelecto, emoções e corpo. Ele afirmava que o intelecto é, na verdade, uma função biológica, e que ele pode ter uma carga afetiva tão forte quanto qualquer emoção. Reich argumentava que o desenvolvimento completo do intelecto requer o desenvolvimento de uma verdadeira genitalidade. A primazia do intelecto pressupõe uma disciplinada economia de libido, isto é, primazia genital. A primazia intelectual e genital têm a mesma relação mútua que êxtase sexual e neurose, sentimento de culpa e religião, histeria e superstição.

Acreditava Reich que, via de regra, o intelecto opera como mecanismo de defesa, de tal forma que a linguagem falada muitas vezes funciona também como uma defesa. Ela obscurece a linguagem expressiva do núcleo biológico. Em muitos casos, isto vai tão longe que as palavras já não expressam nada e a linguagem falada já não é nada mais do que uma atividade sem sentido dos respectivos músculos.

Self

Para Reich, o Self é o núcleo biológico saudável de cada indivíduo. A maioria das pessoas não está em contato com o Self por causa da couraça física e das defesas psicológicas. Indagava Reich: “- O que é que impedia uma pessoa de perceber sua própria personalidade (Self)? Afinal, a personalidade (himself) é o que a pessoa é. Gradualmente comecei a entender que é o ser total que constitui a massa compacta e obstinada que obstrui todos os esforços da análise. A personalidade inteira do paciente, o seu caráter, a sua individualidade resistiam à análise”.

Segundo Reich, a interação de impulsos reprimidos e forças defensivas repressoras cria uma terceira camada entre as duas correntes libidinais opostas: uma camada de falta de contato. Esta falta de contato não está interposta entre as duas forças. É antes, uma expressão da interação concentrada das duas.

O contato requer um livre movimento de energia. Ele só se torna possível quando o indivíduo dissolve sua couraça e torna-se plenamente consciente do corpo e de suas sensações e necessidades, entrando em contato com o núcleo, os impulsos primários. Enquanto há a presença de bloqueios, o fluxo de energia e a consciência são restritos, e a autopercepção é bastante diminuída e distorcida.

Terapeuta Reichiano

Além de treino na técnica terapêutica, o terapeuta deve ter feito um progresso considerável em seu crescimento e desenvolvimento pessoais. Ao trabalhar tanto psicológica quanto fisicamente com um indivíduo, o terapeuta deve ter superado todos os medos de sons sexuais abertamente emitidos e do “ondular orgástico”, livre movimento de energia no corpo.

Baker, um dos principais terapeutas reichianos nos Estados Unidos, recomenda que nenhum terapeuta deveria tentar tratar pacientes que tenham problemas que ele não foi capaz de solucionar em si mesmo, e nem deveria esperar que um paciente faça coisas que ele não pode fazer e que não foi capaz de fazer. Outro reichiano eminente escreveu que o pré-requisito indispensável em qualquer método usado pelo terapeuta para libertar as emoções contidas na musculatura é que ele esteja em contato com suas próprias sensações e que seja capaz de empatizar completamente com o paciente e de sentir em seu próprio corpo o efeito das constrições particulares da energia do paciente.

Reich era ele próprio considerado um terapeuta brilhante e teimoso. Mesmo sendo um analista ortodoxo, ele era extremamente honesto e até brutalmente direto com seus pacientes. Nic Waal, um dos melhores psiquiatras da Noruega, escreveu o seguinte a respeito de suas experiências em terapia com Reich:

“- Eu era capaz de suportar ser subjugado por Reich porque eu gostava da verdade. E, coisa bastante estranha, eu não era subjugado por isto. No decorrer de toda esta atitude terapêutica em relação a mim, sua voz era amorosa e ele sentava-se a meu lado e fazia-me olhar para ele. Reich me aceitava e subjugava apenas minha vaidade e minha falsidade. Mas eu entendi, naquele momento, que a honestidade e o amor verdadeiros, tanto de um terapeuta quanto dos pais, por vezes é a coragem de ser aparentemente cruel sempre que necessário. Entretanto, isto exige muito do terapeuta, de seu treinamento e de seu diagnóstico.”

]]>
https://minasi.com.br/wilhelm-reich-o-pai-da-psicologia-corporal/feed/ 0 1888