Filosofia https://minasi.com.br Alcançando a integralidade através de terapia holística. Transforme sua vida através de aconselhamento personalizado e treinamento motivacional. Wed, 09 Oct 2024 19:39:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://i0.wp.com/minasi.com.br/wp-content/uploads/2024/09/cropped-MeuEuMelhor.png?fit=32%2C32&ssl=1 Filosofia https://minasi.com.br 32 32 103183256 Para sair da caverna https://minasi.com.br/para-sair-da-caverna/ https://minasi.com.br/para-sair-da-caverna/#respond Tue, 24 Oct 2023 18:40:47 +0000 https://minasi.com.br/?p=3182

Eu fui um dos prisioneiros da caverna de Platão. Desde que nasci, vivi acorrentado a uma parede, olhando para as sombras projetadas por uma fogueira. Essas sombras eram tudo o que conhecia do mundo, e acreditava que elas eram a realidade. Os sons que ecoavam na caverna eram as vozes dos seres que habitavam esse mundo de sombras, e eu os imitava sem saber o que significam.

Um dia, um dos meus companheiros conseguiu se libertar das correntes e saiu da caverna. Ele voltou depois de algum tempo, com os olhos ofuscados pela luz. Ele me contou que fora ao mundo exterior, e que lá viu coisas maravilhosas: o sol, as estrelas, as árvores, os animais, as cores. Ele me disse que as sombras que vemos na caverna são apenas cópias imperfeitas dessas coisas reais, e que os sons que ouvimos são apenas ecos distorcidos das suas vozes. Ele me disse que eu deveria segui-lo, e sair da caverna também.

shadow of a person

Eu fiquei assustado com o que ele me disse. Eu não conseguia acreditar que tudo o que eu conhecia era falso, e que havia um mundo muito mais belo e verdadeiro lá fora. Eu achei que ele estava louco, e que a luz tinha lhe feito mal. Eu preferi ficar na minha zona de conforto, na minha ilusão familiar. Eu não quis arriscar a minha segurança, a minha tranquilidade, a minha identidade.

Mas ele não desistiu de mim. Ele voltou a me visitar, e me trouxe presentes do mundo exterior: uma flor, uma pedra, um espelho. Ele me mostrou como essas coisas eram diferentes das sombras, como elas tinham forma, textura, aroma, reflexo. Ele me mostrou como elas eram mais bonitas e mais interessantes do que as sombras. Ele me mostrou como elas eram mais reais.

Ele também me falou sobre si mesmo. Ele me contou como ele se sentia diferente depois de sair da caverna. Ele me contou como ele se sentia mais livre, mais feliz, mais sábio. Ele me contou como ele se sentia mais ele mesmo. Ele me contou como ele se conhecia melhor.

photo of man sitting on a cave

Ele me fez pensar sobre mim mesmo. Ele me fez questionar as minhas crenças, os meus valores, os meus preconceitos. Ele me fez duvidar das minhas certezas, das minhas opiniões, dos meus costumes. Ele me fez ver as minhas limitações, as minhas ignorâncias, as minhas ilusões.

Ele me fez querer sair da caverna.

Ele me ajudou a romper as correntes que me prendiam à parede. Ele me guiou pelo caminho escuro e íngreme que levava à saída da caverna. Ele me protegeu dos perigos e das tentações que surgiam pelo caminho. Ele me encorajou a seguir em frente, mesmo quando eu sentia medo, dor ou cansaço.

Ele me levou até o mundo exterior.

Eu fiquei deslumbrado com o que vi. Eu fiquei maravilhado com a beleza e a diversidade das coisas reais. Eu fiquei fascinado com o conhecimento e a compreensão que elas me proporcionavam. Eu fiquei grato pela oportunidade e pela responsabilidade de viver nesse mundo.

Eu também fiquei surpreso com o que senti. Eu fiquei orgulhoso da minha coragem e do meu esforço. Eu fiquei satisfeito com o meu crescimento e com a minha transformação. Eu fiquei feliz com a minha liberdade e com a minha felicidade.

Eu fiquei contente comigo mesmo.

Eu me conheci melhor.

Eu saí da caverna de Platão.

E você? Você quer sair da caverna também? 😊

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A cura pela relação – Antífon https://minasi.com.br/a-cura-pela-relacao-antifon/ https://minasi.com.br/a-cura-pela-relacao-antifon/#respond Wed, 13 Sep 2023 14:18:00 +0000 https://minasi.com.br/?p=3163

Antífon foi um filósofo grego que viveu supostamente no século quarto antes de cristo. Inimigo de Platão, incluído na ignóbil categoria de pré-socrático, foi um sofista, mestre da retórica e da persuasão. Atomista – corrente filosófica precursora do materialismo atual – ele é o pai fundador da psicanálise. Embora pelo que eu saiba, nos escritos de Freud não haja nenhuma citação a ele, é inegável seu paternalismo. Vejamos.

Como todo atomista, Antífon estava convencido de que tudo que existia era átomos em movimento. Toda a matéria era constituída por eles – unidade mínima e indivisível de real. Inclusive o corpo e a alma. O pensamento, que é uma atividade da alma, também nada mais é que átomos em movimentos. Ora, se tudo é átomos em movimento, não há diferença – no meu caso – entre defecar e pensar…

Bem, continuando, a felicidade consistia em uma vida plena de harmonia, de paz, sossego e tranquilidade. Para se chegar a esse estado era preciso que o pensamento se livrasse de suas contradições, de seus conflitos internos, de suas perturbações. O papel da alma seria evitar esse combate que muitas vezes travamos dentro de nós. Ora querido leitor, diga, você nunca passou por isso? Desejo mas não posso, quero mas não é meu, ardo de paixão, alguém chegou primeiro, a angústia de decidir entre a diversão e o repouso…Quando se vive nesse fluxo de frustrações, de castrações, de desejos enterrados e jamais alcançáveis, o corpo é quem sofre. Ficamos tristes, doentes e às vezes até morremos. Por que?

Para Antífon, alma e corpo eram arranjos atômicos. Os átomos do pensamento se arranjavam de duas formas: alguns na parte iluminada da alma, outros na parte escura. A parte iluminada é aquela que nos permite flagrar esses pensamentos – não era o termo de Antífon, mas é inegável a semelhança com a consciência. E a parte escura, aquela onde habitavam os pensamentos que não temos consciência. Ele afirmava que: 1) o sofrimento do homem advém da alma. 2) especificamente da parte obscurecida.

Ele então abre na cidade de Corinto, na Grécia, uma espécie de hospital para curar a alma das pessoas. Não havia sombra de dúvidas de que esta podia ser acessada e esse acesso se dava por meio da linguagem, do discurso, da fala. Na primeira parte do tratamento, Antífon deixava o paciente falar, sem roteiro prévio, livremente, o que viesse à cabeça dele. Depois iniciava uma espécie de terapia verbal para curá-lo. Falando, o paciente moveria os átomos da parte escurecida da alma e os levaria a parte iluminada. A linguagem cria representações – isto é, põe no lugar de uma coisa ausente, outra coisa – permitindo a identificação dos pensamentos causadores do sofrimento e sua cura. Outro artifício, pasmem, era a interpretação dos sonhos. Não que o sonho tivesse uma verdade em si mesmo, mas, regido por uma rede de causalidades, e que adquiria significado a partir da interpretação de Antífon. É interessante notar que os sofistas eram exímios mestres da oratória e do convencimento, habilidades essas que certamente facilitaram muito o trabalho dele.

Como todo sofista, Antífon foi execrado e condenado ao limbo do esquecimento pela filosofia oficial dominante. Seu único escrito, A arte de combater a tristeza, desapareceu e o pouco que sabe sobre sua biografia chegou-nos através de historiadores como Diógenes Laércio. No entanto, suas ideias permanecem curiosíssimas, para além da Contra-história da Filosofia.

Fonte: ANTÍFON E O HOSPITAL DA ALMA, de Fabio Ximenes

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Eneagrama: Dicas e caminhos para crescimento https://minasi.com.br/eneagrama-dicas/ https://minasi.com.br/eneagrama-dicas/#respond Tue, 17 Jan 2023 14:27:15 +0000 https://minasi.com.br/?p=3015

Um dos patrimônios que a humanidade nos dá é a busca por conhecer-se. Isto está presente em diversas tradições religiosas e sistemas filosóficos, através da história humana. O Eneagrama é destas buscas de entender o porquê e o como de nosso jeito de estar no mundo.

Aqui, algumas dicas para o crescimento de quem já conseguiu se perceber. O Eneagrama não é uma forma de colocar etiquetas nas pessoas, mas um caminho de espiritualidade para o desenvolvimento pessoal. Sempre está falando em primeira pessoa e as relações a partir desta perspectiva.

Espero que ajude em seu crescimento.

Eneatipo UM: O Perfeccionista

Se você for do Eneatipo UM lembre-se:

eneatipo 1
Eneatipo 1
  • De prestar atenção ao tom de voz para que:
  • Não soe como censura ou moralista, quando afirma o que está correto ou errado;
  • Não seja repetitivo e estressante quando estiver se sentindo ferido ou desrespeitado.
  • Que quando se controla ou se sente culpado você poderá:
    • parecer irritado
    • Usar o sarcasmo e o cinismo
  • De elogiar as pessoas quando fizerem ou disserem algo que lhe agrada, para que se sintam valorizadas.
  • Quando estiver se sentindo desrespeitado fale sobre os seus sentimentos e como você pensa.
  • Antes de sugerir melhoras certifique-se que você entendeu o que está acontecendo.
  • Se gostar de uma pessoa diga-lhe: às vezes, sua postura crítica passa uma imagem de pessoa inacessível e não tendo certeza de que você gosta dela procura manter distância, mesmo que também goste de você.

Ao falar com uma pessoa do Eneatipo UM, lembre-se:

  • Fazer-lhe perguntas em um tom não crítico ajuda-a a perceber os seus próprios sentimentos, já que ela pode não saber como se sente.
  • Para apresentar uma idéia nova, faça-a de maneira lógica e não emocional, pois aceitarão melhor.
  • Que são sensíveis às críticas e manipulações, portanto, seja direto.
  • Que ao se mostrarem irritadas, isto pode não ter nada a ver com você, pode ser algo completamente diferente e a pessoa nem sabe disso.
  • Que ao ver algo errado, deve dize-lo, assim como se desculpar por seus próprios erros e críticas, pois as pessoas desse Eneatipo gostam de saber que não são as únicas que erram.

Eneatipo DOIS: O ajudante, o prestativo

eneatipo 2

Se você for do Eneatipo DOIS lembre-se:

  • Que é um ouvinte atencioso, mas não se esqueça de falar de você.
  • De ser você mesmo na conversa, em vez de agradar a outra pessoa.
  • Sentindo-se feridas ou tratadas injustamente, diga-o de maneira calma e o quanto antes.
  • Fale de suas necessidades e não culpe os demais por não satisfaze-las, nem todos têm a sua intuição para as necessidades das pessoas.
  • Quando desejar uma opinião peça-a diretamente, não induza a pessoa com quem está a responder de um modo indireto.
  • Quando as pessoas recusarem a sua ajuda, aceite sem se sentir rejeitada.
  • De dar espaço às pessoas para resolverem os seus problemas.

Ao falar com uma pessoa do Eneatipo DOIS. lembre-se:

  • De convidá-la a falar de si mesma, pois tenderá a falar só de você.
  • De dizer-lhe que lhe dá prazer fazer algo para ela, quando o fizer.
  • De perguntar-lhe como está se sentindo e do que precisa quando parecer emocionada, distraída ou ansiosa.
  • Não se frustre se a pessoa não souber como se sente ou mudar a conversa para você, simplesmente mostre que está interessado nela.
  • Não as deixe isoladas no trabalho ou em um projeto. Certifique-se de permitir a comunicação.
  • Diga-lhe que aprecia o que ela faz por você.
  • Mostre-lhe que você gosta dela, independente dela ajudá-lo ou do seu modo de agir.
  • Na comunicação seja sincero e objetivo, pois são sensíveis à manipulação e à insinceridade e se retirarão se sentirem isso.

Eneatipo TRÊS: O Engodo, O hiper-realizador

eneatipo 3

Se você for do Eneatipo TRÊS. lembre-se:

  • Você se distrai visualmente, portanto, procure um lugar onde possa ouvir atentamente as pessoas.
  • De fazer um esforço para ouvir as pessoas e reconhecer os seus pontos fortes, pois a maioria não tem a mesma ambição que você.
  • Pare. Dê o tempo necessário para ouvir as impressões dos outros, especialmente das pessoas queridas.
  • As pessoas vão considerá-lo melhor, não pior, por revelar como se sente, portanto, revele-se.
  • De estar atento para não sufocar os outros: fale como se sente e ouça o que os outros têm a lhe dizer.
  •  De dizer às pessoas que aprecia sua contribuição no trabalho e entre amigos,

Ao falar com uma pessoa do Eneatipo TRÊS. lembre-se:

  • A possibilidade de atingir um resultado melhor é o melhor caminho para ela mudar o jeito de fazer uma coisa ou pelo menos pensar a respeito.
  •  Se não quiser que se afastem, não insista num ponto.
  • Evite crítica, pois elas só farão com que represente mais.
  • Procure entrar em seu nível de energia para se comunicar melhor, e quando estiverem lado a lado, talvez você possa alterar o passo.
  • Numa conversa se se distraírem ou passarem para outro aspecto rapidamente, não leve para o lado pessoal, pergunte se podem se acalmar um pouco e por quê.
  • As pessoas do Eneatipo Três custam a acreditar que são queridas, portanto, se gostar de sua companhia não deixe de dizer.

Eneatipo QUATRO: O Individualista, o romântico

O eneatipo 4
eneatipo 4

Se você for do Eneatipo QUATRO. lembre-se:

  • Grande parte das pessoas não está ligada aos sentimentos tanto quanto você.
  • De ater-se ao aqui e agora.
  • Não espere que as pessoas adivinhem o que está sentindo, diga-lhes para que possam ser soldarias a você.
  • Cuidado nas discussões para não ser presa das emoções.
  • Caso se sinta presa às emoções peça que a esclareçam, ajudando-a a permanecer sóbria.
  • Quando se sentir inferiorizada ou vitimada, diga às pessoas como se sente e peça que digam como vêem a situação, em  vez de usar o sarcasmo.

Ao falar com uma pessoa do Eneatipo OUATRO, lembre-se:

  • Ele pode perceber coisas que você nem imagina, portanto, respeita a sua intuição.
  • Não tente discutir as suas emoções, elas são para valer.  
  • Por mais acalorada que seja a discussão, respeite os sentimentos dela.
  • Demonstre os seus sentimentos do modo como estes lhe o ocorrerem.
  • Quando se mostrar “emburrada” pergunte-lhe o que está sentindo.
  • Mostre que se preocupa com ela e a valoriza, pois, por mais que não demonstre, ela tem baixa auto-estima.
  • Quando necessitar de ajuda, peça diretamente. Ela gostará de ajudá-lo, mesmo que aparentemente distraída.
  • De entrar no ritmo dela, para que se sinta compreendida. Então poderá relaxar e ficar mais à vontade.

Eneatipo CINCO: O Observador

eneatipo 5

Se você for do Eneatipo CINCO. lembre-se:

  • Quanto mais você se retrai, mais provoca o que não quer. Tente mostrar como se sente, ainda que precise só de um espaço.
  • Diga às pessoas que tem dificuldade de defender sua opinião.
  • Você precisa de um tempo antes de se decidir, portanto, diga às pessoas que sua presença prejudica sua reflexão.
  • As pessoas não se sentirão ludibriadas, se você reservar um tempo para uma conversa franca.
  • Sentindo-se pressionada, reclame para os outros que estão cobrando demais: eles não o fazem por mal.
  • Mosfre aos amigos que você tem sentimentos sim, mas que tem dificuldade de expressa-los no momento.
  • Refribua os sentimentos das pessoas com palavras, para que não se sintam rejeitadas ou menosprezadas.

Ao falar com uma pessoa do Eneatipo CINCO, lembre-se:

  • Ela tem dificuldades para se exprimir, portanto, não se ofenda se ela se mostrar retraída.
  • Ela é sensível a sinais não verbais e irá se retrair se você não se mostrar inofensivo e interessado.
  • Se precisar lhe falar, procure-a com antecedência.
  • Ela precisa de um tempo a sós para tomar decisões.  
  • Não se prenda ou pareça dependente, respeite os seus limites.
  • O fato de mostrar que confia nela, vai fazer com que se saia bem. Não precisa exagerar nos elogios.
  • Quando revelar seus sentimentos, faça-o de forma moderada; seja direto e sincero.
  • Quando não está à vontade pode parecer arrogante, indiferente ou imitada.
  •  Quando lhe pedir alguma coisa, não o faça como cobrança e sim como um favor.

Eneatipo SEIS: O Partidário, o questionador

eneatipo 6

Se você for do Eneatipo SEIS. lembre-se:

  • Ao questionar um fato, perceba se você não exagerou: pergunte aos amigos o que eles acham.
  • Você tem tendência a projetar: quando tiver certeza de que algo ruim está acontecendo, verifique a que provocação está respondendo, (isso tem a ver comigo?) veja como os outros se sentem e o que pensam.
  • Algumas pessoas precisam de contato regular como prova de sua amizade e confiabilidade
  • Diga às pessoas que pode parecer que você hesita, mesmo quando está comprometido, mas isso quando se comprometer a fazer algo que realmente fará.
  • Suas dúvidas podem ser entendias como desconfiança, parecendo que não acredita mais no que disse, portanto, converse a respeito do seu comprometimento.
  • Os outros podem não entender a mensagem por trás de suas ações, lembre-se de contar-lhes o que sente, assim como de apóia-los no que for preciso.
  • Quando se perceber dominando uma conversa, pergunte-se como se sente, e pense em discutir o assunto.

Ao falar com uma pessoa do Eneatipo SEIS, lembre-se:

  • Ela tem dificuldade para confiar por causa de sua mente hesitante. Caso desconfie de seus elogios ou cumprimentos não leve para o lado pessoal.
  • Ouvi-la e mostrar que entendeu ajuda-a a confiar em você.
  • Comunique-se de forma precisa e realista. Lembrandose que é fácil para esse eneatipo projetar motivos ocultos e segundas intenções.
  •  Compartilhe com ela com bom humor, encoraje-a a ver o lado positivo das coisas e a rir.
  • Nunca critique ou julgue os seus medos.
  • Se agir de forma constante, coerente e de acordo com suas palavras vai gerar confiança.
  • Ajude-a a sair do campo imaginário (suas projeções), fazendo-lhe perguntas do tipo: O que está acontecendo? O que acha da situação?
  • Mostre à pessoa que você gosta dela, de um modo não sentimental.Os gestos funcionam melhor que as palavras.

O Eneatipo SETE: O Epicurista, o bon-vivant

Eneatipo 7

Se você for do Eneatipo SETE. lembre-se:

  • De ouvir as pessoas: as opiniões e sentimentos delas podem ser tão verdadeiros quanto os seus.
  • Quando alguém lhe fizer confidências partilhando algum problema, pergunte se gostaria de alguma ajuda; não vá lhe dizendo o que poderia fazer.
  • De partilhar com os amigos como é dificil para você comentar suas emoções e o que é importante emocionalmente para você.
  • Diga às pessoas que é sensível a uma crítica, mesmo quando ela não é explicita, isto o deixa muito bravo. Peça-lhe para não levar para o lado pessoal.
  • A sua imaginação é muito fértil que é capaz de acreditar que falou uma coisa aos outros, quando não o fez. Confirme.
  • Antes de se por a agir porque mudou seus objetivos ou por em prática uma idéia melhor ou mais brilhante, avise as pessoas para dar-lhes a chance de cooperar com você, e para que não se sintam ignoradas.
  • Quando delegar uma tarefa a alguém — no trabalho ou em casa – e surgir uma idéia melhor para fazê-la, apresente-a à pessoa. Não se apresse em fazê-la sozinha.

Ao falar com uma pessoa do Eneatipo SETE lembre-se:

  • As pessoas deste Eneatipo tendem a divagar. Ajude-as a ficar no presente fazendo-lhes perguntas, inclusive sobre os seus sentimentos.
  • Tente deixá-la bem-humorada mantendo uma conversa animada.
  • Quando ela estiver falando de suas visões ouça-a e aprecie, pois ela está compartilhando uma parte do seu ser. Não tente anular suas idéias.
  • Se a idéia que vai lhe apresentar pode afetar os planos dela, dê-lhe algum tempo para incorporar suas observações, pois tenderá a resistir.
  • Ao dar-lhe uma idéia, apresente-a baseada em vantagens a curto e médio prazo do seu modo de fazer. Não critique nem dê instruções.
  • Quando for ajudá-la a enfrentar uma emoção dolorosa ou evasiva, seja firme, tenha fibra, e não leve para o lado pessoal se ela tentar colocá-lo como a pessoa errada. Simplesmente traga-a de volta ao assunto.

Eneatipo oito: O Chefe

Eneatipo 8

Se você for do Eneatipo OITO. lembre-se:

  • Que elevar a voz faz com que as pessoas parem de ouvir, e você pode falar mais alto do que imagina.  Quando achar que não o escutam não fique repetindo em voz mais alta, solicite à outra pessoa para ajudar a esclarecer, dizendo-lhe o que acha que entendeu do que você disse.
  • De esclarecer as pessoas que quando faz muitas perguntas, é porque deseja saber se entenderam e não para desagradá-las.
  • De ouvir as pessoas atentamente e refletir sobre o seu ponto de vista antes de dar-lhes uma resposta.
  • Nem todas as pessoas têm tantas respostas quanto você. Talvez seja melhor dar-lhes um tempo em vez de teimar em querer tudo para já.
  • Ao se sentir incomodado explique imediatamente. A pessoa pode não saber que você se incomodou.
  • De sua tendência de ser agressivo sem um motivo forte para isso. Ao agir assim, peça desculpas tão logo perceba.

Ao falar com uma pessoa do Eneatipo OITO, lembre-se:

  • Elas reagem negativamente a qualquer coisa parecida com manipulação.Procure dizer o que pensa, falando diretamente sem evitar assuntos.
  • Ao afirmar que fará algo, faça.
  • Se quiser que ela lhe dê atenção e ouça o que você tem a dizer numa discussão, mostre-lhe que entendeu o ponto de vista dela.
  • Muitas vezes a forma de manifestação delas é muito intensa e parece uma discussão ou agressão, quando é um modo agradável e seguro de se expressar. Por isso, diga-lhes se estiverem exagerando ou sendo demais para você, caso se sinta ameaçado.
  • Quando se sentir ferido em seus sentimentos avise-a: poderá ter feito sem querer.
  • Se você tem alguma regra não explicita sobre como quer que a relação se estabeleça, informe logo, e esteja disposto a discutir o assunto.
  • Ela reage rapidamente e tem dificuldade para perdoar caso se sinta humilhada. Portanto, não caçoe dela.
  • Evite mentiras, a menos que não se importe em ser atacado ou proscrito.

Eneatipo NOVE, O Mediador

Eneatipo 9

Se você for do Eneatipo NOVE. lembre-se:

  • Quando não souber o que quer ou sente, os outros poderão interpretar seu silêncio como rejeição. Por isso, fale como está se sentindo.
  • Demonstre sua opinião quando perceber que o seu silêncio é resistência passiva.
  • Ao ser interrogado se está com raiva, pense um pouco antes de responder.
  • Quando achar que não lhe deram ouvido, explique às pessoas antes de protestar longamente.
  • Demonstre sua raiva. Na maioria das vezes parecerá um pouco enérgico.
  • Atenha-se ao assunto, sempre que possível.
  • Ao ser interrogado procure descobrir o que a pessoa quer saber exatamente, para lhe dar uma resposta adequada.

Ao falar com uma pessoa do Eneatipo NOVE. lembre-se:

  • De prestar atenção e fazer com que perceba que você a ouviu.    
  • Demonstre que está acompanhando a conversa: elas costumam pensar que não lhe dão ouvidos ou a desprezam.
  • Ela parece estar muito presente nas conversas, mas podem estar se projetando e se refletindo no interlocutor. Portanto, faça perguntas para saber o que elas pensam.
  • Como é muito dispersiva, poderá ajudá-la a se concentrar fazendo-lhe perguntas.
  • Se quiser saber o que pensa e sente, não force as respostas, mas propicie uma área de interesse em que ela possa considerar e decidir: “Estive pensando, o que acha disso? Talvez concorde comigo: não sei, não, só estava pensando”.
  • Que ela poderá concordar com cada locutor enquanto eles estiverem falando, por isso numa reunião de negócios, antes que acabe, peça a sua opinião fazendo-lhe perguntas.

Pinturas de Ana Roldan

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7 atitudes que fortalecem sua saúde mental e corporal https://minasi.com.br/7atitudes/ https://minasi.com.br/7atitudes/#respond Fri, 19 Aug 2022 13:07:58 +0000 https://minasi.com.br/?p=2952

O Mindfulness se compõe de 7 atitudes básicas, identificadas por Kabat-Zinn: Não julgar, Paciência, Mente de Principiante, Confiança, Não forçar, Aceitação e Ceder. Estas atitudes encontram-se na maioria das tradições religiosas e espirituais e consistem um patrimônio da humanidade. São uma verdadeira medicina para os males da mente e do corpo.

Não julgar:

mãos que apontam e julgam

A atenção plena cultiva-se assumindo a postura de testemunhas imparciais de nossa própria existência. Fazer isso requer que tomemos consciência do constante fluxo de julgamentos e de reações a experiências tanto internas como externas nas que, pelo geral, vemos nós mesmos presos e onde aprendamos a sair delas. Quando começamos a praticar o prestar atenção à atividade de nossa própria mente, é comum que nos surpreenda o fato de nos dar conta de que constantemente geramos julgamentos sobre nossa experiência. A mente categoriza e rotula quase todo o que vemos. Reagimos a todo, o que experimentamos em termos de qual valor achamos que este fato ou esta coisa tem para nós. Algumas coisas, pessoas e acontecimentos são julgados como “bons” porque, por alguma razão, relacionam-se com que nos sintamos bem. Outros são condenados com a mesma celeridade, porque não achamos que tenham demasiada importância. As coisas, pessoas e acontecimentos neutros são quase dessintonizados por completo de nossa consciência. Por regra geral, não lhes concedemos atenção por considerá-los demasiado enfadonhos.

Este costume de categorizar e de julgar nossa experiência limita-nos a reações mecânicas, das que nem sequer nos damos conta e que, com frequência, carecem totalmente de base objetiva. Esses julgamentos têm tendência a dominar nossas mentes e nos dificultam de encontrar a paz em nosso interior. É como se a mente fosse um ioiô, subindo e baixando todo dia pelo barbante de nossas próprias ideias julgadoras. Se temos de achar uma forma mais eficaz de manejar o estresse de nossas vidas, o primeiro que precisaremos é tomar consciência desses julgamentos automáticos para ver através de nossos preconceitos e temores e nos libertar de sya tirania. Ao praticar a atenção plena, é importante reconhecer, quando faça sua aparição, esta qualidade mental julgadora, bem como assumir intencionadamente a postura de testemunha imparcial, recordando a nós mesmos que o único que temos que fazer é observar. Quando nos encontremos com que a mente julga, não devemos fazer com que deixe de fazêlo. Tudo o que precisamos é nos dar conta do que se sucede. Não há nenhuma necessidade de julgar os julgamentos e de complicar ainda mais as coisas.

Como exemplo, imaginemos que nos encontramos vigiando nossa respiração. Em um determinado momento, podemos dar conta de que nossa mente diz coisas como: “Isto é uma chateação”, ou “Isto não funciona”, ou “Não posso fazer isto”. Trata-se de julgamentos. Quando chegam à nossa mente, é da maior importância que os reconheçamos como pensamentos de julgamento e lembremos que a prática implica a suspensão de julgamentos e a mera observação de tudo o que acontece – que inclui nossos próprios pensamentos de julgamento – sem segui-lo ou agir sobre ela de qualquer maneira. Depois, podemos prosseguir com a observação de nossa respiração.

Paciência:

fishing man vacation people
Photo by Ron Lach on Pexels.com

A paciência é uma forma de sabedoria. Isso mostra que entendemos e aceitamos o fato de que, às vezes, as coisas têm que acontecer quando é a vez delas. Uma criança pode tentar ajudar, rompendo o casulo, fazendo com que uma borboleta saia, ainda que, por regra geral, a borboleta não resulte em nada beneficiada pelo esforço. Qualquer adulto sabe que a borboleta só pode sair ao exterior quando lhe chega o momento e que não pode ser acelerado o processo. Da mesma maneira, quando praticamos a atenção plena, cultivamos a paciência para nossa própria mente e nosso próprio corpo. De forma expressa, recordamos que não há necessidade alguma de nos impacientar com nós mesmos por achar que nossa mente passa o tempo todo julgando, ou que estejamos tensos, nervosos ou assustados, ou por ter praticado durante algum tempo sem aparentes resultados positivos. Temos que nos conceder um espaço para ter essas experiências. Por que? Porque de qualquer jeito vamos tê-las! Quando cheguem, constituirão nossa realidade, serão uma parte de nossa vida que se desenvolve nesse momento, de maneira que tratemos a nós mesmos pelo menos tão bem como trataríamos à borboleta. Por que passar de maneira corrida por alguns momentos de nossa vida para chegar a outros?, por que sacrificar o presente por um futuro que não sabemos se será melhor? Após tudo isso, cada um deles constitui nossa vida nesse instante.

Quando praticamos estar assim com nós mesmos, estamos destinados a encontrar que nossa mente possui “uma mente própria”. Uma das atividades favoritas da mente é vagar pelo passado e pelo futuro e perder-se no pensamento. Alguns de seus pensamentos são agradáveis; outros, dolorosos e geradores de intranquilidade. Seja qual for o caso, o mero fato de pensar exerce um forte alerta em nossa consciência. A maioria das vezes, nossos pensamentos atropelam nossa percepção do momento atual e fazem com que percamos nossa conexão com o presente. A paciência pode ser uma qualidade especialmente útil para invocá-la quando a mente está agitada e pode nos ajudar a aceitar o errático desta, recordando que não temos por que ser arrastados por suas viagens. A prática da paciência nos recorda que não temos que encher de atividade e ideias nossos momentos para que estes se enriqueçam. Na verdade, isso nos ajuda a recordar que o que é verdade é precisamente o contrário. Ter paciência consiste singelamente em estar totalmente aberto a cada momento, aceitando em sua plenitude e sabendo que, igual que no caso da borboleta, as coisas se descobrem quando lhes convém.

Mente de principiante:

A riqueza da experiência do momento presente não é mais do a riqueza da própria vida. Com demasiada frequência, permitimos que nossos pensamentos e crenças sobre o que “sabemos” nos impeça de ver as coisas como são. Para ver a riqueza do momento presente, precisamos cultivar ao que vem se denominando “mente de principiante” ou mente disposta a ver tudo como se fosse a primeira vez.

focused girl meditating while practicing yoga lotus pose
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Esta atitude terá importância especial quando pratiquemos as técnicas de meditação formal. Seja qual for a técnica que particularmente empreguemos, seja ela a exploração do corpo ou a meditação sentada do yoga, deveremos adotar a mente do principiante cada vez que pratiquemos, para assim nos ver livres das expectativas baseadas em experiências prévias. Uma mente aberta de “principiante” nos permite ser receptivos ao nosso potencial e nos impede de ficar presos na rotina de nossa própria experiência, que muitas vezes acredita que sabe mais do que sabe. Nenhum momento é igual a outro. A cada um deles é único e possui possibilidades únicas. A mente de principiante recorda-nos esta verdade tão singela.

Podemos tentar o experimento de cultivar nossa mente de principiante em nossa vida diária. A próxima vez que vejamos a alguém com quem estejamos familiarizados, devemos nos perguntemos se vemos a essas pessoas com olhos novos, como assim é, ou se só vemos o reflexo de nossas próprias ideias a respeito delas. Devemos tentar isso com nossos próprios filhos, com nossa esposa, nossos amigos e colegas do trabalho, ou com nosso cão ou gato. Devemos tentar com os problemas quando estes aflorem. Devemos tentar com a natureza quando formos sair ao exterior. Podemos ver o céu, as estrelas, as árvores, a água e as rochas como são nesse preciso momento e com uma mente limpa e ordenada, ou apenas podemos vê-los através do véu de nossas próprias ideias e opiniões?

Confiança:

O desenvolvimento de uma confiança básica em si mesmo e em seus sentimentos constitui uma parte fundamental deste programa. É muito melhor confiar em nossa intuição e em nossa própria autoridade, ainda que possamos cometer alguns “erros” no caminho, do que buscar sempre um guia fora de nós mesmos. Se em algum momento algo não nos parece bem, por que não seguir essa sensação? Por que temos de taxá-la de inútil porque alguma autoridade ou grupo de pessoas pensa de maneira diferente? Esta atitude de confiar em nós mesmos e em nossa sabedoria e bondade básicas é muito importante em todas as facetas da prática da meditação.

boy wearing orange shirt blowing on dandelion
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Algumas pessoas, que se veem envolvidas na meditação, observam-se tão enganchadas na reputação e autoridade de seus mestres, que não seguem seus próprios sentimentos nem sua intuição. Esta é uma atitude absolutamente oposta ao espírito da meditação, o qual ressalta o fato de que sejamos nós mesmos e que compreendamos o que isto significa. Quem quer que imite ao outro, seja este outro quem for, caminha em direção contrária.

É impossível converter-se em outro. Nossa única esperança reside em ser nós mesmos com mais plenitude. Esta é a razão, em primeiro lugar, para que pratiquemos a meditação. Os mestres, livros e fitas só podem ser guias, pontos indicadores. É de soma importância estar aberto e ser receptivo ao que possamos aprender de outras fontes, ainda que, em rigor, tenhamos que viver nossa própria vida e cada momento desta. Ao praticar a atenção plena, praticamos também a tomada de responsabilidade de ser nós mesmos e de aprender a escutar nosso próprio ser e a ter confiança nele. Quanto mais cultivemos esta confiança, mais fácil nos parecerá confiar em outras pessoas e ver também sua bondade básica.

Não forçar:

Quase todo o que fazemos, fazemos com uma finalidade: conseguir algo ou chegar a algum lugar. No entanto, esta atitude, na meditação, é diferente de qualquer outra atividade humana. Ainda que requeira muito trabalho e um verdadeiro tipo de energia, a verdade é que a meditação consiste em não fazer. Não há outro objetivo para nós sem ser que sejamos nós mesmos. A ironia é que encontra-se no que já o somos. Soa paradoxal e algo estanho. No entanto, este paradoxo e estranheza podem nos indicar o caminho para uma nova forma de ver a nós mesmos, uma forma na qual tentemos menos e sejamos mais, que nos chega expressamente mediante o cultivo da atitude de não nos esforçar.

man falling carton boxes with negative words
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Por exemplo, se nos sentamos e meditamos, pensamos: “Vou relaxar ou me iluminar ou controlarei minha dor ou vou me converter em uma pessoa melhor”, o que ocorre é que temos introduzido em nossa mente a noção de onde deveríamos estar, vindo com ela a ideia de que não estamos bem nesse momento. “Se me encontrasse mais tranquilo, ou fosse mais inteligente, ou trabalhasse com mais afinco ou mais isto ou aquilo, ou se meu coração funcionasse melhor, ou se meu joelho não doesse, estaria bem, mas, neste momento, não estou”. Essa atitude prejudica o cultivo da atenção plena, o que implica simplesmente prestar atenção ao que acontece. Se estamos tensos, prestemos atenção nessa tensão. Se algo nos dói, devemos sentir o melhor que possamos com nossa dor. Se nos tornamos objeto de nossa própria crítica, observemos a atividade da mente julgadora. Estejamos atentos. Devemos lembrar que só permitimos que estejam presentes qualquer coisa e todas as coisas que experimentemos de uma hora para outra porque já estão aqui.

Aceitação:

A aceitação significa ver as coisas como são no presente. Se temos uma dor de cabeça, devemos aceitar o que temos. Se temos alguns quilos a mais, por que não os aceitar como descrição de nosso corpo nesse momento? Antes ou depois, teremos que adaptar às coisas como são e aceitá-las. Seja acerca de um diagnóstico de câncer, bem como na morte de alguém. Frequentemente, só se atinge a aceitação após ter atravessado períodos de negação muito emotivos, e, a seguir, de raiva. Estas etapas constituem o avanço natural no processo de nos adaptar ao que seja e fazem parte do processo de cura.

crop black man showing pray gesture
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No entanto, deixando de lado por um instante as grandes calamidades que, em geral, absorvem tanto tempo no decorrer do nosso dia-a-dia antes da cura, muitas vezes desperdiçamos uma grande quantidade de energia negando o que já é um fato e resistindo a ele. Ao trabalhar assim, o que fazemos basicamente é tentar forçar as situações para que sejam como gostaríamos que fossem, o que só gera mais de tensão e, de fato, impede que se produzam mudanças positivas. Podemos estar tão ocupados negando, forçando e lutando que não nos sobrem energias para sanar e crescer, e que as poucas que nos restem possam ser desvanecidas por nossa falta de consciência e intenção.

Se temos excesso de peso e nosso corpo não nos agrada, de nada serve esperar até que tenhamos o peso que gostaríamos ter para começar a nos agradar com ele e assim que gostemos de nós mesmos. Em determinado momento, e se não queremos nos ver presos em um frustrante círculo vicioso, poderíamos nos dar conta de que é perfeitamente correto gostar do peso que temos nesse momento porque é o único instante em que podemos nos gostar. Recordemos: o agora é o único tempo com que contamos para o que seja. Temos que nos aceitar como somos antes de que possamos mudar. Quando começamos a pensar desta maneira, o fato de perder peso deixa de ter importância. Além disso, torna-se bem mais fácil. Mediante o cultivo intencionado da aceitação, criamos as condições prévias para a cura.

A aceitação não quer dizer que tenhamos que gostar todo, ou que tenhamos que adotar uma postura passiva para tudo e abandonar nossos princípios e valores. Não significa que estejamos satisfeitos com as coisas como elas são, ou que tenhamos resignados a tolerar as coisas como “tenham que ser”. Isso não implica que devamos cessar nossas tentativas de romper com nossos próprios hábitos autodestrutivos, ou desistir de nosso desejo de mudar e crescer, ou tolerar a injustiça, por exemplo, ou evitar em nos envolver em mudar o mundo ao nosso redor porque seja assim e, portanto, careça de esperança. A aceitação, como nós a vemos, quer dizer simplesmente que temos estamos à vontade de ver as coisas como são. Esta atitude prepara o cenário para que, aconteça o que for, possamos agir de forma adequada em nossa vida. Muito provavelmente somos nós mesmos que sabemos o que fazer e temos a convicção interior de agir quando temos uma visão clara do que acontece, em vez de quando a nossa visão é obscurecida pelos julgamentos e desejos autosserviçais da nossa mente ou por causa de seus medos e preconceitos.

Em a prática da meditação, cultivamos a aceitação tomando cada momento como nos chega e estando completos com ele como é. Tentamos não impor nossas ideias sobre o que devemos sentir, pensar ou ver em nossa experiência, mas apenas lembrar de ser receptivos e abertos ao que sentimos, pensamos, ou vemos e aceitamos, porque é aqui e agora. Se mantemos nossa atenção atenta ao presente, podemos estar seguros de uma coisa: de que seja o que tenhamos diante de nós neste momento, isso nos mudará e proporcionará a ocasião de praticar a aceitação com independência do que nos surgirá no momento seguinte. Está muito claro de que há sabedoria no cultivo da aceitação.

Ceder:

Dizem que na Índia existe uma forma muito inteligente de caçar macacos. Segundo contam, os caçadores recortam em um coco um buraco suficientemente grande para que o macaco possa introduzir sua mão. Depois, perfuram dois buracos menores no outro extremo e passam por eles um arame, cujo atam à base de uma árvore. O macaco desce da árvore, introduz sua mão no buraco e agarra a banana que os caçadores introduziram no coco. O buraco foi recortado de forma que a mão aberta do macaco possa passar por ele, ainda que não seu punho fechado. Tudo o que o macaco tem que fazer para se libertar é soltar a banana, ainda que parece que a maioria dos macacos não o faça.

Frequentemente, e apesar de toda nossa inteligência, nossas mentes desempenham comportamentos semelhantes, razão pelo que o cultivo da atitude de ceder ou da falta de apego é fundamental para a prática da atenção plena. Quando começamos a prestar atenção em nossa experiência interior, descobrimos imediatamente que existem certas ideias e sensações que dão a impressão de que a mente quer ser aderir. Se são agradáveis, tentamos prolongá-las, esticá-las e retorná-las continuamente. Existem, de igual modo, muitas ideias, sensações e experiências que tratamos de evitar, ou das que tentamos nos libertar ou nos proteger porque são desagradáveis, dolorosas e porque, de uma ou outra forma, nos dão medo.

Na prática da meditação, nós, de forma deliberada, deixamos de lado a tendência de engrandecer determinados aspectos de nossa experiência e a recusar outros. Em vez disso, o único que fazemos é deixar que nossa experiência seja ela mesma e praticar observando-a em cada momento. Ceder é uma forma de deixar que as coisas sejam como são e de aceitá-las assim. Quando observamos como nossa mente adere e se afasta, vamos nos lembrar de nos desligarmos expressamente desses impulsos, mesmo que seja apenas para ver o que acontece.

Quando nos vemos julgando nossa experiência, deixemos que essas ideias julgadoras se vão. Devemos reconhecê-las e não as perseguir mais. Devemos deixá-las em paz e, ao fazer isso, permitir que se vão. Do mesmo modo, quando nos vêm ideias do passado ou do futuro, que as deixemos em paz. Apenas devemos permanecer alertas. Podemos nos converter em especialistas de nossos próprios apegos, com independência de quais sejam e de suas consequências em nossas vidas, e no que se sente nesses momentos em que, por fim, cedemos, bem como, também, de quais são as consequências disso. O fato de estarmos dispostos a olhar para as formas em que nos apegamos mostra, no fundo, muita experiência no contrário, de uma forma que, quer tenhamos ou não sucesso em nos desfazer, a atenção continua a nos ensinar se estivermos dispostos a olhar. O se soltar ou desatar-se não constitui nenhuma experiência do outro mundo. Fazemos isso todas as noites ao ir dormir. Nos atiramos em uma superfície acolchoada, sem luzes, em um lugar tranquilo e deixamos que nossas mentes e corpos se deixem ir. Se não o fazemos, não poderemos dormir. A maioria de nós experimentamos que a mente muitas vezes não se cala quando nos deitamos. Este é um dos primeiros sinais de um elevado estresse. Em tais casos, podemos nos sentir incapazes de se libertar de certas ideias porque nosso envolvimento com elas é demasiado poderoso. Se nos forçamos a dormir, é pior ainda. Portanto, se podemos dormir, isso significa que já somos especialistas em nos desprender. O que agora nos falta é praticar, aplicando esta habilidade também a situações em que estejamos despertos.

Uma maneira de apreciar a importância das atitudes características de Mindfulness é considerar seus opostos. Imagine uma pessoa que constantemente está julgando, criticando e se queixando, que acha que já sabe tudo, é impaciente, nega a realidade e trata de controlar obsessivamente cada aspecto desta. Quais avanços você acha possível de fazer na aprendizagem de Mindfulness ou de qualquer outra habilidade com estas atitudes?

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Da família patriarcal para uma família em rede https://minasi.com.br/patriarcal/ https://minasi.com.br/patriarcal/#respond Tue, 05 Apr 2022 14:29:01 +0000 https://minasi.com.br/?p=2827

“Uma coisa certa na vida é que as crianças vão falhar, não há como ser diferente. Quando os pais, a família e a sociedade dizem o tempo todo que é preciso conseguir, conseguir, conseguir, massacram os filhos.” – Jean-Pierre Lebrun 

Nos últimos 30 anos, a ideia dos pais como senhores do destino dos filhos vem desabando progressivamente. As consequências disso não são necessariamente ruins, como explica o psicanalista belga Jean-Pierre Lebrun, uma das principais referências na Europa no estudo sobre mudanças nas relações entre pais e filhos. Mas, para tanto, é preciso aprender a negociar com os filhos mantendo a autoridade.

Em entrevista, Lebrun, um dos fundadores da Associação Lacaniana Internacional, fala sobre a educação atual frente à nova estrutura social, a da rede, em que os locais de exceção — as hierarquias dos pais, avós e professores — se desfizeram, dificultando ou até impossibilitando lições cruciais para os jovens: aprender a perder, a renunciar, a entrar em conflito com o outro, aprender a ter limites. Confira abaixo:

Por que os pais hoje têm tanta dificuldade de controlar seus filhos?
Jean-Pierre Lebrun: 
Isso é reflexo da perda de legitimidade. Até pouco tempo atrás, a sociedade era hierarquizada, de forma que havia sempre um único lugar de destaque. Ele podia ser ocupado por Deus ou pelo papa, pelo pai ou pelo chefe. Isso foi se desfazendo progressivamente, e o processo se acentuou nos últimos trinta anos.

Hoje, a organização social não está mais constituída como pirâmide, mas como rede. E, na rede, não existe mais esse lugar diferente, que era reconhecido espontaneamente como tal e que conferia autoridade aos pais. 

As dificuldades para impor limites se acentuaram, causando grande apreensão nas pessoas quanto ao futuro de seus filhos.

Existe uma fórmula para evitar que os filhos sigam por um caminho errado?
Jean-Pierre Lebrun: 
É preciso ensiná-los a falhar. Uma coisa certa na vida é que as crianças vão falhar, não há como ser diferente. Quando os pais, a família e a sociedade dizem o tempo todo que é preciso conseguir, conseguir, conseguir, massacram os filhos. É inescapável errar. Todo mundo, em algum momento, vai passar por isso. Aprender a lidar com o fracasso evita que ele se torne algo destrutivo.

Às vezes, é preciso lembrar coisas muito simples que as pessoas parecem ter esquecido completamente. Estamos como que dopados. Os pais sabem que as crianças não ficarão com eles a vida inteira, que não vão conseguir tudo o que sonharam, que vão estabelecer ligações sociais e afetivas que, por vezes, lhes farão mal, mas tentam agir como se não soubessem disso.

Hoje, os filhos se tornaram um indicador do sucesso dos pais. Isso é perigoso, porque cada um tem a sua vida. Não é justo que, além de carregarem o peso das próprias dificuldades, os filhos também tenham de suportar a angústia de falhar em relação à expectativa depositada neles.

Falando concretamente, como é possível ver essa diferença no comportamento das famílias?
Jean-Pierre Lebrun: 
A mudança é visível. Na Europa, por exemplo, quando um professor dá nota baixa a um aluno, é certo que os pais vão aparecer na escola no dia seguinte para reclamar com ele. Há 20 ou 30 anos, era o aluno que tinha de dar satisfações aos pais diante do professor. É uma completa inversão.

Posso citar outro exemplo. Desde sempre, quando levávamos os filhos pela primeira vez à escola, eles choravam. Hoje em dia, normalmente, são os pais que choram. A cena é comum. É como se esses pais tivessem continuado crianças.

Isso acontece porque eles não são capazes de se apresentar como a geração acima da dos filhos. É uma consequência desse novo arranjo social, em que os papeis estão organizados de forma mais horizontal.

Como o senhor avalia essa mudança? Esse novo arranjo é pior do que o anterior?
Jean-Pierre Lebrun: 
Hoje, os pais precisam discutir tudo, negociar o que antes eram ordens definitivas. E isso não é necessariamente algo negativo, desde que fique claro que, depois de negociar, discutir, trocar ideias, quem decide são os pais.

Essas mudanças na estrutura social podem influenciar em aspectos negativos como, por exemplo, o uso abusivo de drogas?
Jean-Pierre Lebrun: 
Não há uma relação automática. Os mecanismos pelos quais os indivíduos se tornam dependentes químicos são diversos e complexos. A psicanálise ajuda a identificar alguns deles.

Vou dar um exemplo. Manter uma criança em satisfação permanente, com sua chupeta na boca o tempo todo, fazendo por ela tudo o que ela pede, a impede de ser confrontada com a perda da satisfação completa. E isso vai ser determinante em sua formação.

Mas o que essa perda tem a ver com o fato de as pessoas enveredarem por um caminho autodestrutivo?
Jean-Pierre Lebrun: 
É uma anomalia no processo de humanização. Não nascemos humanos, nós nos tornamos. Isso ocorre quando aprendemos aquilo em que somos singulares entre todos os animais que habitam o planeta.

Somos os únicos animais capazes de falar. Não se trata apenas de aprender ortografia ou usar as palavras corretamente. Quando dominamos a faculdade da linguagem, adquirimos uma série de características muito especiais, como, por exemplo, a consciência de que somos mortais. Aprendemos a construir as pontes que levam a um entendimento superior do mundo e de nossa condição. Isso é o que nos diferencia e nos torna completamente humanos. Um desequilíbrio nesse processo pode ter consequências. É aí que entra a explicação psicanalítica para o ingresso no universo das drogas.

Aprender a falar, ou tornar-se humano, é algo que não ocorre espontaneamente. É uma reação a uma perda do estado permanente de satisfação completa com a qual somos confrontados na primeira infância.

Ou seja, o processo de humanização começa pelo entendimento de que jamais haverá a satisfação completa. É esse o curso saudável das coisas. Se os pais boicotam esse processo, podem estar cometendo um erro.

Com que consequências?
Jean-Pierre Lebrun: Isso faz com que estejamos cada vez menos preparados para lidar com o sofrimento da nossa condição humana. Há séculos que as drogas têm algo de paraíso artificial, como diz Baudelaire. Ou seja, uma forma de se refugiar da dor humana, da insatisfação.

As drogas sempre serviram para evitar o confronto com esse sofrimento. Quanto menos você está preparado a suportar as dificuldades, mais está inclinado a se evadir, a recorrer a substâncias, sejam as drogas ilícitas, sejam as medicamentosas, para limitar o sofrimento que vai se apresentar.

Com o desenvolvimento da farmacologia, essas substâncias se tornaram muito acessíveis. Isso pode criar distorções. É muito mais simples tomar uma Ritalina para não ser hiperativo do que fazer todo o trabalho de aprender a suportar a condição humana.

Quando criança, a pessoa já precisa ser confrontada com a condição humana da perda de satisfação. Dessa maneira, na idade adulta, sua relação com o fim de uma paixão amorosa, por exemplo, tem maiores chances de ocorrer de maneira mais aceitável e menos traumática. 

Por que as drogas têm apelo especial para os jovens?
Jean-Pierre Lebrun: 
Eles são mais sensíveis a esse fenômeno porque têm uma tendência espontânea a, quando se tornam adultos, serem novamente confrontados com as dificuldades da existência. É, de certa forma, a repetição daquilo que haviam vivenciado na infância, quando foram, ou deveriam ter sido, apresentados à ideia de perda da satisfação completa, de que não ficariam com a chupeta na boca a vida inteira, por exemplo.

Se, no ambiente em que esses jovens vivem, há uma abundância de produtos que funcionam como um meio de evitar essas dificuldades, eles mergulham de cabeça. Como também veem nisso certo caráter transgressivo, todas as condições estão dadas para que eles recorram às drogas.

Costuma-se atribuir o mau comportamento dos filhos à falta da estrutura familiar tradicional, como a que ocorre após uma separação. Qual a exata influência que isso pode ter?
Jean-Pierre Lebrun: Uma família organizada de forma aparentemente harmônica não necessariamente faz de um jovem uma pessoa capaz de conviver e suportar o sofrimento inerente à condição humana. Essa capacidade pode ser pequena em famílias aparentemente realizadas, com estrutura sólida. Assim como pode ser enorme em uma família conflituosa, dividida, conturbada.

Por isso, não se deve levar em conta apenas o aspecto exterior da família. O que vale é a capacidade dos pais de fazerem os filhos crescer. De incutir-lhes a verdadeira condição humana. Esse é o bom ambiente familiar, independentemente do desenho que a família tenha.

O melhor mesmo, então, é aceitar que a existência é sofrida?
Jean-Pierre Lebrun: O processo é mesmo muito mais complexo do que ocorre com outros animais. Um cão nasce cão e será assim para o resto da vida. Um tigre será sempre tigre.

Um humano, no entanto, precisa se tornar plenamente humano. É uma enorme diferença. Esse processo leva uns 20, 25 anos e está sujeito a percalços. Na Renascença, já se falava disso: não somos humanos, nós nos tornamos humanos.

Entrevista de Ronaldo Soares publicada na revista Fronteiras

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A mãe desnecessária https://minasi.com.br/desnecessaria/ https://minasi.com.br/desnecessaria/#respond Mon, 22 Nov 2021 21:16:12 +0000 https://minasi.com.br/2021/11/desnecessaria/

A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo.

Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase, e ela sempre me soou estranha.

Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha hercúlea, confesso.

Quando começo a esmorecer na luta para controlar a super-mãe que todas temos dentro de nós, lembro-me logo da frase, hoje absolutamente clara.

Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária.

Antes que alguma mãe apressada me acuse de desamor, explicarei o que significa isso:

Ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes,prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros… também.

A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical.

A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho.

Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida.

Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo.

O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado e o conforto nas horas difíceis.

Pai e mãe – solidários – criam filhos para serem livres. Esse é o maior desafio e a principal missão.

Ao aprendermos a ser “desnecessários”, nos transformamos em um porto seguro para quando eles decidirem atracar.


DÊ A QUEM VOCÊ AMA,
– Asas para voar…
– Raízes para voltar…
– Motivos para ficar… ”

Dalai Lama
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Quais as suas inteligências? https://minasi.com.br/inteligencias/ https://minasi.com.br/inteligencias/#respond Wed, 20 Oct 2021 14:20:00 +0000 https://minasi.com.br/?p=2557

As inteligências múltiplas de Gardner

O psicólogo Howard Gardner usou uma abordagem bem diferente do pensamento tradicional sobre a inteligência.

Gardner argumenta que, ao invés de perguntar “O quão inteligente você é?”, deveríamos fazer outra pergunta: “Como você é inteligente?”. Em resposta à última pergunta, Gardner desenvolveu uma teoria das inteligências múltiplas (Gardner, 1999).

Gardner argumenta que temos no mínimo oito formas diferentes de inteligência, cada uma relativamente independente das outras: musical, cinestésico-corporal, lógico-matemática, linguística, espacial, interpessoal, intrapessoal e naturalista. Na visão de Gardner, cada uma das inteligências múltiplas está ligada a um sistema independente no cérebro. Além disso, ele sugere que pode haver ainda mais tipos de inteligência, tais como inteligência existencial, que envolve identificar e pensar sobre as questões fundamentais da exis tência humana. O Dalai Lama pode exemplificar esse tipo de inteligência (Gardner, 1999).

Apesar de Gardner ilustrar sua concepção dos tipos específicos de inteligência com descrições de pessoas famosas, cada pessoa tem os mesmos oito tipos de inteligência – em diferentes graus. Além disso, apesar de os oito tipos básicos de inteligência estarem individualmente presentes, Gardner sugere que essas inteligências separadas não operam em isolamento. Normalmente, qualquer atividade engloba diversos tipos de inteligência em cooperação.

O conceito de inteligências múltiplas levou ao desenvolvimento de perguntas em testes de inteligência que podem ter mais de uma resposta correta; esses testes fornecem a oportunidade para que os avaliados demonstrem diferentes tipos de inteligência. Além disso, muitos educadores, abraçando o conceito das inteligências múltiplas, criaram currículos de sala de aula que buscam exigir diferentes aspectos da inteligência.

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6 maneiras de aumentar o pensamento crítico e a criatividade https://minasi.com.br/6-maneiras-de-aumentar-o-pensamento-critico-e-a-criatividade/ https://minasi.com.br/6-maneiras-de-aumentar-o-pensamento-critico-e-a-criatividade/#respond Mon, 18 Oct 2021 13:32:48 +0000 https://minasi.com.br/?p=2554

Pensadores críticos e criativos não nascem, eles são criados, de acordo com pesquisadores cognitivos. Considere, por exemplo, essas sugestões para aumentar o pensamento crítico e a criatividade:

  1. Redefina problemas.
    Podemos modificar limites e suposições ao reformular um problema, seja em um nível mais abstrato ou mais concreto.
  2. Use sub-objetivos.
    Ao desenvolver sub-objetivos, podemos dividir um problema em passos intermediários. Esse processo, conhecido como fracionamento, nos permite examinar cada parte em busca de novas possibilidades e abordagens, levando a uma solução nova para o problema como um todo.
  3. Adote uma perspectiva crítica.
    Ao invés de aceitar passivamente suposições ou argumentos, podemos avaliar materiais cuidadosamente, considerar suas implicações, credibilidade e relevância, e pensar sobre possíveis exceções e contradições.
  4. Considere o oposto.
    Ao considerar o oposto de um conceito que estamos buscando compreender, às vezes podemos fazer progresso. Por exemplo, para definir “boa saúde mental”, pode ser útil considerar o que “má saúde mental” significa.
  5. Pense de modo divergente.
    Em vez do uso mais comum e lógico de um objeto, considere como você poderia usá-lo se você estivesse proibido de utilizá-lo do jeito usual.
  6. Experimente várias soluções.
    Não tenha medo de usar diferentes rotas para encontrar soluções para problemas (verbais, matemáticas, gráficas e mesmo dramáticas). Por exemplo, tente pensar em tudo o que conseguir, não interessa quão louca ou bizarra pareça a princípio. Após ter criado uma lista de soluções malucas, reveja cada uma e tente pensar em formas de fazer o que inicialmente parecia ser impraticável em algo mais factível.

O pensamento divergente produz tipos diferentes e diversos de respostas, passo que o pensamento convergente produz tipos de respostas mais comuns.

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O aqui e o agora – notas encarnadas sobre a catástrofe https://minasi.com.br/o-aqui-e-o-agora/ https://minasi.com.br/o-aqui-e-o-agora/#respond Tue, 21 Apr 2020 14:10:37 +0000 https://minasi.com.br/?p=1935
Por Xavier Serrano Hortelano

A realidade pandêmica que estamos experimentando durante estes meses, independente das interpretações, é uma catástrofe internacional que trará consequências gravíssimas, em todos os níveis, como advertem alguns especialistas, que podem ser similares àquelas sofridas por uma guerra mundial.

As crises, tanto pessoais como sociais, assim como em qualquer catástrofe, chegam de surpresa. Por isso, em grande medida, estamos agora vivendo uma espécie de experiência onírica. Muitas das pessoas a quem atendo me dizem: “É como se estivesse em um sonho, ante o qual não consigo reagir”. Nossa percepção agora sofre uma certa alteração da consciência, porque a realidade social e cotidiana é, em grande medida, desconhecida. De modo que sofremos mudanças nos ritmos vitais, alterações no sono, sensações estranhas e uma vivência diferente da passagem do tempo.

É como se estivesse em um sonho, ante o qual não consigo reagir”.

E este sonho não é agradável, se assemelha mais a um pesadelo, onde nos encontramos com a vulnerabilidade e a morte, que são o que costumam acompanhar qualquer catástrofe. As pandemias, diferentes do resto, são catástrofes lentas, onde o estado de alarme, a tendência ao caos e ao pânico, vão mostrando-se e aumentando progressivamente.

Outros especialistas e enfoques psicológicos que também abordam e estudam o fenômeno do medo, como os sistêmicos, os cognitivistas ou os construtivistas, propõem que estas situações estimulam a criatividade, a emergência de valores tais quais a solidariedade e conduzem à busca por soluções. Em minha opinião, esta descrição pode ser atribuída à reação instintiva que é produzida na natureza, em geral, e nos mamíferos, em particular, mas, em muitas ocasiões, não é a que observamos no mamífero humano. No nosso caso, fomos perdendo o contato com o funcionamento instintivo, e somos movidos mais por padrões de conduta social estereotipada, governados pelo predomínio e especialização da razão, do pensamento cortical, devido, fundamentalmente à influência dada sociedade patriarcal na qual temos vivido durante séculos, que tem menosprezado o mundo do instintivo, dos afetos, da ternura, da sexualidade, das relações humanizadas, em pró de alcançar objetivos, da eficácia e da supremacia fálica do poder, o qual se reflete nas relações não saudáveis que se mantém nos ecossistemas essenciais (família e escola), muito distantes daqueles que permitem estabelecer atmosferas ecológicas, próximas do funcionamento natural do Vivo. Portanto, é preciso ter claro que se o medo conduz os mamíferos a uma solução, no ser humano, costuma levá-lo a uma encruzilhada.

Visto que é certo que, a nível conductual e de resposta social estamos longe de produzir respostas instintivas auto organizadas ou autopoiéticas-, segundo a definição de Humberto Maturana-, a nível biológico sim somos capazes de tê-las pois, ainda que, nas pandemias sofridas pelo ser humano ao longo da história muitas pessoas tenham falecido, nossa espécie logrou sobreviver. Podemos compreender melhor tal fato aplicando também a teoria da Ressonância Mórfica de Sheldrake, segundo a qual a espécie humana, como o resto das espécies, acumula o legado das respostas de sobrevivência de séculos, no terreno biológico. Cada vez que surge uma variável molecular, frente a qual a espécie não está acostumada, existe um período de vulnerabilidade onde ocorrem falecimentos, até que chega o período de auto organização imunitária, sem que tenham, necessariamente, existido vacinas ou soluções médicas prévias específicas.

É preciso ter claro que se o medo conduz os mamíferos a uma solução, no ser humano, costuma levá-lo a uma encruzilhada.

Neste sentido, recordo a frase de Daniel Defoe, em seu livro O ano da peste onde, em sua descrição romantizada de uma das pandemias históricas, relata: “A sociedade ficou perplexa quando perceberam que, se repente, sem nenhum medicamento novo, sem nenhuma intervenção diferente, as pessoas não apenas deixavam de morrer, senão que, também recuperavam-se e curavam-se. Nem sequer os médicos o pudessem explicar, porque era um feito Divino. Deus nos castigou e Deus agora nos perdoa”. Como não era possível existir outra explicação possível em meados do século XIX, tanto Defoe como a maioria o atribuíram a uma ação divina. O que é certo, em todas as pandemias, é que elas duram seu tempo. Hoje estamos melhor preparados, não apenas por alguns avanços médicos, como também porque os seres humanos estão melhor imunizados, como espécie, do que há séculos passados. Exceto em tribos isoladas, com pouco contato com a civilização, que são especialmente vulneráveis e poderão desaparecer se não forem tomadas medidas adequadas, coisa que já pode estar ocorrendo em lugares como a Amazônia, com a consequente tragédia e genocídio humano.

Podemos considerar a crise atual como uma catástrofe internacional, com uma base biológica, que durará um tempo e causará mortes. Os falecimentos dependerão, por sua vez, de duas variáveis:

  • A primeira, consequência da mutação biológica, fruto de uma natureza agredida a nível mundial, de uma Gaia maltratada por nossas ações destrutivas, que continuarão a gerar catástrofes geofísicas e biológicas. Talvez por isso o século XXI será o século das catástrofes “naturais”, enquanto o século XX foi o das bélicas.
  • A segunda, pela maior ou menor força biológica e psicossomática de cada pessoa, consequência tanto de sua predisposição congênita, como do distress sofrido ao longo de sua história pessoal, especialmente durante os primeiros anos de vida.
Gaia

Ambas coisas poderiam ser paliadas, erradicando fatores de risco de todo tipo no primeiro caso, e utilizando medidas preventivas nos ecossistemas essenciais (famílias, escolas, organizações…) como as que se plasmam no projeto que denominei em seu momento de Ecologia dos Sistemas Humanos.

Na presente ocasião, não irei valorar as decisões tomadas pelos governos frente à crise, mas sim valorarei as suas consequências. A imobilidade e o confinamento durante meses levará a uma recessão da economia e um sofrimento emocional e infraestrutural muito grande para milhões de pessoas, com consequências não apenas sociais e econômicas, como também psicossomáticas, que irão ocasionar condutas defensivas e patológicas. Nos encontraremos com reações muito distantes do funcionamento instintivo e natural como espécie que descrevi acima, e darão-se respostas baseadas no predomínio das, assim nomeadas por Wilhelm Reich, “pulsões secundárias culturais”, como o egoísmo, o individualismo, o sadismo, etc.

Tais pulsões tomam forma através de nosso Caráter, termo que este mesmo autor descreve como a couraça do ego. Ou seja, a soma de mecanismos de defesa organizados ao longo do nosso processo maturativo, em forma de traços de conduta rígidos, que formam parte de nossa personalidade. Entre eles, observamos traços compulsivos, fálicos, masoquistas ou histéricos.

É preciso aprender a navegar em um oceano de incerteza, através de arquipélagos de certezas”

Desta forma, durante o tempo do confinamento, irão tomando força tais atitudes caracteriais para fazer frente à crise e, no entanto, com o tempo tais atitudes podem ir desmoronando, dando lugar a reações mais profundas, consequência da Estrutura do caráter, ou seja, do padrão de organização essencial de cada pessoa:

  1. Reações impulsivas ou dissociativas, no caso da Estrutura Fronteiriça
  2. Cindidas pelo pânico, ou paranóicas-conspirativas-delirantes, no caso da Estrutura Psicótica
  3. Adaptativas, porém vivendo conflitos pessoais ou relacionais mais ou menos sérios, em função de seu traço de caráter imperante, no caso da Estrutura Neurótica.

O que pode refletir-se concretamente em condutas com rotinas compulsivas, emergências depressivas, vitimistas, de desesperação, evasivas-maníacas, de caos histriônico ou colocar-se como grande líder, salvador da humanidade.

Partido desta avaliação sistêmica e estrutural da situação atual, antes de propor as possíveis medidas de enfrentamento da crise e dos pós crise, devemos assumir que as consequências desta pandemia serão globais e imprevisíveis, a curto e médio prazo. Por isso, conforme escreveu Edgar Morin: “É preciso aprender a navegar em um oceano de incerteza, através de arquipélagos de certezas”. E, para nós, quais são estes arquipélagos? As leis gerais da Ecologia de Sistemas Humanos. Aplicando-as, poderemos navegar de forma mais segura e eficaz.

O ponto de partida que nos permitirá fazê-lo emerge da Teoria da Complexidade, do mencionado filósofo E. Morin, segundo a qual, para conhecer a realidade de um fenômeno, devemos detectar o maior número possível de variáveis que o fazem possível. Por isso, tampouco em esta crise será possível adotar posições baseadas em dar resposta a uma única variável. Como podemos observar em algumas posturas reativas, onde o Governo passa a ser a figura responsável por tudo que acontece; ou a postura de refugiar-se em ideações místicas, com cantos de sereia, pensando que tudo se irá solucionar pela força da natureza e que o ser humano vai mudar a partir de agora e tudo será diferente; nem, tampouco, a de fincar-se no mero pragmatismo mecanicista de pensar que tudo passa por soluções médicas e por uma vacina salvadora. A situação é complexa e, portanto, devemos buscar respostas que considerem as diversas variáveis que estão influindo nesta crise.

Navegar em um oceano de incerteza, através de arquipélagos de certezas

Podemos encontrar uma ajuda necessária para continuar este propósito adotando a posição aconselhada por W. Reich de “observação silenciosa, que nos lembra, por sua vez, um princípio da física quântica, segundo a qual as particularidades do observador passam a ser uma variável mais a ter em conta na observação de qualquer fenômeno que se investigue. Nesta observação silenciosa, como primeiro passo, o próprio observador deve perguntar-se o que está sentindo e como está experimentando o que observa, assim como em que condições se encontra.

Se o aplicamos à situação atual, não tem muito sentido propor alternativas ou resolver os problemas dos demais, se previamente não me detenho, encarando-me e perguntando-me: “Como estou vivendo e sofrendo esta crise terrível?… Que sensações estou experimentando?… Como me sinto durante a noite e durante o dia?… Como estou junto aos outros?… Mais irritado(a), mais deprimido(a), ansioso(a), sonho mais ou menos, durmo ou não?… Como experimento o passar do tempo, a ausência do encontro social?” Nesta auto observação aprenderei e poderei administrar melhor meus recursos.

Um segundo passo será a observação do exterior. Temos que ratar de observar, sem preconceitos, sem categorias nem interpretações. Evitando o que Reich advertia: “receberemos a pressão da interpretação mecanicista das coisas”. Neste caso, por parte daqueles que ficam pendentes na descrição do dano do vírus: as mortes diárias, as medidas a tomar para não contagiar-se, a crise econômica que supõe a pandemia… tudo o que, ao não ser adequadamente contextualizado, aumentará o medo coletivo à pandemia. Evidentemente, esta é uma parte da realidade, porém esquecem-se de dar informação de outras variáveis, como a lógica imunológica individual e social, ou a influência que tem o maltrato que realizamos à natureza no surgimento desta pandemia. Ao mesmo tempo em que se reconhece que este coronavírus, junto com o resto de milhões de outros vírus, formam parte da Biodiversidade, e como tal, tem uma função vital, que devemos investigar e compreender, para neutralizar de uma forma ecológica a pandemia, e prevenir outras possíveis vindouras, em lugar de apresentá-lo como um inimigo invisível que é preciso destruir e vencer. Para tanto, é necessário facilitar os recursos necessários para equipes especializadas e científicas que seguem estas linhas de pesquisa, como Máximo Sandín ou Patrick Forterre.

Wilhelm Reich

Por sua vez, outros refletem apenas parte da realidade, ao descrever e enfatizar as capacidades próprias dos humanos, aqueles que preconizam uma resposta idealizada do ser humano frente a esta crise, dizendo que seremos capazes de aproveitar para mudar, para sermos solidários e recuperar uma certa consciência cósmica que promova um futuro mais sustentável. Porém, não devemos esquecer que tais capacidades do ser humano estão reduzidas e limitadas pela couraça e estrutura caracterial de cada qual, de modo que, uma coisa é querer e outra é poder. E não podemos esquecer que a crise econômica e social será global, mundial, e provocará tensões e conflitos, de modo a colocar à prova nossa capacidade potencial de sermos mais humanos, frente ao pânico do indivíduo encouraçado.

A partir desta posição de Observação Silenciosa, uma vez que tenhamos realizado as duas tarefas descritas, teremos acesso a uma maior compreensão do fenômeno (a crise pandêmica), o qual nos permitirá desenhar uma adequada estratégia de intervenção.

Outras duas ferramentas que nos serão necessárias para avançar nesta viagem são a Teoria do estresse (sofrimento) de Hans Selye, e a Inibição da ação de Henry Laborit ao estresse (melhor dito, distresse) da catástrofe, é preciso somar o que levamos no nosso interior, resultado dos medos experimentados em nossa história. Ambos preconizam respostas patológicas psicossomáticas descritas por Selye, que se agravam ao não poderem reagir frente a frustração que nos produz o empobrecimento, a doença, a imobilidade ou a falta de acompanhamento no luto próximo, enquanto que as razões de Estado parecem justificar a realidade que estamos vivendo, somando às patologias anteriores aquelas produzidas pelas alterações neuro-hormonais descritas por Laborit.

Aplicando ambas teorias à nossa situação atual, devemos estar preparados e alertar ao coletivo sanitário do aumento considerável de reações orgânicas psicossomáticas agudas e de crises emocionais e psicopatológicas, quadros agudos de ansiedade, ataques de pânico, depressão, etc., que irão aparecendo conforme avance a crise e comece a paulatina recuperação. De momento, nosso sistema defensivo (couraça caracterial) está contendo os processos de adoecimento porque “sabe” que não receberá atenção, evade da percepção e evita sua emergência. Porém, quando se deem as condições, a emergência será virulenta e aguda. É uma dinâmica similar a de um acidente de trânsito. Em um primeiro momento, recuperamos toda a normalidade possível, porém progressivamente aparece o trauma e as consequências do impacto.

Da mesma forma, junto à emergência de patologias individuais, conflitos de casal ou crises familiares, fruto do distresse da catástrofe, temos que prepararmo-nos para a crise econômica de magnitudes pós bélicas. Por mais que os governos tentem neutralizar seus efeitos, estas se irão produzir, e como costuma ocorrer, os mais vulneráveis serão os mais afetados.

Previnir e preparar-se para enfrentar este porvir supõe aceitar e aplicar outra de nossas principais leis: o fato de que apenas com a cooperação e o apoio mútuo, frente à tendência do egoísmos sobrevivente, é possível conter e superar estas situações extremas. Aplicando a etnologia, faz mais de um século que uma figura libertária, Pior Kropotkin, o traduziu em seu livro magistral O apoio mútuo. Não se trata de “cooperativismo”, senão de somar esforços, capacidades pessoais e gerir funcionalmente os recursos coletivos, para conseguir objetivos comuns.

Somos nós que devemos tomar as rédeas da situação, começando a desenvolver relações baseadas no respeito, no reconhecimento de funções e na gestão de recursos a partir da autogestão

Não é uma tarefa fácil, porque ninguém nos ensinou, ao contrário, aprendemos a funcionar na direção contrária e, em alguns casos, nossas experiências nas relações pessoais e sociais foram tão destrutivas que nossa tendência é a de nos defendermos do Outro, porque deixamos de diferenciar entre “iguais” e “contrários”. O que leva a dinâmicas de evitação, fuga, inclusive de traição, tal como está representados na figura de Judas nos Evangélios, que W. Reich analisa junto de outros exemplos, dentro do que define como reações de peste emocional. Não apenas me refiro a reações individuais, como também aos movimentos corporativistas de grandes companhias, as quais aproveitarão esta situação de crise e morte, como fazem os abutres e os vermes. Inclusive, dão-se as condições para o ressurgimento de líderes fascistas, que com suas mentiras, suas difamações aos representantes democráticos e suas promessas de segurança e controle, enfeitiçam as massas necessitadas de bálsamos curativos, e surja tentativas de uma nova ordem autoritária internacional. Tampouco isto deve nos surpreender, mas devemos preparar-nos para evitar o máximo possível suas repercussões.

Também é certo que é mencionado e proposto, nos discursos políticos de muitos governantes e líderes sociais a necessidade da cooperação entre partidos e nações, frente à crise mundial que estamos vivendo. Porém, sabemos pela história, que este conceito de cooperação, infelizmente, quer dizer, melhor dito, uma colaboração para repartir-se o bolo de uma forma mais ou menos equitativa entre os poderosos, deixado migalhas ao resto. A solidariedade do poder se pode medir pelo número de interesses ocultos para aproveitar- se das circunstâncias, desenhando a forma de fazê-lo em cada nova situação. Podem perder algo, porém, mais tarde, recuperarão o perdido com “juros”.

Por esse motivo, devemos aceitar os limites das políticas governamentais, apesar de podermos apoiar as ações e propostas de alguns líderes de esquerda e representantes políticos em favor dos mais vulneráveis, como está acontecendo no Estado Espanhol. Conscientes, por sua vez, de que se encontrarão coibidos pelos vermes da direita e pelos partidos fascistas, que representam os poderes existentes e com a falta de apoio dos demais partidos que continuarão com suas demandas por sempre, sem adaptarem-se à nova realidade e à busca conjunta de soluções para a magnitude da crise e a catástrofe que estamos vivendo. Muitas vezes não lembramos nem aprendemos da história, e o mecanismo de “compulsão à repetição” que Freud descreveu em relação à neurose individual é contemplado na dinâmica social, tão bem descrita no livro de vanguarda de W. Reich: Psicologia de Massas do Fascismo.

Reich foi um dos que, em um momento pós-bélico, retoma esse princípio libertário de cooperação e o integra aos seus conhecimentos caracteroanalíticos, defendendo um movimento social de “democracia do trabalho”, de autogestão em pequenos espaços sociais (que posteriormente se chamarão sistemas e ecossistemas): família, escola, coletivos, organizações. Locais onde é possível e realista começar a estabelecer atmosferas mais ecológicas e implementar os princípios de apoio mútuo e solidariedade. Sabendo que é precisamente nesses sistemas essenciais que eles sempre procuram apoiar e influenciar os estados de poder, impondo seus próprios valores retrógrados e interessados. Mas como sabemos que isso pode acontecer, tentaremos mudá-lo, porque são nossos espaços reais, aqueles que podemos gerenciar e naqueles em que não temos presença ativa -organizações burocráticas, municipais ou governamentais-, participaremos indiretamente, por meio de reivindicações funcionais e votos úteis.

Somos nós que devemos tomar as rédeas da situação, começando a desenvolver relações baseadas no respeito, no reconhecimento de funções e na gestão de recursos a partir da autogestão. Não esperemos que nos entreguem de mão beijada. Não esperemos que o governo nos dê um salário, nos dê uma casa, nos pague o aluguel, porque isso poderá fazer por um mês, dois, com alguns milhares de pessoas, mas não com todos. Sejamos nós, com nosso trabalho e com nossos recursos e capacidades, que devemos sentirnos capazes de fazê-lo. Ao mesmo tempo que transmitimos conhecimentos e denunciamos as fraudes e a desinformação dos usurários e daquel@s que se escondem atrás das lentes das promessas que nos chegarão.

Quadro The Earthly Paradise
The Earthly Paradise

Superemos a crise com nossa unidade, a partir da igualdade, da liberdade e da fraternidade, palavras regadas em uma época com o sangue de muitos e muitas. E com a cooperação e a prática de dinâmicas criativas, ecológicas e de autogestão em nossos coletivos ecologistas internacionais, ao mesmo tempo que reivindicamos ações políticas e mudanças legais, e apoiamos propostas válidas de políticos honestos e confiáveis, sabendo que a trama do poder econômico empregará seus mecanismos para freá-las.

Assim, portanto, “sejamos realistas, peçamos o impossível”, como se reivindicava no movimento francês de Maio de 68. Para que? Para poder trabalhar pelo possível, a partir dos nossos limites e do nosso ritmo ir avançando para poder constuir aquilo que sim, podemos: tentemos estabelecer relações humanas e ecológicas com nossos iguais; com nossos cônjuges, com nossos filhos e filhas desde o princípio da vida; nos espaços escolares e em nossos coletivos cotidianos. Criemos meios para poder ir transformando nossa percepção embrutecida, nosso constrangimento emocional e nossa rigidez caracterial em Estruturas Humanas, e das gerações futuras, com o objetivo que recuperem nossa capacidade de Viver e formar parte da “trama do Vivo” (Fritjof Capra).

Façamo-lo, “encarnando a vitalidade”, conceito que de maneira minuciosa pesquisou e definiu o grande neurocientista Antonio Varela. Isto é, encarnemos as impressões, ideias, sensações que podem estar em nossas cabeças, que podem ser muito bonitas e poéticas, mas podem não passar de meras ideias. Encarnemo-as sentindo a força que possuem quando as integramos com nosso ser, com nossos afetos, nossa sexualidade, nossa criatividade e nossa capacidade de amar. E juntemos nossos corpos e nossos seres, em uma rede forte e segura, que estabeleça a matriz necessária onde poder avançar com nossas capacidades, possibilidades e contribuições pelo caminho que antes de nós forjaram aqueles que viveram, lutaram e inclusive morreram por ele: o caminho que leva à Utopia.

Tudo isto recorda-me as palavras do escritor Ernesto Sábato, plasmadas em seu requintado libro Antes do fim, publicado em 1999: “Apenas aqueles que sejam capazes de encarnar a Utopia, estarão aptos para o combate decisivo, o de recuperar o quanto de humanidade tenhamos perdido”.

Saúde e Força,

Xavier Serrano Hortelano
Psicólogo especialista em Psicologia Clínica. Psicoterapeuta caracteroanalítico. Exerce sua atividade clínica em Valência (Espanha) desde 1985. Diretor da Escuela Española de Terapia Reichiana (Es.Te.R.)
El Puig (Valencia), 15 de Abril de 2020

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2020 – a hora dos limites

por Genovino Ferri

1) Acabou o tempo para o estilo relacional atual

Acabou o tempo do estilo relacional da humanidade, atualmente dominante em nosso planeta, com seu fálico reativo, prevalência de traços de uma oralidade insatisfeita, cada vez mais borderline e narcísica. Produziu o colapso entrópico em que encontramos o Corpo Social Vivo de hoje.

Agora precisamos de outros padrões de características e outros estilos relacionais, com um modo diferente em nossa relação com o Mundo que não seja eu!

Os padrões agressivamente possessivos do “MEU”!, da falta de respeito pelo outro e pela negligência empática estão em crise e que, em uma escala maior (sistemas sociais complexos e vivos), produzem riquezas obtusas e “neoplásicas”. O padrão desta cegueira significa que eles são incapazes de visualizar toda o relacionamento com o Objeto, apenas observa as suas partes e devora-as.

Essa cegueira não permite que o Outro Sujeito seja sentido, polarizando demais por si mesmo, além do limiar, com uma fome insaciável.

O planeta está vivo e a biosfera, o lugar da entropia negativa (os 10 quilômetros acima de nós é onde a entropia diminui) e da fotossíntese (processo pelo qual a Vida na Terra se originou), pode ser comparado com um sistema termodinâmico fechado.

Na biosfera, o fluxo negentrópico contínuo permite a criação e manutenção do complexo, estruturas dissipativas abertas que são organismos vivos.

Um “Zé Ninguém”, que só existe há dois milhões de anos, que é “apenas agora” em termos de tempo em si, esperava poder brincar com os equilíbrios antigos. Felizmente, porém, a natureza também tem sabedoria e seus próprios limites inteligentes.

O “Limite Divino” foi atingido por alguns dos padrões de ação deste “Zé Ninguém” e eles estão desgastados! Outros estão aparecendo, facilitados pela marca catastrófica da Covid-19, o que significa que eles devem ser visto mais e mais.

2) Acabou o tempo da independência

Somos dependentes da biosfera e não somos outra coisa senão ela. Construir inteligentemente junto com os nossos em nossa biosfera pode, ou não, parecer uma ideia atraente, mas absolutamente deve ser feita!

“Dependência-interdependência” é um daqueles binômios com os quais devemos fazer as pazes, mantendo os limiares “normais” do seu espectro. Somente através dessas limitações é possível produzir entropia negativa, porque, acima ou abaixo, esses limites produziriam apenas entropia. Na realidade, seres vivos e biosfera são interdependentes.

Biosfera

Todos os seres vivos vivem no mesmo espaço, estão no mesmo campo e respiram a mesma atmosfera do planeta Terra. No momento, precisamos da inteligência de um homo sapiens sapiens e da capacidade de “inter-legere”, ou seja, ler interpretativamente, através das lentes da complexidade sobre nossa responsabilidade de respeitar o meio ambiente e todos os outros sistemas vivos. Em particular, devemos realmente levar em conta nossa responsabilidade de respeitar a própria Terra, da qual a Vida emerge. Isto é indispensável e será decisivo, antes de tudo para nós!

Não podemos continuar produzindo as mudanças climáticas que estão tornando nossa atmosfera cada vez mais tóxica e destruindo os habitats de tantas espécies vivas, que, como nós, são habitantes desse maravilhoso planeta.

Mudanças caóticas geralmente favorecem resultados imprevisíveis, mas neste caso certamente há uma alta probabilidade do “homo”, supostamente, “sapiens sapiens” perder-se mais e mais em seu papel na evolução.

A interdependência é um processo circular e tornar a biosfera cada vez mais tóxica produz efeitos negativos para todos os seres vivos, incluindo o homem, que hoje não tenho problemas em diagnosticar como tendo um “sistema imunológico deprimido”.

O termo “tóxico” também é infelizmente apropriado, porque a palavra “vírus” em si significa etimologicamente “toxina” ou “veneno”.

3) Acabou o tempo para a dopamina (DA) e o Complexo Reptiliano

Agora, o psiquiatra clínico em mim está pedindo para falar, tendo ouvido a palavra “deprimido”.

Em outras obras, descrevi o Corpo Social Vivo como sendo afetado por uma alarmada depressão mascarada pela aceleração.

Em termos simples e diretos, a dopamina (DA), que é o neuromediador responsável pela Ação, tornou-se hiper-ativada como resposta à depleção de serotonina (5HT), que é o neuromediador responsável por Afetividade.

Clinicamente, o medo está associado a um estado depressivo que aumenta os níveis de noradrenalina (NA), o neuromediador responsável pelo Alarme, que, por sua vez, completa a circularidade ao hiper-ativar o DA (dopamina).

Os três neuromediadores são interdependentes de maneira triangular, que deve ser respeitado. A aceleração dopaminérgica está além do limite. Alerta vermelho!

Os três cérebros também são interdependentes. A aceleração cognitiva pré-frontal (cérebro Neo-cortex) informa o status de alarme do “locus coeruleus” (cérebro do Complexo Reptiliano) e da amígdala, a área do cérebro que registra medo extremo. Isso é feito, de fato, ignorando o giro cingulado (cérebro límbico), que normalmente registra e modula relacionamentos afetivos.

Essa interação triádica do cérebro não está mais bem balanceada, produzindo uma dissociação cognitiva dos sentimentos, que favorece o domínio de padrões relacionais reptilianos, cada vez mais agressivos. Estes padrões, por si mesmos, informam e dominam a subjetividade e não são atenuados pela empatia e pela inteligência orbito frontal.

Os três cérebros são interdependentes. e eles representam outro triângulo a ser respeitado. O Reptiliano – O cérebro complexo, com seus padrões primitivos, não mantém relacionamentos – foi além do limite no seu “tudo o que é diferente de mim é um inimigo perigoso e deve ser atacado”. Alerta vermelho!

4) Acabou o tempo para a sociedade líquida

O tempo límbico, para sentir, foi violado – o tempo para os relacionamentos foi violado. Relacionamentos se definem como “com”, como “contato”, como “estar juntos” e foram sobrecarregados por uma quantidade infinita de comunicação que, não sendo relacional, não tem substância ao longo do tempo. Essas comunicações intermináveis ocorrem e começam a desaparecer instantaneamente, como emoções. Não são como sentimentos, que duram.

Não há mais o luxo da “memória” ou do “passado”, havendo apenas uma projeção superficial do futuro, que é, no entanto, dissociativo, agitado e além do limiar. Cega e evita qualquer presença consciente do aqui e agora. Em sua pressa, domina o Corpo Social, interrompendo e inibindo a organização da área torácica. O tórax, ao contrário, seria a principal localização corporal do sentimento e da empatia, mas é liquefeito pelas demandas além do limiar do tempo externo, que rouba a pessoa de seu próprio tempo interno.

A rede de contatos passou (em análise corporal) do quarto nível corporal relacional (tórax) para o primeiro nível corporal relacional (ocular). Sim, houve um aumento de informações, mas, sob aceleração, a rede se dissociou, incapaz de levar tempo para a “Inclusão”, para a “Escuta”, para o “Contar histórias” e para a “Respiração”, todas que tem ritmos mais “humanos”.

O tempo interno, que por ser um fluxo contínuo de energia, permite a estabilidade da identidade, foi interrompido. A solidão e o sentimento de perda surgiram e se tornaram muito mais difundidos à medida que os defeitos do estado da Oralidade insatisfeita do Corpo Social Vivo gritam a sua dor. As novas patologias, do vício às doenças auto-imunes e das doenças cardiovasculares a psiquiátricas estão se espalhando.

No colapso entrópico causado pelo auto-consumo, a sociedade líquida desesperadamente repropõe a si mesma, induzindo estados orais insatisfeitos e defeituosos em indivíduos com inúmeras necessidades e desejos incessantes e que estão em uma corrida compulsiva e precipitada em direção a mega-lucros e a quaisquer objetos associado a um “brilho do símbolo de status”. É um traço de cobertura efêmero, narcisista.

Não dá pra ser feito sem o Tórax!

A sociedade líquida ultrapassou seus limites. Alerta vermelho!

5) Acabou o tempo para a ausência do Tórax

O Onde, o como e o quando de uma patologia guia os pesquisadores e terapeutas em sua supervisão e em suas ações; esta informação permite-lhes perceber o sentido inteligente subjacente de cada condição.

O Tórax pode ser considerado um repositório de limites, fronteiras e de controle. Em termos psicológicos e corporais, o tempo do Tórax tem uma prevalência como nível relacional, na progressão normal dos estágios evolutivos sucessivamente dominantes de cada indivíduo, é a fase muscular. O Tórax parece, obviamente, indispensável tanto para melhorar a respiração e organizar a passagem do músculo liso para o estriado. O tórax é a base negentrópica necessária para lidar com o processo de individuação-separação da mãe, que representa um poderoso imã. O processo de deixar o seio e o olhar da mãe e mirar para cima, em direção a horizontes maiores e mais complexos, requer autonomia organizacional.

O Tóra , ou o quarto nível corporal, foi enfraquecido no Corpo Social Vivo pela modernidade liquefeita e é atualmente um nível corporal relacional muito vulnerável!

A perda, ou importância reduzida, de limites, de regras, do pai e da organização, todos que tem sido desmontados pelo aumento da velocidade do tempo, serve apenas para demonstrar as influências multifacetadas desse processo entrópico. O Corpo Social Vivo foi, em primeiro lugar, arrastado para uma liquidez incontinente da oralidade, depois mais abaixo na rarefação borderline e, hoje, está sem fôlego, sem ar e oxigênio. Esse sintoma testemunha o processo cíclico que a humanidade iniciou em nossa biosfera, como a toxicidade “chega em casa para pousar”.

Pneumonia intersticial, o potencial desenvolvimento clínico grave do COVID-19 é um fator indicativo muito preocupante. Não posso deixar de associá-lo a uma patologia torácica do Corpo Social Vivo. Isso é uma sintomatologia inesperada, causada por um vírus que selecionou precisamente esse habitat no corpo humano para replicar. O vírus não é bom nem ruim, mas certamente garantiria melhor sua própria sobrevivência em um hospedeiro com maior resistência – quando o terreno hospedeiro morre, o parasita geralmente também morre.

Onde – no Tórax; como – invisivelmente; quando – agora. Alerta vermelho!

6) Acabou o tempo para o Superego

O Superego não mora mais na família, mudou-se para a mídia. Isso pôs fim a muitas diferenças preciosas, vitais para garantir a riqueza da diversidade e causaram um aumento significativo na indiferença. O Superego foi contaminado pelo reativo fálico, pelos padrões da oralidade insatisfeita e pelo narcisismo borderline.

Hoje, morando na mídia, o Superego é imprudente, emocionalmente sem instrução, narcisista e exigente; exclui, é mono-direcional, não retribui e é perseguidor.

O Superego de hoje dita os ritmos e a velocidade do tempo externo e (como afirmei em uma entrevista em 2005) está roubando tempo dos relacionamentos, do sistema límbico e da Afetividade. Nós temos uma geração de pais deslocados e impotentes e uma de filhos perdidos, sozinhos, assustados e impulsivos.

De fato, esvaziando a família e rompendo a rede circular que conectava e permitia o “Campo Familiar” com sua própria atmosfera e seus próprios valores delimitados. O novo Superego redireciona os vetores motivacionais para fora da família, em direção a outros objetos a serem desejados e outros pacotes de valores contaminados pelos padrões de traços atualmente dominantes para os quais, Ter é que define o Ser.

O Id, um polo pulsante da personalidade, há milhões de anos, tendo um intenso debate com o Superego, o outro polo, que atesta e censura a personalidade. Quando não está além do limite, essa interação contrabalançada permite, para citar o pai da psicanálise, um ego “normalmente neurótico”, representando uma terceira posição relativamente autônoma, informada pelos dois poderosos imãs polares, entre os quais ele pode se mover. O Id hoje, não tem mais um interlocutor capaz de contê-lo e o ego está perdido, experimentando quase exclusivamente uma poderosa atração narcísica primária.

Permita-me expressar um paradoxo – o Id ultrapassou seus limites – está além do limite. Alerta vermelho!

7) Acabou o tempo da onipotência

E agora, uma cena curiosa, embora dramática. A reunião, neste planeta, do vírus e do homo sapiens sapiens…

Não é sequer certo que o vírus possa ser incluído entre os verdadeiros seres vivos, pois é incapaz de sobreviver autonomamente, incapaz de converter alimentos e é obrigado ao parasitismo, incapaz de se reproduzir sozinho. É o menor e, estruturalmente, um ser muito simples. O homem é o maior, estruturalmente altamente complexo e mil passos negentrópicos evolutivos além…

No entanto, o ser maior sucumbe e pula protetoramente para se fechar em casa!

Outros binômios vêm à mente – dentro e fora, o invisível e o visível, simplicidade e complexidade, micro e macro, distância e contato, individual e compartilhado. No entanto, uma comparação se destaca como sendo extremamente dramático – onipotência e impotência.

O limite nos torna potentes; sua ausência nos torna onipotentes; seu excesso nos torna impotentes.

Como fazemos as pazes com a inteligência funcional dos Limites Divinos? Como trazemos a evolução, a conexão com outros sistemas vivos, a biosfera e o planeta vivo dentro de limites normais, de modo que eles não estejam além do limiar? Como nos mantemos vivos e em contato com os limites inteligentes da vida?

Ao voltar a entrar em nosso Lar e a re-habitar em nosso próprio Tórax … Temos a oportunidade de voltar a um ambiente protegido e redescobrir o reflexo de um campo que conta nossa própria história, tem nossa própria atmosfera para respirar de volta e nossas próprias identidades para animar novamente … É uma oportunidade de ter um novo relacionamento com o exterior, que pode ser co-construtivo, humano e, como tal, inteligente.

Voltar a entrar em nossas casas e re-habitar nossos próprios peitos é uma oportunidade de reconectar coração e mente e redescobrir uma senha extraordinária e revitalizante – Humildade!

A humildade nos permite tornar-nos mais inteligentes e mais potentes; permite um novo relacionamento, entre alturas e profundidades maiores que o Eu, e isso nos permite atravessar, para cima e para baixo, o que este rígido e arrogante pescoço tem causado por onipotência ferida, pescoço castrado estabelecido por impotência acentuada.

Acabou o tempo! Alerta vermelho!

Autor: Genovino Ferri. Publicado no site Somatic Psycotherapy Today Tradução livre.

Referências

  • Bauman, Z. (2003). Modernità Liquida. Bari, Itália, Laterza Ed.
  • Bertalanffy, LV (1971). Teoria generali dei Sistemi. Turim, Itália. Isedi Ed.
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